|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TESOURO DO IMPÉRIO
Após a saída dos líderes de sua equipe, é hora de o presidente redirecionar atual política econômica
Dilema de Bush é mudar pouco ou parar
RICHARD W. STEVENSON
DO "THE NEW YORK TIMES"
Depois de triunfar nas eleições
de meio de mandato -em larga
medida devido ao seu desempenho como chefe das forças armadas- o presidente George W.
Bush já sinaliza que nem mesmo
um líder popular, em tempos de
guerra, pode ignorar ou escapar
dos perigos políticos de uma economia fraca.
Ao conduzir os líderes de sua
equipe econômica pela porta de
saída, Bush estava fazendo uma
declaração dramática, orquestrada de maneira confusa, de que
pretende agora se concentrar nas
questões que mais interessam à
maioria dos norte-americanos.
Isso enquanto prepara o país para
o embate contra o Iraque.
"As notícias econômicas são
contraditórias, e o norte-americano está preocupado", disse Frank
Luntz, um especialista em pesquisas de opinião pública no Partido
Republicano. "Essa é a forma que
o governo encontrou para dizer
que está ouvindo e pretende fazer
alguma coisa a respeito."
Mas as mudanças aparentemente se limitarão ao pessoal.
Não se estenderão a uma reconsideração da filosofia de impostos
mais baixos, menos regulamentação e mais comércio internacional defendida pelo presidente.
Sem mudanças
As recentes demissões, no alto
escalão do governo, têm menos a
ver com o desejo de mudar de política -diante de um cenário econômico conturbado- do que
com a necessidade de despejar a
considerável bagagem que os dois
acumularam em seus cargos.
Uma nova equipe, disseram os
funcionários do governo, deve se
mostrar mais capaz de defender a
agenda preexistente do presidente diante do público.
"Trata-se mais de percepção do
que de estratégia", disse Thomas
D. Gallagher, analista político do
ISI Group, um fundo de investimento. "Trata-se de dar uma face
melhor à política econômica existente, e não de mudá-la".
Ainda assim, a medida envolve
riscos consideráveis para Bush.
Os democratas, que não conseguiram encontrar argumentos
convincentes na campanha eleitoral para explicar por que o presidente e seu partido deveriam ser
considerados responsáveis pela
lentidão econômica, retrataram
as recentes demissões como uma
admissão de fracasso pela Casa
Branca.
Também fizeram questão de reforçar a intenção por retratar
Bush como inimigo das famílias
trabalhadoras.
"Espero que isso represente um
reconhecimento pelo presidente
de que as políticas de seu governo
fracassaram na geração de crescimento econômico e na criação de
novos empregos", disse o deputado Charles B. Rangel, democrata
de Nova York.
"Bush se define como um conservador compassivo, mas suas
ações econômicas se assemelham
mais à indiferença do que à compaixão."
Temores
Os republicanos do Congresso
estão preocupados com a possibilidade de que as demissões solapem os planos do governo para
reformar o código tributário e reconstruir o sistema de seguro social. Para os mercados financeiros, a criação de um vácuo na liderança econômica, se bem que
temporário, é mais uma causa de
preocupação.
Mas Bush, de certa forma, tinha
poucas opções. Com dois anos de
mandato transcorridos, e com seu
partido conquistando o controle
de ambas as casas do Congresso, a
responsabilidade política pela
economia cabe agora apenas ao
presidente.
Desde que assumiu a presidência, quase dois anos atrás, Bush
vem, com grau variável de justiça,
imputando a culpa pela recessão
de 2001 e pela recuperação lenta à
bolha econômica dos anos 90. E
também ao seu predecessor, aos
democratas do Senado e aos ataques terroristas.
Mas ele também conseguiu
aprovar todas as suas iniciativas
econômicas importantes, incluindo o corte de impostos do ano
passado.
É provável que conquiste a
aprovação do Congresso para novas medidas neste ano. Tendo receitado e administrado o tratamento econômico, Bush não vai
poder atribuir os sinais vitais insatisfatórios a terceiros -como
tem feito até o momento.
Popularidade e campanha
Os números explicam essa insatisfação. O desemprego subiu a
6% em novembro, ante 5,7% no
mês anterior. O mercado de
ações, que subiu depois das demissões, na sexta-feira, continua
oscilante.
Funcionários do governo se
preocupam com a possibilidade
de que uma guerra contra o Iraque, especialmente se for prolongada, perturbe os mercados de
petróleo e abale a confiança dos
consumidores e empresários.
"A essa altura, o presidente é tão
imensamente popular que a única
coisa que poderia tirar dos trilhos
o expresso George W. Bush seria
uma recessão ou algo que saísse
catastroficamente errado na guerra", diz Stephen Moore, presidente do Club for Growth, um comitê
de ação política conservadora.
Tornou-se quase um clichê político em Washington dizer que o
atual presidente aprendeu com os
erros de seu pai. O primeiro Bush
foi derrotado em sua tentativa de
reeleição, uma década atrás, em
parte porque permitiu que os democratas o retratassem como um
político distante das preocupações econômicas dos trabalhadores americanos.
Nos discursos de campanha ao
longo do ano, o atual presidente
enfatizou que não irá se sentir satisfeito até que todo norte-americano que queira um emprego o
consiga.
Mas ao anunciar as demissões
de Paul O'Neill e Larry Lindsey, a
Casa Branca negou qualquer sugestão de que a mudança fosse
uma admissão de deficiências em
sua política econômica.
Ao fazer as mudanças, o presidente não deixou transparecer
que favoreça qualquer abordagem econômica de algum dos lados. O'Neill e Lindsey, de fato,
muitas vezes se posicionaram em
campos opostos. Para O'Neill, a
economia estava basicamente em
boa forma. Para Lindsey, era preciso considerar cortes agressivos
de impostos.
Agenda para Bush
Depois de meses de debate,
Lindsey e O'Neill deixaram na escrivaninha de Bush um conjunto
de opções para a agenda econômica de curto prazo que a Casa
Branca talvez decida revelar nas
próximas semanas.
Além do já antigo pedido de
Bush para que o corte decenal de
impostos do ano passado seja tornado permanente, os dois principais componentes da proposta
são: 1) redução no imposto sobre
os dividendos de ações pagos pelas pessoas físicas; 2) isenção fiscal
para as empresas na forma como
podem deduzir os investimentos
feitos em equipamentos novos
para fábricas.
Futuro
O pacote poderia incluir também uma aceleração nos cortes
do imposto de renda pessoa física,
que devem ser adotados gradativamente ao longo dos próximos
anos. Isso ocorrerá de acordo
com o projeto de lei tributária do
ano passado.
Bush ainda não aprovou o pacote, e muitos detalhes continuam incertos. Mas assessores
externos do governo dizem que
não é provável que mude muita
coisa no pacote básico.
Isso, independentemente de
quem venha substituir O'Neill e
Lindsey no governo.
"Não quero soar insensível, mas
de um ponto de vista estratégico,
não me incomodo com a saída de
Larry Lindsey ou do secretário
O'Neill", disse Grover Norquist,
presidente do Americans for Tax
Reform, um grupo de defesa de
interesses conservadores.
"Isso não importa em termos de
direcionamento da política econômica. Existe unanimidade entre os republicanos quanto à política tributária".
Texto Anterior: Análise/economia americana: Além de equipe, Bush precisa de rumo econômico Próximo Texto: Frase Índice
|