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CURTO-CIRCUITO
Ganhos da AES Tietê estão indo para os acionistas, o que tira o valor da geradora, que será repassada ao banco
Remessa de lucro prejudica BNDES em acordo
SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL
O caixa da AES Tietê -a jóia da
coroa do acordo para resolver a
dívida de US$ 1,2 bilhão que a
AES Corporation tem com o
BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social)- está sendo esvaziado. Pelo
menos R$ 100 milhões estão indo
para o bolso dos acionistas na forma de juros sobre o capital próprio e dividendos referentes aos
resultados obtidos pela empresa
até setembro deste ano.
A maior parte desse dinheiro,
62%, deve ir para a controladora
-a AES Tietê Empreendimentos,
uma empresa com sede em paraísos fiscais. Dessa forma, se sair o
acordo que vem sendo costurado
com o BNDES, o banco receberá
uma empresa de menor valor, já
que 78% do lucro líquido acumulado nos primeiros nove meses do
ano pela companhia terá deixado
seus cofres. Procurada, a empresa
não se manifestou.
O acordo já vem patinando porque as ações da geradora AES Tietê foram dadas em garantia de
uma dívida de US$ 300 milhões
pela AES Corporation. Os americanos não estão conseguindo liberar as ações e seguem negociando com o BNDES, que, agora, tenta também impedir a sangria do
caixa da empresa via distribuição
de lucros e dividendos.
No acordo firmado em setembro entre a AES e o BNDES, as
partes decidiram criar uma nova
empresa, a Novacom, que passará
a ser controladora das ações pertencentes à AES da Eletropaulo,
da AES Uruguaiana (termelétrica), da AES Tietê (geradora) e, opcionalmente, da AES Sul (distribuidora).
A Novacom será controlada pela AES (50% das ações mais uma)
e pelo BNDES (50% menos uma).
A participação do banco na nova
empresa será integralizada com
metade da dívida principal (US$
600 milhões).
Os outros US$ 600 milhões serão pagos ao banco estatal da seguinte forma: US$ 60 milhões no
dia da constituição da Novacom;
US$ 25 milhões no prazo de um
ano a partir daquela data; e os outros US$ 515 milhões em até 12
anos. Se não houver nova inadimplência, o BNDES perdoará os encargos de US$ 118 milhões.
Lucro antecipado
O problema é que parte do lucro
gerado neste ano pela AES Tietê já
cruzou as fronteiras: em dezembro passado a empresa emprestou R$ 70 milhões à sua controladora, por meio de um contrato de
mútuo (empréstimo).
De acordo com a ata da assembléia realizada no dia 2 deste mês,
que aprovou a distribuição de R$
45,5 milhões em juros sobre capital pela empresa, "os proventos
devidos ao controlador, a AES
Tietê Empreendimentos, ficarão
retidos na empresa para pagamento do mútuo".
Segundo Sérgio Tamashiro,
analista do Unibanco, "é clara a
tentativa da empresa de esvaziar
seu caixa". A Folha apurou que a
AES Tietê decidiu em agosto distribuir todo o lucro do primeiro
semestre -R$ 55,44 milhões-
na forma de dividendos. No início
do ano, o Conselho de Administração havia aprovado a distribuição de apenas 25% do lucro.
Segundo a Folha apurou, a parte dos controladores ficaria retida
-não seria mandada para a matriz no exterior. Mas a ata do Conselho de Administração, que
aprovou a medida, não registra tal
decisão, o que levantou a suspeita
de analistas de que a empresa esteja repatriando lucros.
De acordo com a Lei das S.A., as
empresas de capital aberto, como
a AES Tietê, podem distribuir no
mínimo 25% dos seus resultados,
e, no máximo, 95% aos acionistas.
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