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ANOS DE REFORMA
Capital externo aumentou eficiência do país, mas não expandiu a capacidade produtiva ou exportadora
Múltis crescem 146% na década liberal
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL
A desnacionalização da indústria brasileira deu um salto na década de 90. O capital estrangeiro,
que correspondia a 36% do faturamento dos 350 maiores grupos
do país em 91, passou para 53,5%
no final de 99. A participação estrangeira no faturamento das
maiores empresas do país subiu
146% entre 91 e 99.
O investimento estrangeiro
contribuiu para tornar mais eficientes as empresas brasileiras,
mas não ajudou o país a expandir
o seu mercado interno e a aumentar sua participação no externo.
É o que mostra levantamento
do Instituto de Economia da
UFRJ (Universidade Federal do
Rio de Janeiro) sobre o perfil das
empresas líderes no Brasil. Segundo o estudo, o capital externo
cresceu mais no setor de serviços.
O investimento estrangeiro mais
substituiu o nacional do que expandiu a capacidade produtiva
do país, colaborou para aumentar
o déficit externo e não contribuiu
para tornar o país um grande exportador de manufaturados.
"O capital estrangeiro se espalhou de forma abrangente e, apesar de ter modernizado alguns setores, não ajudou o Brasil a crescer no mercado internacional",
afirma David Kupfer, autor do estudo e coordenador do Grupo Indústria e Competitividade da
UFRJ. Para crescer lá fora, as empresas teriam de aumentar sua capacidade industrial. A política de
juros, de câmbio e as várias crises
enfrentadas pelo país acabaram
barrando essa expansão.
A polêmica da exportação
O governo incentivou a desnacionalização, pois uma de suas
metas era aumentar o fluxo de divisas. "Era a fome com a vontade
de comer", diz Mariano Laplane,
coordenador do Núcleo de Economia da Indústria e da Tecnologia da Unicamp.
O apoio dos estrangeiros, segundo Laplane, foi importante
para modernizar vários setores da
economia. "Mas o fato é que o
grande salto nas exportações de
produtos com maior valor agregado não ocorreu ainda."
Levantamento feito pelo Núcleo
de Economia da Unicamp mostra
que os estrangeiros não têm ajudado a balança comercial brasileira. A participação das empresas
estrangeiras nas exportações dos
500 maiores grupos do país caiu
de 53,2% em 97 para 47,6% em
2000. No caso das importações, o
salto foi de 63,1% para 64,9%.
"Remessa de lucros, pagamento
de royalties e transferências de
tecnologia têm custo para o país.
Só que os estrangeiros aumentam
também a capacidade de exportar", diz Maurício Mesquita, economista do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento).
Na sua análise, o Brasil não pode se dar ao luxo de barrar a entrada de capital estrangeiro. Se esse capital avançou demais ou não,
é algo que pode ser discutido neste momento. Mesquita acha que o
país deveria ter, porém, um núcleo de empresários brasileiros
que domine alguns setores.
Perfil industrial não muda
O trabalho da UFRJ nota também que, na desnacionalização, o
perfil da indústria brasileira não
se alterou. Em 96, o faturamento
da indústria básica representava
25,4% da receita total dos 350
maiores grupos do país. Em 99,
26,8%. Na indústria difusora de
tecnologia os percentuais foram
de 19,1% e 18%, respectivamente.
A desnacionalização da indústria brasileira foi rápida e muito
intensa, na visão dos empresários
que se reúnem no Iedi (Instituto
de Estudos para o Desenvolvimento Industrial). "O ideal é a
vinda do capital estrangeiro com
crescimento do nacional", afirma
Júlio Sérgio Gomes de Almeida,
diretor-executivo do instituto.
A indústria brasileira foi forçada a se render ao capital estrangeiro, diz, em muitos casos, porque
foi estrangulada por juros altos e
pelo câmbio desfavorável para as
exportações. Pelos estudos do Iedi, o dinheiro de fora trouxe tecnologia, mas não aumentou o investimento global na economia.
"É preciso agregar investimentos
e não substituí-los."
As características das empresas
estrangeiras, pelo levantamento
do Iedi, são: grandes importadoras, exportam moderadamente e
remetem grandes lucros e dividendos para as matrizes.
Roberto Faldini, diretor do Departamento de Economia da
Fiesp (Federação das Indústrias
do Estado de São Paulo), diz que a
miscigenação de investimentos é
uma tendência mundial.
"Pode ser encarado de duas formas: ameaça ou fortalecimento
da indústria brasileira. Se as condições macroeconômicas são favoráveis, o país só tem a ganhar."
É consenso entre os economistas consultados pela Folha que o
avanço do capital externo no Brasil contribuiu para aumentar o
déficit das transações correntes
do país nos últimos anos.
Duas ondas estrangeiras
A entrada do capital estrangeiro
tem duas fases ao longo da década
de 90. De 91 a 96, o dinheiro veio
atraído pelas privatizações. Foi o
período da transferência de empresas estatais para privadas. A
partir de 96, o dinheiro de fora
vem para aquisições e fusões.
"A entrada das multinacionais
no país mostrou que as empresas
brasileiras não eram competitivas. E, com isso, as nacionais acabaram se tornando alvos mais fáceis de aquisições", diz Kupfer.
Do setor de serviços, o financeiro (leia-se bancos) foi o que registrou o maior avanço do capital estrangeiro -de 8% em 91 para
21,3% em 99. Depois vêm os serviços de infra-estrutura -crescimento de 16,9% para 32,2%-, e
outros serviços, como transporte,
comunicação social e comércio,
de 7,8% para 27,1%.
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