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TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS
Argentina fica mais perto da dolarização
GILSON SCHWARTZ
ARTICULISTA DA FOLHA
Há três cenários para o futuro da Argentina: conversibilidade, desvalorização cambial e dolarização. O menos provável é a manutenção do estado
atual, o regime de conversão entre peso e dólar. O debate e a especulação dividem-se entre a
desvalorização e a dolarização.
Ao longo das últimas semanas
ganhou força a hipótese da desvalorização cambial. Muita gente passou a acreditar que o próprio FMI estaria mais inclinado
a patrocinar essa saída. Afinal, o
Fundo ficou desmoralizado
quando patrocinou a manutenção da âncora cambial brasileira
pouco antes de o sistema ir para
os ares.
Mas não se trata de uma questão puramente técnica. Do ponto de vista econômico, seja qual
for a preferência dos tecnocratas
em Washington, a saída dependerá de um ajuste fiscal prévio.
Mas, para fazer um ajuste fiscal
num contexto de recessão, é
preciso um grau de sacrifício
político que os políticos e a população Argentina já não parecem dispostos a suportar.
Fazer um ajuste fiscal significa
criar confiança na capacidade
do governo argentino de pagar
suas dívidas. No entanto o ministro Domingo Cavallo já colocou o país em regime de reestruturação da dívida. Ele está, portanto, seguindo uma lógica inversa à do Fundo e, de modo geral, do pensamento econômico
ortodoxo. Na visão conservadora, o ajuste fiscal é uma condição
necessária para o refinanciamento. Na abordagem mais recente de Cavallo, só o refinanciamento poderia criar condições para um ajuste fiscal.
O movimento político nos últimos dias, na Argentina, aponta
na direção de preparar o país
para esse roteiro de forçar a
reestruturação da dívida como
condição para recompor a capacidade de ajuste fiscal. Se essa
mobilização tiver sucesso, até a
hipótese de continuar tudo como está voltará a fazer sentido.
Os governadores argentinos e
a liderança justicialista têm respondido à convocação do presidente De la Rua à unidade nacional, mas colocam como condição a defesa dos interesses locais contra o interesse dos credores. No Congresso, os peronistas colocaram em primeiro
plano a exigência de defesa das
reservas e pagamentos de salários e aposentadorias.
Mas há pelo menos três fatores
que favorecem o cenário da dolarização. O primeiro é de natureza geopolítica: haveria um impacto profundo de uma dolarização na Argentina na perspectiva de criação da Alca (Área de
Livre Comércio das Américas).
Na semana passada, é oportuno
sublinhar, o governo Bush obteve uma importante vitória no
Congresso na sua estratégia rumo ao "fast track".
O segundo fator é de natureza
política. Logo depois da crise
cambial brasileira, o ex-presidente Carlos Menem passou a
defender a dolarização. Processado, mantido em prisão domiciliar, há poucas semanas Menem voltou à liberdade e, nos últimos dias, tornou-se um interlocutor emergencial de De la
Rúa. É bom lembrar que ele é o
presidente do Partido Justicialista e está decidido a voltar à Casa Rosada.
Finalmente, há o fator técnico.
Embora o rumor de que o FMI
favoreceria a desvalorização
cambial tenha circulado com
força nos últimos dias, há também alguma simpatia pelo modelo da dolarização (há um documento didático com uma
análise dos aspectos positivos e
negativos da dolarização feita
por técnicos do Fundo em
www.imf.org/external/pubs/ft/fandd/2000/03/berg.htm).
No balanço geral, o cenário
mais provável ainda é o de reestruturação da dívida como passo prévio para a dolarização.
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