São Paulo, quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

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PAULO NOGUEIRA BATISTA JR.

Recessão nos EUA e expansão no Brasil?

A menos que se instaure um cenário externo caótico, a economia brasileira continuará crescendo

CRESCE A cada dia o número de economistas americanos de renome que prevêem recessão nos Estados Unidos em 2008.
Lawrence Summers, Paul Krugman e Martin Feldstein, por exemplo, consideram provável uma queda da atividade econômica. Outros, um pouco mais otimistas, prevêem uma desaceleração acentuada.
Bem. Como se sabe, previsão de economista raramente é confiável.
Nossa capacidade de antecipar o futuro é notoriamente limitada. Somos todos excelentes profetas -mas do passado, só do passado, sempre prontos a explicar por que as previsões não se confirmaram. É um pouco ridículo, diga-se de passagem, que alguns se aventurem a quantificar o risco de recessão nos EUA, atribuindo probabilidades de 30%, 50% ou mais à ocorrência do fenômeno. Até economistas brasileiros andaram entrando nessa seara.
De qualquer maneira, não há dúvida de que a situação nos Estados Unidos é muito delicada. A crise no sistema financeiro e no setor habitacional não está resolvida, como admite o secretário do Tesouro dos EUA, Henry Paulson. O dólar continua sob pressão nos mercados internacionais. Os dados de emprego e desemprego, divulgados na sexta-feira passada, produziram um certo choque, pois foram bem piores do que o esperado. Em dezembro, o nível de emprego ficou estagnado e a taxa de desemprego subiu para 5% (contra 4,4% em dezembro de 2006).
Intensificaram-se, nas últimas semanas, as discussões sobre o que fazer para conter a redução do nível de atividade e o aumento do desemprego. O instrumento de uso mais rápido é a política monetária. Uma diminuição adicional das taxas de juro é praticamente certa. Deve haver novo corte da taxa básica pelo Federal Reserve agora em janeiro. Taxas de juro menores tendem a estimular o consumo e o investimento domésticos e, via depreciação cambial, favorecem as exportações e encarecem as importações.
No entanto, existem limites para o relaxamento monetário. A inflação vem aumentando gradualmente nos EUA (nos 12 meses até novembro, a inflação dos preços ao consumidor é ligeiramente mais alta do que a brasileira). Uma redução muito agressiva dos juros poderia até desencadear o colapso do dólar e minar gravemente a confiança na moeda americana. Além disso, há dúvidas sobre a eficácia do instrumento monetário em um cenário de crise no sistema financeiro.
Por isso, alguns economistas vieram a público sugerir uma política fiscal expansiva, com cortes de impostos e aumentos de gastos. Como o déficit público nos EUA é relativamente pequeno (1,2% do PIB), existe espaço para alguma flexibilização fiscal como instrumento anti-recessivo. Resta saber se, em ano de eleição presidencial, com o Congresso controlado pela oposição democrata, o governo Bush terá condições de aprovar rapidamente um pacote fiscal eficaz.
Como fica a economia brasileira? Uma recessão nos EUA derrubaria a recuperação em curso no Brasil? Parece pouco provável. A recessão americana teria que ser muito forte para produzir esse efeito. As perspectivas para o resto do mundo, particularmente para os emergentes, parecem bastante positivas. O Banco Mundial, em projeção recém-divulgada, calcula um crescimento de 7,1% para os países em desenvolvimento. Além disso, o crescimento brasileiro recente está apoiado na expansão do mercado interno.
A menos que se instaure um cenário externo caótico, a economia brasileira continuará crescendo. Mesmo que os EUA entrem em recessão.
Previsão de economista.


PAULO NOGUEIRA BATISTA JR., 52, escreve às quintas-feiras nesta coluna. Diretor-executivo no FMI, representa um grupo de nove países (Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Haiti, Panamá, República Dominicana, Suriname e Trinidad e Tobago).
pnbjr@attglobal.net


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