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COMÉRCIO EXTERIOR
Valor equivale à perda que os exportadores brasileiros podem ter se país vizinho desvalorizar o peso
Argentina "quebrada" tira US$ 1 bi do Brasil
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os exportadores brasileiros terão sérias dificuldades para receber mais de US$ 1 bilhão se a Argentina desvalorizar o peso (a
moeda local) neste mês, segundo
estimativas conservadoras do
mercado.
"Muitos dos pequenos e médios
exportadores podem não suportar e quebrar", afirma o presidente da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil), José Augusto de Castro. "É uma situação
muito ruim e não sabemos até onde pode ir."
Os dirigentes de bancos com
forte atuação no financiamento
ao comércio exterior também estão preocupados. Eles temem que
seus clientes no Brasil, por não
conseguirem receber dos argentinos, atrasem ou simplesmente
não paguem os empréstimos.
Praticamente todas as vendas
ao exterior hoje são feitas a prazo
e contam com algum tipo de financiamento. No caso das exportações para a Argentina, segundo
bancos ouvidos pela Folha, quase
100% do crédito é concedido por
meio de operações de ACC e ACE
(as principais modalidades de financiamento à exportação).
No lugar de receber somente
quando os compradores lhes pagam, os exportadores antecipam
os recursos nos bancos por meio
desses instrumentos.
Hoje, a maior parte das operações de ACC (Adiantamento de
Contrato de Câmbio) e ACE
(Adiantamento de Cambiais Entregues) tem prazo de 180 dias. De
acordo com projeções da área de
financiamento ao comércio exterior de grandes bancos privados,
cerca de 60% das operações feitas
a partir de julho vencerão de janeiro de 2002 em diante.
De julho a novembro, as exportações para a Argentina somaram
US$ 1,877 bilhão. Se para todas essas vendas foram realizadas operações de ACC e ACE, cerca de
US$ 1,126 bilhão (60%) vencerá a
partir de janeiro de 2002.
Ou seja, se a Argentina desvalorizasse o peso e decretasse moratória amanhã, os exportadores
brasileiros teriam grandes dificuldades para receber esse dinheiro.
E desse número (US$ 1,126 bilhão) não constam as exportações
feitas neste mês. Portanto US$ 1
bilhão de crédito a receber a partir
de janeiro é uma estimativa conservadora.
Calote
No atual modelo cambial argentino (1 peso vale 1 dólar), as empresas têm dívidas e receitas em
dólar. Se o governo decidir desvalorizar o peso e mudar o regime
para um sistema de taxas flutuantes -alternativa citada pelos economistas como a mais provável-, haverá o descasamento no
fluxo de caixa das empresas.
Provavelmente, o peso sofrerá
forte depreciação. Assim, a receita
das companhias -em moeda local- despencará. Mas as dívidas
em dólar serão as mesmas.
Até a taxa de câmbio se estabilizar, muitas empresas, no mínimo,
suspenderão o pagamento de
suas dívidas externas. Outras certamente vão entrar em situação
falimentar e darão o calote nos
seus fornecedores.
Seguro
Em condições normais de mercado, muitos exportadores poderiam se proteger da inadimplência com seguro de crédito.
No entanto, segundo o presidente da AEB, o risco de vendas
para a Argentina aumentou tanto
nos últimos meses que ficou difícil para as empresas conseguirem
contratar seguro. E mesmo assim,
apenas as grandes companhias
obtêm esse tipo de cobertura.
"O total das exportações para a
Argentina com seguro de crédito
é muito baixo hoje", diz Castro.
No caso de grandes companhias
exportadoras, não receber o pagamento de vendas para a Argentina pode ser somente um prejuízo
a mais a ser lançado no balanço.
"Mas o pequeno exportador, se
não tiver dinheiro em caixa, pode
quebrar", ressalta o presidente da
AEB.
Castro receia que, se o calote argentino ocorrer, muitas empresas
de pequeno e médio portes podem desistir de exportar. "Não só
aquelas que já vendem para a Argentina, mas também as que planejam exportar, por medo de
também sofrer perdas."
Na sua opinião, uma situação
como essa poderia reduzir a base
exportadora brasileira.
Bancos
Com a diminuição das exportações para a Argentina, naturalmente as operações de ACC e
ACE caíram ao longo do ano.
Mas essas modalidades de financiamento são muito representativas para os bancos na área de
crédito.
Em caso de calote generalizado
na Argentina, a situação mais
complicada entre as instituições
financeiras seria a do Banco do
Brasil. O BB responde sozinho
por 20% do mercado de ACC e
ACE. E é uma das poucas instituições que trabalham com empresas de menor porte. Ou seja, justamente aquelas que têm a maior
probabilidade de não pagar o crédito se não receberem de seus
clientes.
Bancos abertos
Os argentinos formaram filas
ontem nos bancos, que decidiram
abrir as portas excepcionalemente para dar assessoria aos clientes
e permitir a abertura de novas
contas. Apenas em algumas instituições era possível sacar dinheiro
no caixa.
Colaborou a Redação
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