São Paulo, terça-feira, 10 de janeiro de 2006

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EUA

Empresa está à frente de grupo que congela planos tradicionais de previdência

IBM lidera "fim" de aposentadoria

MARY WILLIAMS WALSH
DO "NEW YORK TIMES"

O gongo para a aposentadoria tradicional nas empresas vem soando há algum tempo. As empresas de setores debilitados como aço, companhias aéreas e peças para automóveis mergulharam na falência e passaram seus planos de aposentadoria arruinados para o governo federal.
Hoje, com os recentes anúncios de congelamento de aposentadorias feitos pela elite da América corporativa -Verizon, Lockheed Martin, Motorola e, na semana passada, IBM-, o sino está tocando ainda mais alto. Mesmo companhias fortes e estáveis que têm meios para operar um plano de aposentadoria estão enfrentando uma vida mais longa dos trabalhadores, a iminência de mudanças regulatórias e contábeis e, principalmente, uma maior concorrência global.
Algumas decidiram que não podem ou não querem manter as promessas incluídas nos planos de aposentadoria.
A IBM já foi uma porta-estandarte da América corporativa em convênios com seus funcionários, pagando suas despesas médicas, clubes de campo e luxuosas festas de Natal para seus filhos. Também recompensava os funcionários mais antigos com um estipêndio mensal garantido desde sua aposentadoria até a morte.
A maior parte desses benefícios foi reduzida há muito tempo na IBM e em outros lugares, mas o congelamento da aposentadoria é o último sinal de que hoje os trabalhadores estão muito mais entregues à própria sorte. As empresas enfatizam os planos de previdência privada, que tornam os trabalhadores responsáveis por garantir que terão fundos adequados para se aposentar e os expõem às oscilações dos mercados.
"Nas últimas gerações a IBM definiu a responsabilidade de um empregador para com seus funcionários", disse Peter Capelli, professor de administração na escola de economia Wharton da Universidade da Pensilvânia. "Ela abriu caminho para esse tipo de troca de lealdade por segurança."
Capelli disse que a mudança de um plano de aposentadoria para um programa de previdência privada é "a manifestação mais visível da transferência do risco para os funcionários". E acrescentou: "As pessoas simplesmente têm de enfrentar um risco muito maior na vida, porque todas as coisas que eram mais ou menos garantidas - emprego, tratamento de saúde, aposentadoria - hoje são variáveis."
A IBM disse que ia cancelar seu plano de aposentadoria por motivos de concorrência e que pretende criar uma previdência privada incomumente farta para substituí-lo. A companhia também está tentando proteger sua própria saúde financeira e evitar o destino de empresas como a General Motors, que foram sobrecarregadas pelos custos previdenciários. Congelar o plano de aposentadoria pode reduzir o impacto de forças externas como as mudanças das taxas de juros.
Defensores da aposentadoria dizem que ficaram decepcionados por companhias poderosas como IBM e Verizon terem abandonado os planos tradicionais.
O executivo chefe da Verizon, Ivan Seidenberg, disse em dezembro que a decisão de sua empresa de congelar o plano de aposentadoria de cerca de 50 mil funcionários tornaria a empresa mais competitiva e também "ofereceria aos empregados uma transição para um plano mais de acordo com as tendências atuais, permitindo que os empregados tenham maior responsabilidade na administração de suas finanças e que as companhias ofereçam maior portabilidade através de contas de poupança pessoais".
Em um congelamento de aposentadorias, a empresa interrompe o crescimento dos benefícios de seus funcionários, que normalmente aumentam a cada ano de serviço. Quando se aposentarem, os funcionários ainda receberão os benefícios conquistados antes do congelamento.
Assim como a IBM, a Verizon disse que vai substituir o plano congelado por um de previdência privada, também conhecido como plano de contribuição definida. Isso significa que o empregador cria contas de poupança individuais para os trabalhadores, retém o dinheiro de seus contracheque como contribuição e às vezes pagam parte das contribuições.
Mas os funcionários participantes são responsáveis por escolher a estratégia de investimento. As aposentadorias tradicionais têm uma proteção garantida pelo governo; os planos de contribuição definida, não.
Não se sabe exatamente quantas empresas congelaram seus planos de aposentadoria. Os dados coletados pelo governo são antigos e imperfeitos, e as empresas nem sempre divulgam os congelamentos. Mas a tendência parece estar se acelerando.
Agora a IBM deu sua aprovação para abandonar as aposentadorias tradicionais. O fundo de pensão, o terceiro maior atrás da General Motors e da General Electric, é um definidor de ritmo. Pesquisas no setor sugerem que companhias maiores e mais saudáveis seguirão a empresa.
Para muitos trabalhadores, o afastamento dos planos tradicionais será difícil. Já há sinais de que as pessoas estão se aposentando mais tarde, ou assumindo outros empregos para se sustentar na velhice. A participação em um plano de aposentadoria é involuntária, mas a maioria dos planos privados permite que os empregados decidam se querem contribuir ou não. As pesquisas mostram que muitas pessoas deixam de aplicar dinheiro em suas contas ou investem mal.
Quando uma empresa muda de um plano de aposentadoria para um de previdência privada, a transição é mais difícil para os trabalhadores mais velhos. Isso porque eles perdem seus anos finais no plano de aposentadoria -muitas vezes aqueles em que teriam acumulado a maior parte de seu benefício. Então começam do zero no novo plano.
Jack VanDerhei, um estatístico de seguros que é membro do Instituto de Pesquisas de Benefícios aos Trabalhadores, deu um exemplo hipotético. Se um homem entrar numa firma aos 40 anos, trabalhar 15 e ganhar US$ 80 mil por ano aos 55, poderia esperar ter acumulado uma aposentadoria de US$ 16.305 ao ano nessa época, disse VanDerhei.
Se ele continuar trabalhando sob o mesmo plano de aposentadoria o benefício aumentará para US$ 27.175 ao ano quando ele se aposentar aos 65.
Mas se quando o homem fizer 55 anos sua companhia congelar o plano de aposentadoria e criar um plano de previdência privada, ele só receberá US$ 16.350 ao ano, mais o que ele conseguir obter da previdência privada. É necessário ter disciplina e perícia em investimentos para atingir o equivalente aos antigos pagamentos das aposentadorias em apenas dez anos, disse VanDerhei.
Para as mulheres o desafio é ainda maior. Elas têm expectativa de vida mais longa, por isso têm de pagar mais que os homens se comprarem anuidades no mercado aberto.


Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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