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MUDANÇA
Ministro diz confiar em Meirelles e que projeto de liberdade operacional da instituição não irá ao Congresso neste ano
BC autônomo não sai em 2004, diz Dirceu
WILSON SILVEIRA
GABRIELA ATHIAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ministro José Dirceu (Casa
Civil) afirmou ontem que o governo não irá trabalhar para aprovar no Congresso neste ano o projeto de lei que dá autonomia operacional ao Banco Central. "A autonomia do BC não está na agenda de 2004", disse Dirceu durante
entrevista coletiva.
Confirmada, a decisão é uma
grande derrota para o ministro
Antonio Palocci Filho (Fazenda) e
sua equipe. Em dezembro, Palocci prometera transformar a autonomia em bandeira para 2004.
Segundo a Folha apurou, parte
da bancada petista no Congresso
é contrária ao projeto de autonomia da instituição -e o governo
teme criar confusão dentro do
partido em um ano de eleições
municipais.
Por outro lado, Dirceu afirmou
que tem "confiança absoluta" no
presidente do Banco Central,
Henrique Meirelles. "Quero reiterar de maneira explícita nossa total confiança no presidente do
Banco Central, que tem a autonomia que lhe é garantida pela legislação. Estou dizendo isso porque
têm surgido notícias na imprensa
de divergência entre o ministro
Antonio Palocci e eu em relação
ao Banco Central. Isso não é fato."
Dirceu também negou que tenha tido divergências com Palocci
em relação à substituição do presidente da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações). "É
uma vã ilusão de quem acredita
que exista divergência entre eu e o
ministro Palocci sobre a indicação do presidente da Anatel, Pedro Ziller. Foi uma decisão do
presidente da República com base
na legislação atual, que lhe dá na
plenitude esse direito", afirmou.
Mas o ministro da Casa Civil
trabalhou nos bastidores pela
queda de Schymura, que havia sido evitada em 2003 por Palocci.
O pano de fundo da disputa foi
uma pressão de setores do PT e do
governo que vêem na equipe de
Palocci membros que funcionariam, na expressão ouvida pela
Folha no Palácio do Planalto, como "freio de mão" da política econômica. Esses membros são o secretário de Política Econômica,
Marcos Lisboa, e o secretário do
Tesouro, Joaquim Levy. Coincidentemente, ambos defendem a
autonomia do BC.
Dar autonomia operacional ao
Banco Central significa dizer que
o governo é o responsável por fixar metas, como a da inflação, por
exemplo, e o BC por encontrar estratégias para cumpri-las. Independente, o BC prestaria contas
ao Congresso e seus diretores teriam mandatos de preferência
não coincidentes com o do presidente da República. Ou seja: o
projeto dá autonomia ao BC, mas
não independência, como ocorre
nos Estados Unidos.
O projeto de dar autonomia
operacional ao BC passou quase
todo o ano de 2003 engavetado.
O governo concentrou esforços
na aprovação das reformas tributária e da Previdência. Além disso,
havia um temor por parte do governo de que a bancada petista
não concordasse com a proposta.
Pesou o fato de a Previdência já
ter causado grande desgaste na
bancada, o que culminou com a
expulsão do partido dos chamados parlamentares "radicais".
Em dezembro, segundo a Folha
apurou, Palocci informou a Meirelles que esse projeto seria enviado ao Congresso em 2004.
No fim do ano passado, o presidente do BC sentiu-se pressionado pelo governo para baixar as taxas de juros, que são fixadas pelo
Copom (Comitê de Política Monetária). Circularam em Brasília
boatos de que ele, inclusive, pretendia deixar a presidência do BC.
A promessa do envio da autonomia serviu para desanuviar a
tensão entre Planalto e BC, que
agora poderá voltar à tona.
Na avaliação do BC e da Fazenda, pelo menos a discussão da autonomia no Congresso, feita com
"calma", como disse publicamente Palocci, serviria como um sinal
positivo para os investidores estrangeiros e reforçaria a posição
de Meirelles.
Incomoda o presidente do BC a
versão de que Lula interfere na taxa de juros. Em entrevista à Folha,
Palocci negou a interferência, mas
admitiu que há "diálogo" constante entre Lula, Meirelles e ele sobre a política monetária.
Colaborou Kennedy Alencar, da Sucursal de Brasília
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