São Paulo, segunda-feira, 09 de dezembro de 2002

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ANÁLISE/ECONOMIA AMERICANA

Além de equipe, Bush precisa de rumo econômico

DO "FINANCIAL TIMES"

Paul O'Neill tinha de partir. E o mesmo vale para Larry Lindsey. Ambos são, de maneiras diferentes, homens capazes. Mas nenhum dos dois inspirava a confiança necessária. No entanto, essas saídas forçadas de pouco valerão caso os substitutos sejam igualmente inadequados e o governo dos Estados Unidos continue pouco disposto a promover uma polícia econômica coerente.
Quando O'Neill foi indicado como secretário do Tesouro, há dois anos, o "Financial Times" argumentou, controvertidamente que "teria sido melhor que o presidente eleito Bush tivesse escolhido um secretário do Tesouro que não precisasse provar sua credibilidade". O'Neill terminou por solapar repetidas vezes a pouca credibilidade que ele veio a adquirir. Uma franqueza que quase todos apreciam em um cidadão privado é intolerável no detentor de um cargo importante. Bastava essa razão para que a saída dele fosse uma necessidade.
Mas seria injusto imputar os fracassos apenas aos dois principais membros da equipe. Pessoalmente, eles impressionavam menos e tinham menos influência do que seus colegas nos setores de política externa e de segurança. Mas nenhum dos dois merece ser responsabilizado pelas dolorosas conseqüências da bolha que se desenvolveu nos mercados de ações durante os anos Clinton. E nem lhes cabe culpa, ao contrário do presidente, pela politização da administração econômica.
A equipe econômica foi indicada com o objetivo de ajudar na aprovação de um grande corte de impostos. Em curto prazo, o corte ajudou a economia. As consequências de longo prazo são causa de preocupação, dado o imenso e possivelmente duradouro desvio rumo ao déficit fiscal. Um déficit estrutural de 0,3% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2001 se tornará um déficit de 2,7% em 2002.
A decisão de mudar o pessoal é, acima de tudo, uma oportunidade de reconsiderar as políticas adotadas. Ninguém espera que esse governo se torne seriamente ativista em termos econômicos, em casa ou no exterior. Mas a nova equipe precisa desenvolver e promover idéias para a reforma tributária; injetar urgência na reforma da governança corporativa, contabilidade e operação dos mercados financeiros; dominar as discussões sobre a reforma do sistema financeiro internacional e do FMI; e conduzir o envolvimento norte-americano no futuro da assistência mundial ao desenvolvimento. No momento, porém, o governo parece ser mais observador que participante na política econômica mundial.
A sobreposição desnecessária entre as funções do presidente do Conselho de Assessores Econômicos e o presidente do Conselho Econômico Nacional precisa ser eliminada. Mas a primazia deveria ser dada a um secretário do Tesouro com a influência e o intelecto necessários ao posto. Pois, excetuado o presidente, só o Tesouro fala pelos Estados Unidos quanto à economia.
O novo secretário precisa de três qualidades: compreensão da economia; noção de como se comportam os mercados financeiros; e a capacidade de conquistar o respeito do presidente, do Congresso, de Wall Street, dos cidadãos comuns e das autoridades internacionais. Há poucas pessoas capazes disso. Mesmo assim, indicar as pessoas certas é só o começo. O presidente precisa também entender por que a política econômica é importante. Sem estabilidade e prosperidade, seu governo fracassará.


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