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QUEDA-DE-BRAÇO
Supermercados recebem 75 novos pedidos de reajuste, no maior movimento coordenado de alta de preço em um ano
Indústria pressiona varejo por aumentos
ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
As maiores indústrias do país
solicitaram ao varejo reajustes de
2,5% a 40% nos preços de 75 produtos. A ação ganhou força redobrada nos últimos 20 dias, no
maior movimento coordenado
por aumentos em 12 meses.
O comércio analisa os pedidos.
Querem elevar as tabelas empresas como Nestlé, Kraft Foods,
Bombril, Sara Lee, Bunge, Cargill,
Unilever, entre outras companhias da área de alimentos e higiene e limpeza, apurou a Folha. Alguns fornecedores são donos de
mais de 50% do mercado em que
pedem aumentos.
Entre as 75 mercadorias que são
alvo de aumentos estão café, óleo
de soja, arroz, feijão, enlatados, farinha -itens que compõem a
cesta básica. Parte dos reajustes
será repassada e chega às lojas em
março, apurou a Folha.
As informações sobre aumentos diferem daquela apresentada
pelo governo. Antonio Palocci Filho, ministro da Fazenda, disse há
dez dias que os aumentos de preço aconteciam em itens sazonais.
Como justificativas para os pedidos de reajustes estão a elevação
da alíquota da Cofins (Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social, que passou de
3% para 7,6% em alguns produtos
e serviços) e a necessidade de repassar elevações no valor de certos insumos -que são dolarizados e subiram de preço em 2003.
Entre essas matérias-primas
que subiram, as que compõem as
embalagens pressionaram os custos de fabricação, alegam as indústrias. A forte alta do café também teria puxado os preços.
Companhias como Bunge Alimentos (fabricante do óleo Soya)
e Cargill (dona do óleo Liza) pediram aumentos de 10% a 15% em
suas linhas de óleos de soja. Na
Kraft Foods, que controla a Lacta,
os aumentos atingem até 15%.
Entre os cafés, a marca Cacique
pode subir até 22%. No arroz especial da Uncle Ben's, o aumento
pedido varia de 10% a 40%.
Na área de higiene e limpeza, a
Colgate-Palmolive apresentou tabelas com elevações que vão de
8% a 10%. A Reckitt Benckiser (fabricante de Veja e Destac) propõe
aumento de 5% a 12% em suas linhas. A Bombril, que tem mais de
60% de participação de mercado
em esponjas de aço, informa que
irá reajustar em 4,3% o seu produto no dia 1º de março.
A elevação supera o reajuste total da esponja de aço em um ano:
de fevereiro de 2003 a janeiro de
2004, a alta no valor do item foi de
0,47%, segundo o IPC/Fipe.
O óleo de soja, que pode sofrer
alta de 10% a 15%, registrou queda nos valores praticados de fevereiro passado a janeiro (-5,6%).
Companhias como Gillette,
Johnson & Johnson, Procter &
Gamble e Unilever apresentaram
novas tabelas também.
Sondagem
Na prática, empresas sondam o
varejo por aumentos de forma
freqüente. Duas características diferenciam esses pedidos hoje: 1) o
tamanho do reajuste solicitado de
uma vez só; 2) o volume de empresas atrás dos aumentos, solicitados na mesma hora.
Para João Carlos Oliveira, presidente da Abras, a entidade que representa os supermercados no
país, o setor vive o seu "pior momento dos últimos 12 meses". O
economista José Milton Dallari
diz que a indústria "usa" a mudança na Cofins como justificativa para subir preços.
Espera-se que o mercado consumidor, com renda em queda,
rejeite os aumentos. Essa expectativa tende a desestimular a ação
das indústrias, que deve tentar negociar aumentos menores.
O comércio, por sua vez, se prepara para apresentar contraproposta às empresas, apurou a Folha. As lojas temem que, caso precisem aumentar mesmo os preços, tenham de reduzir as suas
margens para desovar o estoque.
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