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Ativos da BRA não cobrem suas dívidas
Chega a US$ 100 milhões o que a empresa deve a bancos e fornecedores, enquanto ativos não passam de R$ 10 milhões
Já passagens vendidas e que não poderão ser usadas chegam a R$ 22 mi; sindicatos pedem bloqueio de bens à Justiça
MAELI PRADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Balanço da BRA entregue à
Anac (Agência Nacional de
Aviação Civil) mostra que no final de 2005 a companhia tinha
um ativo permanente de R$ 9,7
milhões, valor muito inferior às
suas dívidas. Trabalhadores entraram ontem e anteontem
com ações pedindo o bloqueio
de bens da companhia aérea
para garantir que sejam pagos.
Segundo fontes da empresa
ouvidas pela Folha, hoje o valor dos ativos permanentes da
companhia não passa de R$ 10
milhões. A BRA tem uma dívida com bancos e fornecedores
que soma cerca de US$ 100 milhões e 70 mil passagens vendidas até março no valor de R$ 22
milhões. Se as demissões dos
1.100 funcionários forem efetuadas, a empresa terá que pagar cerca de R$ 7 milhões.
O diretor da BRA Danilo
Amaral afirmou à Folha que,
se não conseguir novo aporte
financeiro, a empresa irá avaliar a possibilidade de entrar
em recuperação judicial.
A companhia aérea tinha um
contrato de seis meses com a
consultoria americana Alvarez
& Marsal, que já cuidou da
reestruturação de companhias
aéreas como a US Airways e a
Aeroméxico, mas ele venceu na
semana passada.
Os consultores, entretanto,
continuam se reunindo com
representantes da empresa aérea para analisar a sua situação
financeira. "Vamos avaliar essa
possibilidade [de recuperação
judicial] se não tivermos caixa", afirmou Amaral.
Sem conseguir capital de giro
(os fundos de investimento que
aportaram dinheiro na BRA
em 2006 se recusam a fazer novo aporte), a companhia pediu
a suspensão de suas operações
à Anac na última terça.
Desde então, vem enfrentando outros problemas: uma empresa de leasing já entrou com
uma ação na Justiça dos EUA
cobrando parcelas atrasadas de
aviões e pode entrar com pedido de arresto das aeronaves.
Toda a frota da empresa, de
dez aviões, é alugada. Segundo
a Folha apurou, os imóveis
usados pela companhia também são alugados. Em geral, o
valor dos ativos permanentes
de companhias aéreas é baixo,
já que é comum a frota ser
composta de aviões alugados.
A BRA, que em setembro
possuía 4,6% dos vôos domésticos, fazia 26 rotas nacionais e
3 internacionais.
Atualmente, a BRA sonda
fundos de investimento na tentativa de encontrar um novo
interessado em capitalizar a
empresa. A avaliação de especialistas é que a companhia dificilmente voltará a operar.
Bloqueio
Anteontem, o Simarj (Sindicato dos Trabalhadores nas
Empresas de Transporte Aéreo
do Município do Rio de Janeiro) entrou com uma ação civil
pública no Tribunal Regional
da 2ª Região pedindo o bloqueio da conta corrente da
companhia, das suas aplicações
financeiras e de bens que se encontram nos aeroportos Santos
Dumont e Tom Jobim, no Rio.
A BRA deu aviso prévio para
1.100 funcionários, e o objetivo
da ação é garantir o pagamento.
Ontem, a FNTTA (Federação
Nacional dos Trabalhadores
em Transporte Aéreo) também
ingressou com uma medida
cautelar pedindo o bloqueio de
contas da BRA, das filiais da
empresa e também dos bens
dos administradores da companhia. "Chegou ao nosso conhecimento que a companhia tinha
dez aviões, seis deles em leasing
e quatro sob o domínio da
BRA", afirma Mário Caliano,
advogado dos sindicalistas.
Amaral nega que os quatro
aviões sejam da BRA. "Os funcionários vão receber. Estamos
focados em arranjar mais dinheiro para a companhia sobreviver. Esse tipo de ação só
piora a situação", afirmou.
"Nós acreditávamos que iria
haver demissões, mas não nesse nível. E ninguém achava que
ela ia pedir suspensão de rotas.
É hipotético, mas acreditamos
que possa ter sido uma manobra para pressionar o governo e
os fundos para que ajudem a
companhia", disse o presidente
da FNTTA, Uébio José da Silva.
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