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Recursos contra a crise já estavam previstos ou são remanejamento
Quase 63% do montante para ajudar empresas não terá impacto no caixa do Tesouro
LEANDRA PERES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A maior parte das medidas
anunciadas pelo governo para
socorrer setores econômicos
considerados importantes para
o crescimento faz parte de um
remanejamento de recursos ou
verbas que seriam liberadas
mesmo sem a crise.
Levantamento feito pela Folha a partir de dados oficiais
mostra que cerca de R$ 53 bilhões, ou quase 63% dos recursos anunciados, estão nesta categoria. Outros R$ 31 bilhões
representam recursos que não
eram anteriormente aplicados
em crédito. Esses valores não
incluem o dinheiro liberado pelo Banco Central para ajudar os
bancos pequenos em dificuldade nem as linhas de crédito para exportação.
Entre as medidas que o governo procura anunciar como
novidades, está a mudança no
prazo de recolhimento dos tributos. Os R$ 21 bilhões que o
governo afirma que ficarão
com as empresas implicam
apenas um remanejamento no
fluxo de receitas. Não há qualquer impacto para o caixa do
Tesouro ou recursos adicionais
sendo injetados na economia.
Para as empresas, o ganho se limita a dez dias.
Também é contabilizada pelo governo entre as medidas para reduzir o impacto da crise a
antecipação de empréstimos
feitos pelo Banco do Brasil para
financiar a safra agrícola. O dinheiro já estava previsto para
ser liberado em 2009.
Nesse caso, porém, a equipe
econômica compensou o gasto
com a liberação de novos recursos. O percentual de aplicação
obrigatória dos bancos em crédito agrícola subiu de 25% para
30% dos depósitos à vista captados pelas instituições financeiras. A medida significou recursos adicionais de R$ 5,5 bilhões (veja quadro acima).
Há ainda decisões que foram
anunciadas, mas não têm estimativa de impacto ou data para
entrar em vigor. É o caso, por
exemplo, da devolução dos créditos tributários das empresas.
O secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda,
Nelson Barbosa, argumenta
que não é possível classificar o
impacto das medidas do governo levando em conta apenas a
sua capacidade de injetar recursos novos na economia.
"Adotamos medidas emergenciais e de curto prazo cujo objetivo é completar um ciclo econômico que já estava em andamento quando a crise se tornou
mais aguda", afirma.
Júlio Sérgio Gomes de Almeida, consultor do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), avalia
que as medidas ajudam setores
beneficiados, mas não têm força para manter o crescimento
da economia. "O governo está
fazendo muito varejo e pouco
atacado. São medidas de pouco
alcance. A preocupação principal deveria ser em fazer o crédito chegar à ponta, às empresas
que estão sem financiamento.
Sem isso, o governo corre o risco de não ter uma visão geral da
crise", afirma.
A capacidade de o governo
sustentar a economia com medidas setoriais também é questionada por Joel Bogdanski,
economista do Banco Itaú. "Se
há fatores estruturais que vão
deprimir o crescimento, [as
medidas anunciadas] até adiam
o problema, mas não mudam o
cenário", afirma.
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