São Paulo, terça-feira, 09 de dezembro de 2008

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Preços na indústria registram deflação em novembro, diz FGV

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Com a queda das commodities e a demanda desaquecida, a indústria já registra deflação, num sinal de esfriamento do nível de atividade do setor que, em tese, abre espaço para a redução da taxa básica de juros -a ser definida entre hoje e amanhã na reunião do Copom.
Os preços da indústria de transformação no atacado caíram 0,27% em novembro, segundo dados do IGP-DI (Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna), da FGV (Fundação Getulio Vargas). É a menor marca desde dezembro de 2005 (-0,42%).
Ao todo, os preços industriais no atacado registraram variação nula em novembro, após uma alta de 1,86% em outubro. Com o resultado, o IPA (Índice de Preço por Atacado) apresentou deflação de 0,17%, puxada também pela queda dos preços agrícolas (-0,64%) na esteira da redução das commodities.
A perda de fôlego dos preços no atacado levou o IGP-DI a se desacelerar de 1,09% em outubro para 0,07% em novembro -variação que surpreendeu analistas, que esperavam uma taxa na casa de 0,30%.
Para Flávio Castello Branco, economista da CNI (Confederação Nacional da Indústria), a queda dos preços corrobora o risco de um cenário de excesso de oferta na indústria, já sinalizado pelos estoques mais altos e pelos primeiros dados de redução da produção.
"Há um cenário global de deflação provocado pela crise financeira, que só não se percebe mais no Brasil por causa da desvalorização cambial", diz. Tal ambiente afeta especialmente itens vinculados às commodities, como o petróleo. Caíram com força preços de nafta (recuo de 28,01%), óleo combustível (-7,45%), adubos e fertilizantes (-8,56%), entre outros.
Para Salomão Quadros, coordenador da FGV, há um movimento "generalizado de queda dos preços da indústria". Tal tendência, diz, é dada especialmente pelo recuo das commodities, cujo efeito se sobrepõe ao da alta do dólar.
Francis Kinder, da Rosenberg & Associados, diz que "já existe uma trajetória" de contração da demanda interna que resulta numa queda dos preços da indústria. Mas, segundo ele, a queda da commodities tem um impacto mais forte. "A evolução mais modesta da atividade econômica, associada à atual descompressão de boa parte das commodities, tem mitigado possíveis repasses nos preços industriais", avalia a LCA.
Segundo Quadros, a retração no atacado chegará com mais força ao varejo nos próximos meses. Em novembro, o IPC (Índice de Preços ao Consumidor) ainda subiu: 0,56%, ante alta de 0,47% em outubro.
No varejo, uma das dúvidas é a evolução dos preços dos serviços, que tendem a se manter pressionados, segundo avaliação tanto de Quadros como de Fábio Romão, da LCA.
Apesar desse cenário, Kinder acredita que existe espaço para a queda do juro já nesta semana -de 0,25 ponto percentual. Representando a corrente majoritária do mercado, Romão diz que o BC ainda enxerga pressões inflacionárias e manterá na quarta-feira a Selic em 13,75% ao ano. Quadros, por sua vez, afirma que diminuiu o risco de inflação, e, ao mesmo tempo. "Já está na hora de uma inflexão na política monetária."


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