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EUA
Empresa está à frente de grupo que congela planos tradicionais de previdência
IBM lidera "fim" de aposentadoria
MARY WILLIAMS WALSH
DO "NEW YORK TIMES"
O gongo para a aposentadoria
tradicional nas empresas vem
soando há algum tempo. As empresas de setores debilitados como aço, companhias aéreas e peças para automóveis mergulharam na falência e passaram seus
planos de aposentadoria arruinados para o governo federal.
Hoje, com os recentes anúncios
de congelamento de aposentadorias feitos pela elite da América
corporativa -Verizon, Lockheed
Martin, Motorola e, na semana
passada, IBM-, o sino está tocando ainda mais alto. Mesmo
companhias fortes e estáveis que
têm meios para operar um plano
de aposentadoria estão enfrentando uma vida mais longa dos
trabalhadores, a iminência de
mudanças regulatórias e contábeis e, principalmente, uma
maior concorrência global.
Algumas decidiram que não podem ou não querem manter as
promessas incluídas nos planos
de aposentadoria.
A IBM já foi uma porta-estandarte da América corporativa em
convênios com seus funcionários,
pagando suas despesas médicas,
clubes de campo e luxuosas festas
de Natal para seus filhos. Também recompensava os funcionários mais antigos com um estipêndio mensal garantido desde
sua aposentadoria até a morte.
A maior parte desses benefícios
foi reduzida há muito tempo na
IBM e em outros lugares, mas o
congelamento da aposentadoria é
o último sinal de que hoje os trabalhadores estão muito mais entregues à própria sorte. As empresas enfatizam os planos de previdência privada, que tornam os
trabalhadores responsáveis por
garantir que terão fundos adequados para se aposentar e os expõem às oscilações dos mercados.
"Nas últimas gerações a IBM
definiu a responsabilidade de um
empregador para com seus funcionários", disse Peter Capelli,
professor de administração na escola de economia Wharton da
Universidade da Pensilvânia. "Ela
abriu caminho para esse tipo de
troca de lealdade por segurança."
Capelli disse que a mudança de
um plano de aposentadoria para
um programa de previdência privada é "a manifestação mais visível da transferência do risco para
os funcionários". E acrescentou:
"As pessoas simplesmente têm de
enfrentar um risco muito maior
na vida, porque todas as coisas
que eram mais ou menos garantidas - emprego, tratamento de
saúde, aposentadoria - hoje são
variáveis."
A IBM disse que ia cancelar seu
plano de aposentadoria por motivos de concorrência e que pretende criar uma previdência privada
incomumente farta para substituí-lo. A companhia também está
tentando proteger sua própria
saúde financeira e evitar o destino
de empresas como a General Motors, que foram sobrecarregadas
pelos custos previdenciários.
Congelar o plano de aposentadoria pode reduzir o impacto de forças externas como as mudanças
das taxas de juros.
Defensores da aposentadoria
dizem que ficaram decepcionados por companhias poderosas
como IBM e Verizon terem abandonado os planos tradicionais.
O executivo chefe da Verizon,
Ivan Seidenberg, disse em dezembro que a decisão de sua empresa
de congelar o plano de aposentadoria de cerca de 50 mil funcionários tornaria a empresa mais
competitiva e também "ofereceria
aos empregados uma transição
para um plano mais de acordo
com as tendências atuais, permitindo que os empregados tenham
maior responsabilidade na administração de suas finanças e que as
companhias ofereçam maior portabilidade através de contas de
poupança pessoais".
Em um congelamento de aposentadorias, a empresa interrompe o crescimento dos benefícios
de seus funcionários, que normalmente aumentam a cada ano de
serviço. Quando se aposentarem,
os funcionários ainda receberão
os benefícios conquistados antes
do congelamento.
Assim como a IBM, a Verizon
disse que vai substituir o plano
congelado por um de previdência
privada, também conhecido como plano de contribuição definida. Isso significa que o empregador cria contas de poupança individuais para os trabalhadores, retém o dinheiro de seus contracheque como contribuição e às vezes
pagam parte das contribuições.
Mas os funcionários participantes são responsáveis por escolher
a estratégia de investimento. As
aposentadorias tradicionais têm
uma proteção garantida pelo governo; os planos de contribuição
definida, não.
Não se sabe exatamente quantas
empresas congelaram seus planos
de aposentadoria. Os dados coletados pelo governo são antigos e
imperfeitos, e as empresas nem
sempre divulgam os congelamentos. Mas a tendência parece estar
se acelerando.
Agora a IBM deu sua aprovação
para abandonar as aposentadorias tradicionais. O fundo de pensão, o terceiro maior atrás da General Motors e da General Electric, é um definidor de ritmo. Pesquisas no setor sugerem que companhias maiores e mais saudáveis
seguirão a empresa.
Para muitos trabalhadores, o
afastamento dos planos tradicionais será difícil. Já há sinais de que
as pessoas estão se aposentando
mais tarde, ou assumindo outros
empregos para se sustentar na velhice. A participação em um plano de aposentadoria é involuntária, mas a maioria dos planos privados permite que os empregados decidam se querem contribuir ou não. As pesquisas mostram que muitas pessoas deixam
de aplicar dinheiro em suas contas ou investem mal.
Quando uma empresa muda de
um plano de aposentadoria para
um de previdência privada, a
transição é mais difícil para os trabalhadores mais velhos. Isso porque eles perdem seus anos finais
no plano de aposentadoria
-muitas vezes aqueles em que
teriam acumulado a maior parte
de seu benefício. Então começam
do zero no novo plano.
Jack VanDerhei, um estatístico
de seguros que é membro do Instituto de Pesquisas de Benefícios
aos Trabalhadores, deu um exemplo hipotético. Se um homem entrar numa firma aos 40 anos, trabalhar 15 e ganhar US$ 80 mil por
ano aos 55, poderia esperar ter
acumulado uma aposentadoria
de US$ 16.305 ao ano nessa época,
disse VanDerhei.
Se ele continuar trabalhando
sob o mesmo plano de aposentadoria o benefício aumentará para
US$ 27.175 ao ano quando ele se
aposentar aos 65.
Mas se quando o homem fizer
55 anos sua companhia congelar
o plano de aposentadoria e criar
um plano de previdência privada,
ele só receberá US$ 16.350 ao ano,
mais o que ele conseguir obter da
previdência privada. É necessário
ter disciplina e perícia em investimentos para atingir o equivalente
aos antigos pagamentos das aposentadorias em apenas dez anos,
disse VanDerhei.
Para as mulheres o desafio é ainda maior. Elas têm expectativa de
vida mais longa, por isso têm de
pagar mais que os homens se
comprarem anuidades no mercado aberto.
Tradução de Luiz Roberto
Mendes Gonçalves
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