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COMÉRCIO MUNDIAL
Proposta, que será levada a Puebla, em fevereiro, prevê derrubada total das tarifas de importação
Brasil já tem pronto plano para Alca "light"
CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA
O governo brasileiro já preparou sua proposta para a próxima
reunião da Alca (Área de Livre
Comércio das Américas): contém
o máximo de ambição em matéria
de derrubada de tarifas de importação e o máximo de cautela em
temas que não são exatamente relacionados ao comércio de bens,
como investimentos e serviços.
O documento brasileiro estava
sendo discutido ontem em Montevidéu (Uruguai) com os demais
sócios do Mercosul, na medida
em que a expectativa do Itamaraty é que seja adotado por todos.
O texto será levado à reunião do
CNC (Comitê de Negociação Comercial), principal órgão técnico
da Alca, já marcada para o período de 2 a 6 de fevereiro, na cidade
mexicana de Puebla.
Esse encontro será a primeira
tentativa dos 34 países que negociam a Alca de definir um roteiro
de negociações após a conferência
ministerial de Miami (EUA), em
novembro, que simplesmente
adiou as principais decisões, com
o que o encontro de Puebla tornou-se politicamente relevante.
Miami decidiu por uma Alca
"light", como queria o governo
brasileiro, na qual haverá "um
conjunto comum e equilibrado de
direitos e obrigações que sejam
aplicáveis a todos os países".
Abertura total
Acima do mínimo, cada país é
livre para fazer acordos com "benefícios e obrigações adicionais",
que, porém, não serão obrigatórios para os demais sócios.
É justamente o formato concreto do "conjunto comum e equilibrado" que deverá ser discutido
em Puebla, em todas as nove
áreas de negociação, a saber: acesso a mercados; agricultura; serviços; investimentos; compras do
setor público; propriedade intelectual; política de concorrência;
subsídios, antidumping e direitos
compensatórios; e solução de
controvérsias.
O primeiro ponto (acesso a
mercados) é o jargão para reduzir
ou eliminar as tarifas de importação, o item mais clássico em acordos comerciais.
A proposta brasileira prevê cobertura total tanto em bens agrícolas como não-agrícolas, o que
significa que a abertura deverá
contemplar todos os produtos,
sem exclusões.
A defesa dos setores que o governo quiser proteger se dará no
prazo: os mais sensíveis poderão
começar a ter as tarifas de importação reduzidas 15 anos após a assinatura do acordo. Os ainda mais
sensíveis podem ficar numa lista
dos protegidos indefinidamente.
Na área agrícola, além de defender a derrubada das tarifas, a proposta brasileira quer a eliminação
dos subsídios à exportação e o
disciplinamento de todas as medidas que distorcem o comércio.
Entre elas, os créditos à exportação que o governo dos EUA concede e fazem o mesmo efeito que
os subsídios, mas não são punidos pelas regras da OMC (Organização Mundial do Comércio).
Ao ser agressivo nessas duas
áreas, o Brasil já está atuando preventivamente contra a perspectiva de que os EUA exibam idêntica
agressividade nas áreas em que o
Brasil não quer ceder muito.
Exemplos: em investimentos, a
proposta brasileira prevê que a
Alca não irá além do que já fixa a
OMC (e é pouco, em matéria de
regras para investimentos).
"Positivas" e "negativas"
Em serviços, o Brasil também
usa o escudo das regras internacionais, no caso o Gats (sigla em
inglês para Acordo Geral sobre
Comércio de Serviços).
Além disso, o texto prevê o estabelecimento das chamadas "listas
positivas" para abrir o setor de
serviços. Significa que o governo
fará uma listagem cuidadosa dos
setores que oferece para a abertura, preservando por extensão todos os não-listados.
O modelo de "lista negativa"
prevê o inverso: todo setor que
não constar da lista negativa estará aberto quando o acordo for
concluído. Com isso, o governo fica impossibilitado de proteger
um eventual setor novo que surja
depois da lista "negativa".
Também em propriedade intelectual, a proposta remete para os
textos da OMC, em vez de citar
apenas o acordo básico nessa
área, que é o Trips (Direitos de
Propriedade Intelectual Relacionados ao Comércio, na sigla em
inglês). Com isso, incorpora uma
declaração sobre "Trips e Saúde
Pública", aprovada na Conferência Ministerial de Doha (2001),
que privilegia o direito à saúde sobre o direito às patentes.
Por fim, em compras governamentais, a proposta brasileira trata apenas de transparência, não
do direito de estrangeiros se apresentarem em concorrências para,
por exemplo, o fornecimento da
merenda escolar.
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