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São Paulo, segunda-feira, 10 de fevereiro de 2003

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Lula fará governo de centro-direita, afirma professor

DA REPORTAGEM LOCAL

Luiz Inácio Lula da Silva fará um governo de centro-direita, terá dificuldades em responder às "exigências dos trabalhadores" e carregará o fardo de ter de administrar uma economia "em condições desastrosas", entregue por Fernando Henrique Cardoso.
As opiniões, defendidas por James Petras, 63 anos, professor de sociologia da Universidade de Nova York, são repetidas em suas aulas semanais de ética na política. Defensor de idéias de centro-esquerda, Petras vem ao Brasil em maio realizar conferências. Antes, visita a Argentina. Petras falou à Folha de sua sala na universidade.
 
Folha - Por que as empresas estrangeiras sediadas no Brasil elevaram tanto o volume de remessas ao exterior nos últimos meses?
James Petras - Na visão dos manda-chuvas de algumas empresas, certos governos são risco direto para o capital privado. Eles acendem a luz vermelha e, como uma manada, agem de acordo com o que consideram razoável para o próprio bolso. Acreditavam até que o novo governo Lula tinha amadurecido, mas ainda tinham suas ressalvas. É bem provável que essas remessas, basicamente de lucros, voltem à normalidade. E isso deve ocorrer porque com Palocci (Antonio Palocci, ministro da Fazenda) e Meirelles (Henrique Meirelles, presidente do Banco Central) esse governo dá sinais de ser de centro-direita, formado em parte pela burguesia brasileira.

Folha - Na sua avaliação, já é possível classificar o governo dessa forma? Sendo assim, o Brasil deve voltar a atrair recursos para investimento em 2003?
Petras - A forte transferência de recursos para a sede das multinacionais em determinados períodos e a pressão pelo envio, basicamente da América Latina para fora, acaba descapitalizando a região. E reduz a capacidade de reinvestimento das empresas. As matrizes definem os investimentos a serem feitos no começo do ano e isso pode ser revisto dependendo do desempenho do grupo. O dinheiro é só um e se o montante que poderia ir para investimento sai do Brasil, ou da Argentina ou da Venezuela, é porque ele vai para outro lugar, tapar um buraco em outra região. A crise das empresas norte-americanas, principalmente na área de energia e de eletrônicos, fez as companhias dependerem ainda mais das subsidiárias. Toda essa situação pressionou os resultados das filiais.

Folha - Então as subsidiárias no Brasil pagaram a crise do setor privado americano?
Petras - Empresas nos EUA perderam dinheiro porque brincaram com o mercado e acreditaram que o mercado norte-americano era o mais seguro do mundo. O pior é que erraram. Por exemplo, empresas com braços no Brasil foram à bancarrota porque agiram de má fé, inventaram balanços que não existiam e criaram um clima de suspeita permanente. Como é o caso da Xerox, que deve ter pressionado a filial brasileira para alcançar metas no período em que estava mal das pernas. Mas isso é um caso específico, sem paralelo. No geral, não sei se a filial na China "paga a conta" dos maus resultados na Venezuela ou Argentina. O que existem são grupos com problemas financeiros, e que precisam achar formas de alcançar certo equilíbrio.

Folha - Como é a movimentação desses recursos?
Petras - Este dinheiro que sai como resultado das filiais de multinacionais repica para outras regiões e nem sempre para no caixa da empresa. Dependendo da situação, ajuda a tapar "buracos" causados por má administração da sede, queda nas vendas, etc.



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