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Fitch rebaixa Grécia e abala mercado
Agência de risco reduz a avaliação da dívida pública do país, e a Bolsa de Atenas despenca 6%
Outra agência promete mais rigor com EUA e Reino Unido; cresce preocupação com o endividamento crescente de países ricos
FERNANDO CANZIAN
DE NOVA YORK
O rebaixamento na classificação de risco da dívida soberana da Grécia ontem reavivou o
temor de que os países desenvolvidos podem ter de enfrentar antes do esperado uma crise
pelo endividamento recorde.
Para tanto, teriam de reduzir
gastos, comprometendo a ainda tênue recuperação econômica global, ou aumentar juros
(esfriando a atividade) para
continuar se financiando.
A notícia veio acompanhada
de novas turbulências em Dubai e de uma surpreendente
queda em outubro na produção
industrial da Alemanha, maior
economia da zona do euro.
Como resposta, os mercados
tiveram forte queda, fazendo
recuar também o preço de várias commodities à medida que
investidores corriam para os títulos dos EUA e o dólar.
Em Nova York, os índices
Dow Jones e S&P caíram 1%. Já
as Bolsas de Londres e Berlim
recuaram 1,6%.
A agência de classificação de
riscos Fitch reduziu a nota da
dívida pública grega para BBB+,
com viés de baixa. Foi a primeira vez em dez anos que o país
obteve nota abaixo de A. A Bolsa do país despencou 6%, mesmo após o ministro das Finanças, George Papaconstantinou,
afirmar que a Grécia fará "tudo
o que for necessário" para reequilibrar as contas públicas.
Segundo a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), o deficit nas contas da Grécia deve
subir de 78,7% do PIB neste
ano para 83,5% em 2010.
Várias outras economias
avançadas, como EUA, Reino
Unido, Itália, Japão, Portugal e
Bélgica, também terão significativo aumento do endividamento até o final de 2010.
O rápido aumento das dívidas estatais ocorre por uma
combinação de fatores.
Para tirar suas economias da
crise no final de 2008 e ao longo
de 2009, vários países adotaram pesados pacotes de gastos
públicos ao mesmo tempo em
que reduziram impostos. Como
a atividade demora a se recuperar, além dos rombos provocados pelos gastos, esses países
viram a receita de impostos (diretamente relacionada ao crescimento) cair ou estacionar.
Países menos ricos da zona
do euro, como Grécia, Irlanda,
Portugal e mesmo Espanha, estão sendo mais afetados.
No passado, antes da introdução do euro (em 2002), podiam enfrentar crises desvalorizando suas moedas nacionais
para baratear suas exportações
e acelerar a atividade industrial. Com a moeda única, isso
não é mais possível.
Ontem, outra agência de
classificação de riscos, a
Moody's, sinalizou que EUA e
Reino Unido serão inspecionados mais atentamente. Os dois
países, assim como outros 15
monitorados pela Moody's,
mantêm notas que contém
apenas "A" ou "a".
Uma redução na classificação
da dívida de um país é importante porque, quanto pior a sua
nota, mais oneroso se torna se
financiar e rolar dívidas.
Dentro da zona do euro, por
exemplo, países como França e
Alemanha têm um custo de
captação de dinheiro no mercado (via pagamento de juros)
muito menor do que Irlanda e
Espanha, por exemplo.
Além do temor com a sustentabilidade do endividamento
estatal, o mercado global reagiu
mal à notícia de que a produção
industrial alemã caiu 1,8% em
outubro, quando a expectativa
era de alta em torno de 1%.
Esse conjunto de informações revela não apenas que as
grandes economias ainda estão
distantes de uma recuperação
sustentada. Mas que também
ficam sem espaço para aumentar mais os gastos públicos caso
isso seja necessário.
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