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Lula fará governo de centro-direita, afirma professor
DA REPORTAGEM LOCAL
Luiz Inácio Lula da Silva fará
um governo de centro-direita,
terá dificuldades em responder
às "exigências dos trabalhadores" e carregará o fardo de ter
de administrar uma economia
"em condições desastrosas",
entregue por Fernando Henrique Cardoso.
As opiniões, defendidas por
James Petras, 63 anos, professor de sociologia da Universidade de Nova York, são repetidas em suas aulas semanais de
ética na política. Defensor de
idéias de centro-esquerda, Petras vem ao Brasil em maio realizar conferências. Antes, visita
a Argentina. Petras falou à Folha de sua sala na universidade.
Folha - Por que as empresas estrangeiras sediadas no Brasil
elevaram tanto o volume de remessas ao exterior nos últimos
meses?
James Petras - Na visão dos
manda-chuvas de algumas empresas, certos governos são risco direto para o capital privado. Eles acendem a luz vermelha e, como uma manada,
agem de acordo com o que
consideram razoável para o
próprio bolso. Acreditavam até
que o novo governo Lula tinha
amadurecido, mas ainda tinham suas ressalvas. É bem
provável que essas remessas,
basicamente de lucros, voltem
à normalidade. E isso deve
ocorrer porque com Palocci
(Antonio Palocci, ministro da
Fazenda) e Meirelles (Henrique Meirelles, presidente do
Banco Central) esse governo dá
sinais de ser de centro-direita,
formado em parte pela burguesia brasileira.
Folha - Na sua avaliação, já é
possível classificar o governo
dessa forma? Sendo assim, o
Brasil deve voltar a atrair recursos para investimento em 2003?
Petras - A forte transferência de
recursos para a sede das multinacionais em determinados
períodos e a pressão pelo envio,
basicamente da América Latina para fora, acaba descapitalizando a região. E reduz a capacidade de reinvestimento das
empresas. As matrizes definem
os investimentos a serem feitos
no começo do ano e isso pode
ser revisto dependendo do desempenho do grupo. O dinheiro é só um e se o montante que
poderia ir para investimento
sai do Brasil, ou da Argentina
ou da Venezuela, é porque ele
vai para outro lugar, tapar um
buraco em outra região. A crise
das empresas norte-americanas, principalmente na área de
energia e de eletrônicos, fez as
companhias dependerem ainda mais das subsidiárias. Toda
essa situação pressionou os resultados das filiais.
Folha - Então as subsidiárias
no Brasil pagaram a crise do setor privado americano?
Petras - Empresas nos EUA
perderam dinheiro porque
brincaram com o mercado e
acreditaram que o mercado
norte-americano era o mais seguro do mundo. O pior é que
erraram. Por exemplo, empresas com braços no Brasil foram
à bancarrota porque agiram de
má fé, inventaram balanços
que não existiam e criaram um
clima de suspeita permanente.
Como é o caso da Xerox, que
deve ter pressionado a filial
brasileira para alcançar metas
no período em que estava mal
das pernas. Mas isso é um caso
específico, sem paralelo. No geral, não sei se a filial na China
"paga a conta" dos maus resultados na Venezuela ou Argentina. O que existem são grupos
com problemas financeiros, e
que precisam achar formas de
alcançar certo equilíbrio.
Folha - Como é a movimentação desses recursos?
Petras - Este dinheiro que sai
como resultado das filiais de
multinacionais repica para outras regiões e nem sempre para
no caixa da empresa. Dependendo da situação, ajuda a tapar "buracos" causados por má
administração da sede, queda
nas vendas, etc.
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