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PAULO NOGUEIRA BATISTA JR.
Recessão nos EUA e expansão no Brasil?
A menos que se instaure um cenário externo caótico,
a economia brasileira continuará crescendo
CRESCE A cada dia o número de
economistas americanos de
renome que prevêem recessão nos Estados Unidos em 2008.
Lawrence Summers, Paul Krugman
e Martin Feldstein, por exemplo,
consideram provável uma queda da
atividade econômica. Outros, um
pouco mais otimistas, prevêem uma
desaceleração acentuada.
Bem. Como se sabe, previsão de
economista raramente é confiável.
Nossa capacidade de antecipar o futuro é notoriamente limitada. Somos todos excelentes profetas
-mas do passado, só do passado,
sempre prontos a explicar por que
as previsões não se confirmaram. É
um pouco ridículo, diga-se de passagem, que alguns se aventurem a
quantificar o risco de recessão nos
EUA, atribuindo probabilidades de
30%, 50% ou mais à ocorrência do
fenômeno. Até economistas brasileiros andaram entrando nessa seara.
De qualquer maneira, não há dúvida de que a situação nos Estados
Unidos é muito delicada. A crise no
sistema financeiro e no setor habitacional não está resolvida, como admite o secretário do Tesouro dos
EUA, Henry Paulson. O dólar continua sob pressão nos mercados internacionais. Os dados de emprego e
desemprego, divulgados na sexta-feira passada, produziram um certo
choque, pois foram bem piores do
que o esperado. Em dezembro, o nível de emprego ficou estagnado e a
taxa de desemprego subiu para 5%
(contra 4,4% em dezembro de
2006).
Intensificaram-se, nas últimas semanas, as discussões sobre o que fazer para conter a redução do nível de
atividade e o aumento do desemprego. O instrumento de uso mais rápido é a política monetária. Uma diminuição adicional das taxas de juro é
praticamente certa. Deve haver novo corte da taxa básica pelo Federal
Reserve agora em janeiro. Taxas de
juro menores tendem a estimular o
consumo e o investimento domésticos e, via depreciação cambial, favorecem as exportações e encarecem
as importações.
No entanto, existem limites para o
relaxamento monetário. A inflação
vem aumentando gradualmente nos
EUA (nos 12 meses até novembro, a
inflação dos preços ao consumidor é
ligeiramente mais alta do que a brasileira). Uma redução muito agressiva dos juros poderia até desencadear o colapso do dólar e minar gravemente a confiança na moeda americana. Além disso, há dúvidas sobre
a eficácia do instrumento monetário
em um cenário de crise no sistema
financeiro.
Por isso, alguns economistas vieram a público sugerir uma política
fiscal expansiva, com cortes de impostos e aumentos de gastos. Como
o déficit público nos EUA é relativamente pequeno (1,2% do PIB), existe espaço para alguma flexibilização
fiscal como instrumento anti-recessivo. Resta saber se, em ano de eleição presidencial, com o Congresso
controlado pela oposição democrata, o governo Bush terá condições de
aprovar rapidamente um pacote fiscal eficaz.
Como fica a economia brasileira?
Uma recessão nos EUA derrubaria a
recuperação em curso no Brasil? Parece pouco provável. A recessão
americana teria que ser muito forte
para produzir esse efeito. As perspectivas para o resto do mundo, particularmente para os emergentes,
parecem bastante positivas. O Banco Mundial, em projeção recém-divulgada, calcula um crescimento de
7,1% para os países em desenvolvimento. Além disso, o crescimento
brasileiro recente está apoiado na
expansão do mercado interno.
A menos que se instaure um cenário externo caótico, a economia brasileira continuará crescendo. Mesmo que os EUA entrem em recessão.
Previsão de economista.
PAULO NOGUEIRA BATISTA JR., 52, escreve às quintas-feiras nesta coluna. Diretor-executivo no FMI, representa
um grupo de nove países (Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Haiti, Panamá, República Dominicana, Suriname e Trinidad e Tobago).
pnbjr@attglobal.net
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