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OPINIÃO ECONÔMICA
Solvência e crescimento
LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS
No debate sobre os resultados da política econômica
do governo Lula, duas questões
se destacam: a solvência externa
e o potencial de crescimento de
nossa economia. Uma prova dessa polarização de certa forma
inédita pode ser encontrada na
imprensa nestes últimos dias. No
mesmo instante em que o IBGE
divulgava a queda do PIB no terceiro trimestre de 2005, o chamado risco Brasil chegava ao mais
baixo nível dos últimos anos. No
papel mais negociado em mercado, o chamado Brasil 40, o risco
ficou abaixo dos 300 pontos.
Para uma economia que procura abrir-se cada vez mais para
o mundo, a questão da solvência
externa é crucial. Principalmente para um país como o nosso,
que tem em sua "folha corrida"
momentos de grave desequilíbrio
externo. Não adianta trazer à
mesa de debates o exemplo da
Argentina e seu pouco-caso com
seus compromissos financeiros.
O que vem acontecendo com a
economia vizinha é um ponto fora da curva no universo das nações em desenvolvimento, e não
um exemplo a ser seguido. Acredito que uma das condições necessárias para entrarmos em um
longo período de crescimento
sustentado seja manter nossa
solvência externa em níveis de
grande solidez e confiança.
Quando analisamos o resultado de nossa conta corrente neste
encerrar de 2005 e as projeções
para o próximo ano, quase não
reconhecemos o Brasil das últimas décadas. Em três anos, acumulamos um superávit superior
a US$ 30 bilhões. Temos a mesma sensação de espanto quando
olhamos a evolução de nossas reservas internacionais livres: US$
20 bilhões em 2003, US$ 27,5 bilhões em 2004 e projeções de US$
55 bilhões e US$ 75 bilhões, para
2005 e 2006, respectivamente. Se
ousarmos um pouco e projetarmos para o primeiro ano do próximo mandato presidencial, vamos nos assustar mais ainda:
US$ 87 bilhões.
A mesma incredibilidade
acontece quando olhamos a possível evolução de nossa dívida
externa líquida -descontadas
as reservas em moeda forte-
durante os próximos anos. Em
fins de 2006, a dívida externa líquida de empresas e do governo
pode chegar a US$ 85 bilhões,
caindo para menos de US$ 70 bilhões em fins de 2007. Em 1999,
ela era próxima a US$ 200 bilhões, ou seja, praticamente o triplo do valor estimado pelo mercado para 2007.
Esses números projetados para
2006 e 2007 vão depender da
continuidade do cenário externo
benigno que existe hoje. Essa hipótese não me parece uma manifestação de voluntarismo ou de
otimismo excessivo com a economia global de hoje. Existe uma
probabilidade grande de que ela
venha a acontecer. Por isso o
chamado risco Brasil atingiu nos
últimos dias valores inimagináveis há poucos anos.
Mas, se o otimismo com a solvência externa do Brasil é hoje
uma sensação real e crível, o
mesmo espírito não encontramos quando se fala de crescimento econômico. A economia
brasileira vai crescer em 2005
quase a metade da taxa dos Estados Unidos nos últimos anos.
Por incrível que pareça, o crescimento brasileiro está próximo do
do Japão, um desempenho medíocre e absurdo para quem
acompanha com certa profundidade a economia do país do sol
nascente.
Além disso, quando se olha para o mundo emergente, o sentimento de desânimo é ainda
maior. O crescimento médio de
nosso PIB deve ser de apenas
2,4% no período 2001 a 2005, repetindo os números obtidos entre
os anos de 1997 e 2000, quando o
contexto internacional era muito menos favorável. Entre os
emergentes, os números foram
de 6,2% no primeiro período e de
4% no segundo.
O quadro que se abre para o
próximo presidente, com uma situação externa de excelente qualidade e uma inflação da ordem
de 4,5% ao ano, é muito parecido
com o que tivemos em 1966, durante o regime militar.
Depois de um período marcado
por uma política econômica extremamente ortodoxa e que provocou um grande ajuste macroeconômico, seguiu-se um período
de desenvolvimento acelerado.
Será que a história vai colocar
Lula e Palocci lado a lado com o
general Castello Branco e Roberto Campos?
Luiz Carlos Mendonça de Barros, 62,
engenheiro e economista, é economista-chefe da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo FHC).
E-mail - lcmb2@terra.com.br
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