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ANOS DE REFORMA
Participação de empresa estrangeira nas exportações caiu de 53,2% em 1997 para 47,6% em 2000, diz Unicamp
Capital externo não fez país exportar mais
DA REPORTAGEM LOCAL
O capital estrangeiro, ao contrário do que se previa, não transformou o Brasil em um grande exportador de produtos manufaturados. Os investimentos externos
aumentaram a eficiência das empresas, mas a maior produtividade não resultou em saldos comerciais elevados para o país.
A análise é de Mariano Laplane,
coordenador do Núcleo de Economia da Indústria e da Tecnologia da Unicamp. A idéia, diz ele,
era tornar a indústria nacional eficiente e trazer competição para a
indústria estrangeira, que estava
acomodada.
"Com o apoio do capital externo, a intenção era transformar o
Brasil num grande exportador de
produtos manufaturados. E isso
até agora não aconteceu."
Levantamento do Núcleo de
Economia da Unicamp mostra
que a participação das empresas
estrangeiras nas exportações dos
500 maiores grupos do país está
até em queda. Era de 53,2% em 97.
Em 2000, estava em 47,6%.
Ao mesmo tempo, as empresas
estrangeiras estão aumentando a
participação nas importações.
Das compras externas dos 500
maiores grupos do país, a fatia
dos estrangeiros subiu de 63,1%
para 64,9%. Esse percentual era
de 53,8% em 92.
A seguir, os principais trechos
da entrevista de Laplane.
Folha - Quais são as intenções das
empresas estrangeiras quando optam por investir no Brasil?
Mariano Laplane - É difícil saber
quais são as verdadeiras intenções, mas podemos observar o
comportamento delas. Quem
veio para o setor de serviços veio
para aproveitar o mercado interno. Quem veio para o setor industrial pode ter várias intenções.
Uns querem explorar recursos
naturais, transformá-los e exportá-los. Outros, que importam
mais do que exportam, querem ir
também para a América Latina.
Outras empresas vieram para disputar os mercados interno e externo, como a indústria automobilística. Há casos em que receberam da matriz a missão de concentrar a produção no Brasil para
abastecer outras regiões.
Folha - As empresas estrangeiras
que compraram empresas brasileiras aumentaram investimentos no
país? A produtividade das fábricas
subiu em relação ao que era?
Laplane - A grande maioria das
empresas passou por processo de
racionalização, enxugou pessoal.
A produtividade, portanto, aumentou. Em alguns casos houve
até aumento da capacidade instalada.
Folha - A desnacionalização das
empresas brasileiras, mais forte no
período de 96 a 99, está relacionada com o aumento do déficit em
transações correntes?
Laplane - Geralmente a empresa
estrangeira racionaliza a produção e depois passa a importar
equipamentos. Muitas importam
muito e não exportam quase nada. Isso tem impacto negativo na
balança comercial, sem contar
que elas remetem lucro e dividendos. Essa situação tem tudo a ver
com o câmbio [favorável às importações" e com a falta de política industrial. O país poderia ter
uma política para negociar com as
empresas estrangeiras. Era preciso ter um tratamento mais favorável para o produto nacional.
Folha - Por que as empresas nacionais migraram mais para o setor
de serviços ao longo da década?
Laplane - Porque essa atividade
está menos exposta à concorrência estrangeira. Em alguns setores
nem existe concorrência por serem concessões públicas, como
operar rodovias. Alguns bancos
(Itaú, Bradesco e Unibanco) têm
resistido bem até agora ao avanço
dos estrangeiros.
Folha - A abertura da economia
brasileira em 90 pretendia modernizar a indústria local, considerada
atrasada, e trazer concorrência para a indústria estrangeira, que estava acomodada. Isso aconteceu?
Laplane - Parte do que se esperava ocorreu. As empresas se modernizaram não só em termos de
tecnologia, mas até no setor de supermercados houve grande aumento de eficiência. Mas o que
não aconteceu foi o grande salto
das exportações de manufaturados que se esperava. O Brasil continua sendo um grande mercado
doméstico, que absorve boa parte
da produção industrial.
Folha - O que é possível fazer para que o Brasil exporte mais?
Laplane - Se o país quiser mesmo se tornar um grande exportador, como a China, vai ter de dobrar a sua capacidade industrial
em grande parte dos setores. E,
para isso, precisa de muito investimento.
Folha - Mas houve investimentos
em alguns setores nos últimos
anos...
Laplane - Só que alguns setores
que investiram, como a indústria
automobilística e a eletroeletrônica, acabaram se dando mal. A
pancada dos juros freou o crescimento. No início dos anos 90 havia uma expectativa de crescimento, que não se efetivou. Boa
parte da indústria, no entanto,
não acreditou nas estimativas de
expansão da economia e, por isso,
não investiu em aumento da capacidade produtiva. Investiu em
modernização e, em alguns casos,
até enxugou a capacidade.
Folha - O que era esperado com a
abertura da economia, mas não
aconteceu?
Laplane - Foi o aumento brutal
das importações. Em princípio, a
expectativa era que haveria mais
importação de máquinas e componentes -vetores da modernização. Todo mundo achava que,
com a abertura da economia, as
peças compradas aqui seriam
substituídas por importadas,
mais baratas e com maior qualidade.
Folha - Qual a sua sugestão diante dessa situação?
Laplane - O que precisa existir
no Brasil é um pacto entre o setor
público e o privado em favor do
crescimento. Se houvesse gente
interessada mesmo nisso agora, a
economia brasileira seria outra
daqui a cinco ou seis anos.
(FÁTIMA FERNANDES)
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