São Paulo, quinta-feira, 09 de novembro de 2000

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VIZINHO EM CRISE
Rumor era que Machinea divulgaria nova série de medidas econômicas; Bolsa cai 2,11% e FRB recua 1,5%
Boataria derruba mercado argentino

JOSÉ ALAN DIAS
DE BUENOS AIRES

A fragilizada economia da Argentina sofreu com outro dia de rumores e informações desencontradas no mercado e de desmentidos por parte do governo.
Entre os rumores que circularam ontem estava o de que o ministro da Economia, José Luis Machinea, aproveitaria a participação hoje à noite em um seminário com empresários em Mar del Plata (sul do país) para apresentar uma nova série de medidas econômicas. A informação foi desmentida pelo Ministério da Economia. De acordo com assessores, Machinea apenas conversará sobre o pacote anunciado 20 dias atrás, que previa cortes de impostos tentando estimular investimentos no setor produtivo.
A onda de rumores fez com que com os FRB, os mais importantes títulos da dívida Argentina, recuassem 1,5%. A Bolsa de Buenos Aires também acusou o golpe: o índice Merval fechou em baixa de 2,11%. O grau de nervosismo pode ser expressado pela taxa de risco do país, que subiu 53 pontos, atingindo 990 pontos básicos, o mais alto índice do ano.
A reação ocorreu um dia depois de o governo ter aceitado pagar taxas entre 13% e 16%, outro recorde em 2000, para repassar a bancos que operam no país US$ 1,1 bilhão em Letras do Tesouro Nacional. Os papéis com vencimento em 91 dias, por exemplo, foram negociados com taxa de 13% ao ano enquanto que, duas semanas antes, em operação semelhante, o mercado exigira 9,25% de remuneração.
Outro dos rumores que circularam era que o governo estaria negociando junto a órgãos internacionais, entre os quais o FMI, o Banco Interamericano de Desenvolvimento, e até mesmo o Tesouro dos EUA, um empréstimo de, no mínimo, US$ 12 bilhões, que serviria para o país não precisar por algum tempo recorrer a operações com bancos privados.
As especulações sobre o empréstimo já existem há cerca de duas semanas, mas o ingrediente novo é o aumento substancial no valor inicialmente previsto -entre US$ 7 bilhões e US$ 9 bilhões. As negociações teriam até prazo para a conclusão: 20 de janeiro, quando o novo presidente dos EUA tomará posse.
No próximo ano, a Argentina precisará financiar US$ 19 bilhões para cumprir com suas obrigações junto a credores.
Até mesmo uma prestigiada rede de TV, especializada em noticiário econômico, aderiu à boataria e informou que haveria troca de gabinete: o ministro da Defesa, Ricardo López Murphy, assumiria o cargo de Machinea antes de dezembro. O governo da Argentina, mais uma vez, negou.


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