São Paulo, quarta-feira, 09 de dezembro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Fitch rebaixa Grécia e abala mercado

Agência de risco reduz a avaliação da dívida pública do país, e a Bolsa de Atenas despenca 6%

Outra agência promete mais rigor com EUA e Reino Unido; cresce preocupação com o endividamento crescente de países ricos


FERNANDO CANZIAN
DE NOVA YORK

O rebaixamento na classificação de risco da dívida soberana da Grécia ontem reavivou o temor de que os países desenvolvidos podem ter de enfrentar antes do esperado uma crise pelo endividamento recorde.
Para tanto, teriam de reduzir gastos, comprometendo a ainda tênue recuperação econômica global, ou aumentar juros (esfriando a atividade) para continuar se financiando.
A notícia veio acompanhada de novas turbulências em Dubai e de uma surpreendente queda em outubro na produção industrial da Alemanha, maior economia da zona do euro.
Como resposta, os mercados tiveram forte queda, fazendo recuar também o preço de várias commodities à medida que investidores corriam para os títulos dos EUA e o dólar.
Em Nova York, os índices Dow Jones e S&P caíram 1%. Já as Bolsas de Londres e Berlim recuaram 1,6%.
A agência de classificação de riscos Fitch reduziu a nota da dívida pública grega para BBB+, com viés de baixa. Foi a primeira vez em dez anos que o país obteve nota abaixo de A. A Bolsa do país despencou 6%, mesmo após o ministro das Finanças, George Papaconstantinou, afirmar que a Grécia fará "tudo o que for necessário" para reequilibrar as contas públicas.
Segundo a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), o deficit nas contas da Grécia deve subir de 78,7% do PIB neste ano para 83,5% em 2010.
Várias outras economias avançadas, como EUA, Reino Unido, Itália, Japão, Portugal e Bélgica, também terão significativo aumento do endividamento até o final de 2010.
O rápido aumento das dívidas estatais ocorre por uma combinação de fatores.
Para tirar suas economias da crise no final de 2008 e ao longo de 2009, vários países adotaram pesados pacotes de gastos públicos ao mesmo tempo em que reduziram impostos. Como a atividade demora a se recuperar, além dos rombos provocados pelos gastos, esses países viram a receita de impostos (diretamente relacionada ao crescimento) cair ou estacionar.
Países menos ricos da zona do euro, como Grécia, Irlanda, Portugal e mesmo Espanha, estão sendo mais afetados.
No passado, antes da introdução do euro (em 2002), podiam enfrentar crises desvalorizando suas moedas nacionais para baratear suas exportações e acelerar a atividade industrial. Com a moeda única, isso não é mais possível.
Ontem, outra agência de classificação de riscos, a Moody's, sinalizou que EUA e Reino Unido serão inspecionados mais atentamente. Os dois países, assim como outros 15 monitorados pela Moody's, mantêm notas que contém apenas "A" ou "a".
Uma redução na classificação da dívida de um país é importante porque, quanto pior a sua nota, mais oneroso se torna se financiar e rolar dívidas.
Dentro da zona do euro, por exemplo, países como França e Alemanha têm um custo de captação de dinheiro no mercado (via pagamento de juros) muito menor do que Irlanda e Espanha, por exemplo.
Além do temor com a sustentabilidade do endividamento estatal, o mercado global reagiu mal à notícia de que a produção industrial alemã caiu 1,8% em outubro, quando a expectativa era de alta em torno de 1%.
Esse conjunto de informações revela não apenas que as grandes economias ainda estão distantes de uma recuperação sustentada. Mas que também ficam sem espaço para aumentar mais os gastos públicos caso isso seja necessário.


Texto Anterior: Vaivém das commodities
Próximo Texto: Dubai diz que precisa de mais do que 6 meses
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.