São Paulo, quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

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ONU e grupo de Davos vêem riscos maiores

MARCELO NINIO
DE GENEBRA

Em meio às muitas previsões pessimistas que têm sido feitas neste início de ano, as Nações Unidas acrescentaram mais um alerta sobre os perigos que a economia mundial enfrentará nos próximos meses. Para a organização, as recentes turbulências mostraram que é arriscado demais deixar que os Estados Unidos continuem sendo a única locomotiva econômica do mundo. Por isso, é preciso que Europa e Japão reajam para evitar uma crise global.
Em seu relatório de perspectivas para 2008 lançado ontem, o "cenário-base" da ONU já estima uma queda moderada no crescimento mundial, dos 3,7% de 2007 para 3,4%. No "cenário pessimista", em que se materializaria o temor de uma recessão nos Estados Unidos, a expansão mundial cairia a menos de metade, para 1,6%.
Assim como em outros estudos recentes, no relatório da ONU os países emergentes, entre eles o Brasil, seriam menos afetados por uma desaceleração nos Estados Unidos, mas não ficariam imunes a uma recessão. O estudo repete a previsão de crescimento do Brasil para 2008 feita pelo Banco Central, de 4,5%.
O relatório, preparado em conjunto por diversas agências da ONU, observa que o crescimento mundial no último ano foi "robusto e amplo", mas adverte que há um "perigo claro e presente" que poderá levar à quase estagnação em 2008. "De 160 países estudados, 102 cresceram 3% ou mais no último ano, o que é algo extraordinário", disse Heiner Flassbeck, diretor da Unctad (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento).
Flassbeck disse, porém, que as incertezas espalhadas pela crise do "subprime" (hipotecas de alto risco) a partir de agosto nos EUA continuarão a rondar a economia mundial. Para ele, é cedo para avaliar se a economia americana entrará em recessão, pois isso dependerá da reação dos consumidores do país.
Tomando como base a previsão de que o consumo nos EUA reagirá nos próximos meses, o estudo da ONU estima que o crescimento da economia americano em 2008 sofrerá uma queda apenas moderada, de 2,2% em 2007 para 2% neste ano. No cenário pessimista, a expansão cairia para 0,1%, configurando um quadro de recessão que afetaria o mundo todo.

Davos
Incertezas econômicas e políticas também marcaram as previsões feitas ontem pelo grupo que organiza o Fórum Econômico Mundial de Davos. "Será difícil administrar os riscos globais neste ano", afirma relatório da entidade
Em seu estudo, o grupo aponta para o perigo de uma recessão nos Estados Unidos e enumera os "riscos emergentes" para a próxima década. Entre eles, problemas no abastecimento de alimentos e energia e riscos no sistema financeiro mundial.
Um dos riscos econômicos apontados pelo grupo é que a China cresça 6% ou menos ao ano, afetada por questões domésticas e políticas. Além disso, a entidade, cujo encontro anual acontece entre os dias 23 e 27 deste mês, cita, entre outros, uma abrupta desvalorização do dólar, "com impactos por todos os mercados financeiros", aumentos "abruptos" nas cotações de petróleo e gás e falta de alimentos para a população mais pobre devido a altas crescentes nos preços dos produtos agrícolas.
Para a entidade, as incertezas sobre o futuro no médio e longo prazos estão no seu ponto mais alto da década, especialmente sobre como a economia global irá ao reagir à propagação do aperto na liquidez, resultado da crise no ano passado do mercado imobiliário de alto risco dos EUA, epicentro da atual crise.
De acordo com o fórum, uma das conseqüências desse clima de incerteza é que várias ações, como o combate às mudanças climáticas, podem não ser tomadas. E, caso isso ocorra, só irá "enfraquecer" a capacidade mundial de lidar com futuros desafios.


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