São Paulo, domingo, 09 de novembro de 2008

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ROGER AGNELLI

É hora de agir


O Brasil é forte e grande; precisamos ser confiantes e encarar a crise como uma oportunidade, agindo

TENHO VIAJADO muito nas últimas semanas. Neste momento difícil, de incertezas e de insegurança, observo nos países desenvolvidos uma atitude depressiva.
Psicologicamente, as pessoas estão chocadas e abaladas. A crise atual, no entanto, surge após um longo período de seis anos de crescimento expressivo da economia mundial.
Nessa fase de progresso, as empresas modernizaram-se e investiram muito para atender a uma demanda que não parava de crescer. Como conseqüência da evolução do consumo e dos preços, conseguiram acumular capital.
Agora, chegou a hora de reduzir custos, de eliminar gorduras acumuladas na época de expansão e de ajustar a produção adequando a oferta à demanda. Não podemos, entretanto, deixar de investir, pois, em minha opinião, a turbulência não terá uma longa duração e, como o Brasil está muito bem, precisamos nos preparar para o momento de retomada da estabilidade financeira e econômica. O país está bem posicionado no ranking das principais economias mundiais. Ocupa a décima posição e, se nossas empresas e o governo agirem, pode sair da crise como a nona maior economia.
Fizemos e estamos fazendo nosso dever de casa. A economia vai bem, a inflação está sob controle, nossas instituições financeiras são sólidas e nossas reservas cambiais, significativas. Várias empresas brasileiras são hoje importantes "players" no cenário mundial. Somos os maiores produtores de minério de ferro, de suco de laranja, de café, de carne bovina e de frango; somos um dos principais produtores de soja, de farelo de soja, de etanol, de manganês, de açúcar, de aviões, de computadores e de automóveis, entre outros.
Para enfrentar e superar a crise, o governo tem feito sua parte com agilidade, por meio da adoção de medidas eficientes e assertivas: aumentou a liquidez, fortaleceu o setor exportador e o de construção civil. Não posso deixar de destacar que a ampliação dos prazos para o recolhimento de tributos federais foi também uma decisão acertada.
Nosso país tem a quinta maior população do mundo e é um dos maiores mercados consumidores. Nos últimos anos, a renda média do brasileiro cresceu e houve diminuição expressiva dos índices de desemprego e de pobreza. Esse mercado interno promissor precisa ser estimulado.
Além do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e dos importantes programas de infra-estrutura, considero que seria muito útil ao país se o governo e a iniciativa privada iniciassem um programa de construção de cerca de 3 milhões de casas populares, ao longo dos próximos dois anos. Seriam criadas condições muito eficientes para a eliminação de bolsões de pobreza nas regiões urbanas, para a geração de milhares de novos empregos, para o aumento da renda e para a expansão do nosso mercado interno, além de reduzir, significativamente, uma das nossas principais carências sociais.
O Brasil é forte e grande, o governo tem agido e as empresas são criativas. Temos de olhar a crise de forma responsável, mas precisamos ser confiantes e encará-la como uma oportunidade, agindo. Se todos nós -governo, empresários, sociedade civil- trabalharmos lado a lado, o país sairá ainda mais fortalecido.

ROGER AGNELLI, 49, economista e diretor-presidente da Vale, escreve neste espaço a cada quatro semanas.



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