São Paulo, domingo, 09 de novembro de 2008

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Recursos contra a crise já estavam previstos ou são remanejamento

Quase 63% do montante para ajudar empresas não terá impacto no caixa do Tesouro

LEANDRA PERES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A maior parte das medidas anunciadas pelo governo para socorrer setores econômicos considerados importantes para o crescimento faz parte de um remanejamento de recursos ou verbas que seriam liberadas mesmo sem a crise.
Levantamento feito pela Folha a partir de dados oficiais mostra que cerca de R$ 53 bilhões, ou quase 63% dos recursos anunciados, estão nesta categoria. Outros R$ 31 bilhões representam recursos que não eram anteriormente aplicados em crédito. Esses valores não incluem o dinheiro liberado pelo Banco Central para ajudar os bancos pequenos em dificuldade nem as linhas de crédito para exportação.
Entre as medidas que o governo procura anunciar como novidades, está a mudança no prazo de recolhimento dos tributos. Os R$ 21 bilhões que o governo afirma que ficarão com as empresas implicam apenas um remanejamento no fluxo de receitas. Não há qualquer impacto para o caixa do Tesouro ou recursos adicionais sendo injetados na economia. Para as empresas, o ganho se limita a dez dias.
Também é contabilizada pelo governo entre as medidas para reduzir o impacto da crise a antecipação de empréstimos feitos pelo Banco do Brasil para financiar a safra agrícola. O dinheiro já estava previsto para ser liberado em 2009.
Nesse caso, porém, a equipe econômica compensou o gasto com a liberação de novos recursos. O percentual de aplicação obrigatória dos bancos em crédito agrícola subiu de 25% para 30% dos depósitos à vista captados pelas instituições financeiras. A medida significou recursos adicionais de R$ 5,5 bilhões (veja quadro acima).
Há ainda decisões que foram anunciadas, mas não têm estimativa de impacto ou data para entrar em vigor. É o caso, por exemplo, da devolução dos créditos tributários das empresas. O secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, argumenta que não é possível classificar o impacto das medidas do governo levando em conta apenas a sua capacidade de injetar recursos novos na economia. "Adotamos medidas emergenciais e de curto prazo cujo objetivo é completar um ciclo econômico que já estava em andamento quando a crise se tornou mais aguda", afirma.
Júlio Sérgio Gomes de Almeida, consultor do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), avalia que as medidas ajudam setores beneficiados, mas não têm força para manter o crescimento da economia. "O governo está fazendo muito varejo e pouco atacado. São medidas de pouco alcance. A preocupação principal deveria ser em fazer o crédito chegar à ponta, às empresas que estão sem financiamento. Sem isso, o governo corre o risco de não ter uma visão geral da crise", afirma.
A capacidade de o governo sustentar a economia com medidas setoriais também é questionada por Joel Bogdanski, economista do Banco Itaú. "Se há fatores estruturais que vão deprimir o crescimento, [as medidas anunciadas] até adiam o problema, mas não mudam o cenário", afirma.


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