São Paulo, terça-feira, 10 de fevereiro de 2004

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QUEDA-DE-BRAÇO

Supermercados recebem 75 novos pedidos de reajuste, no maior movimento coordenado de alta de preço em um ano

Indústria pressiona varejo por aumentos

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

As maiores indústrias do país solicitaram ao varejo reajustes de 2,5% a 40% nos preços de 75 produtos. A ação ganhou força redobrada nos últimos 20 dias, no maior movimento coordenado por aumentos em 12 meses.
O comércio analisa os pedidos. Querem elevar as tabelas empresas como Nestlé, Kraft Foods, Bombril, Sara Lee, Bunge, Cargill, Unilever, entre outras companhias da área de alimentos e higiene e limpeza, apurou a Folha. Alguns fornecedores são donos de mais de 50% do mercado em que pedem aumentos.
Entre as 75 mercadorias que são alvo de aumentos estão café, óleo de soja, arroz, feijão, enlatados, farinha -itens que compõem a cesta básica. Parte dos reajustes será repassada e chega às lojas em março, apurou a Folha.
As informações sobre aumentos diferem daquela apresentada pelo governo. Antonio Palocci Filho, ministro da Fazenda, disse há dez dias que os aumentos de preço aconteciam em itens sazonais.
Como justificativas para os pedidos de reajustes estão a elevação da alíquota da Cofins (Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social, que passou de 3% para 7,6% em alguns produtos e serviços) e a necessidade de repassar elevações no valor de certos insumos -que são dolarizados e subiram de preço em 2003.
Entre essas matérias-primas que subiram, as que compõem as embalagens pressionaram os custos de fabricação, alegam as indústrias. A forte alta do café também teria puxado os preços.
Companhias como Bunge Alimentos (fabricante do óleo Soya) e Cargill (dona do óleo Liza) pediram aumentos de 10% a 15% em suas linhas de óleos de soja. Na Kraft Foods, que controla a Lacta, os aumentos atingem até 15%. Entre os cafés, a marca Cacique pode subir até 22%. No arroz especial da Uncle Ben's, o aumento pedido varia de 10% a 40%.
Na área de higiene e limpeza, a Colgate-Palmolive apresentou tabelas com elevações que vão de 8% a 10%. A Reckitt Benckiser (fabricante de Veja e Destac) propõe aumento de 5% a 12% em suas linhas. A Bombril, que tem mais de 60% de participação de mercado em esponjas de aço, informa que irá reajustar em 4,3% o seu produto no dia 1º de março.
A elevação supera o reajuste total da esponja de aço em um ano: de fevereiro de 2003 a janeiro de 2004, a alta no valor do item foi de 0,47%, segundo o IPC/Fipe.
O óleo de soja, que pode sofrer alta de 10% a 15%, registrou queda nos valores praticados de fevereiro passado a janeiro (-5,6%).
Companhias como Gillette, Johnson & Johnson, Procter & Gamble e Unilever apresentaram novas tabelas também.

Sondagem
Na prática, empresas sondam o varejo por aumentos de forma freqüente. Duas características diferenciam esses pedidos hoje: 1) o tamanho do reajuste solicitado de uma vez só; 2) o volume de empresas atrás dos aumentos, solicitados na mesma hora.
Para João Carlos Oliveira, presidente da Abras, a entidade que representa os supermercados no país, o setor vive o seu "pior momento dos últimos 12 meses". O economista José Milton Dallari diz que a indústria "usa" a mudança na Cofins como justificativa para subir preços.
Espera-se que o mercado consumidor, com renda em queda, rejeite os aumentos. Essa expectativa tende a desestimular a ação das indústrias, que deve tentar negociar aumentos menores.
O comércio, por sua vez, se prepara para apresentar contraproposta às empresas, apurou a Folha. As lojas temem que, caso precisem aumentar mesmo os preços, tenham de reduzir as suas margens para desovar o estoque.


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