São Paulo, domingo, 09 de novembro de 2008
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VINICIUS TORRES FREIRE A geração Obama no Brasil
BARACK OBAMA , 47, iniciou a vida adulta nos anos da restauração conservadora. Saiu da faculdade em 1983 e entraria na escola de direito de Harvard em 1988. Definir gerações é arbitrário, mas alguns arbítrios fazem sentido. Em 1978, Karol Wojtyla tornou-se o papa. Em 1979, Thatcher tornou-se primeira-ministra do Reino Unido. Reagan tomou posse em 1981. Mitterrand assumiu na França em 1981 com o programa comum da esquerda francesa: estatais, salário mínimo maior, férias de cinco semanas etc. Fracasso. Em 1983, deu para trás. Em 1984-85, Thatcher peitou a greve dos mineiros, que ficaram a ver navios e foram chamados de "inimigo interno" e de "perigo para a liberdade" pela primeira-ministra. O período não foi de restauração conservadora devido à derrota da esquerda decrépita ou à vitória liberal, mas porque então disseminou-se o cinismo político e entrou em coma a idéia de políticas alternativas. O que sobreveio à restauração no centro do mundo foi a gestão do status quo, com o verniz da terceira via (Clinton, Blair). No Brasil, reforma liberal e terceira via chegaram no mesmo pacote, aberto por FHC. Sob Lula, a história de décadas de degradação da esquerda foi vivida em ritmo acelerado -o mal que o PT fez à esquerda vai durar uma geração, se não for definitivo. Do outro lado, sobrou José Serra, além do "choque de gestão", a turma da despolitização terminal. Este também pode vir a ser o caso de Obama e de sua "mudança" até agora abstrata. A comparação soa a disparate, de tão desproporcional, mas da idade de Obama no Brasil temos Aécio Neves, 48. Nada a ver, claro. Mas Aécio é típico. Sim, entre os adeptos da ideologia do "choque de gestão" e/ ou faltos de substância política há o mais idoso Geraldo Alckmin, 56. Mas há Gilberto Kassab, Eduardo Paes e variantes mais tropicais, digamos, como Sérgio Cabral, 45. O grosso da geração de 45-55 anos preenche o vácuo dos políticos do pós-ditadura com a vacuidade de suas almas políticas e intelectuais. Mas os representantes autênticos da classe são mesmo Alckmin e Aécio. Alckmin, a encarnação diáfana do espírito gerencial, foi tão longe na rejeição dos predicados políticos que acabou por rejeitar seu próprio programa gerencialista em 2006. Aécio emerge vez e outra na cena política nacional só para cutucar Serra. Não se sabe o que pensa além de "gestão". Na semana que passou, criticou Lula e "tudo isso que está aí". Como há vasta porcaria no governo Lula, dizer tal coisa é fácil. Mas Aécio vai se opor, digamos, a mais gastos com Previdência e bolsas? Vai tocar reformas que Lula abafou, como a trabalhista? De quem cobrará mais ou menos impostos? O que fará da educação além de pregar "todos pela qualidade", essa inanidade? O que fará com o BC? Se Aécio e Alckmin, têm mais destaque, não são melhores seus companheiros de geração. Política? Ouve-se apenas se fulano será vice, se "espera a fila andar" (a vez de almejar o Planalto), se leva o DEM, se vai com o PMDB, se sai do PSDB etc. Obama ao menos criou um princípio de esperança, aspiração que no entanto vai tragá-lo se não for satisfeita: é refém do seu jeitão profético. A nossa classe de 45-55, porém, não promete nada. vinit@uol.com.br
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