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GRÃOS
Cereal que falta no mundo sobra no Brasil, mas há problemas na exportação pela concorrência com embarques de soja
Sobra milho no país, mas é difícil exportá-lo
MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO
Os estoques mundiais de milho
estão nos mais baixos níveis da
história e o Brasil deverá produzir
uma safra acima do consumo pelo segundo ano consecutivo. O
país teria tudo para matar parte
dessa fome de milho no mundo e
elevar ainda mais as receitas com
o agronegócio.
Teria, não fosse um pequeno
problema de logística. As exportações do cereal deverão ser interrompidas em março e só serão retomadas em setembro. De abril a
agosto, os portos, principalmente
o de Paranaguá (PR), estarão com
força total na exportação de soja.
Segundo dados do Departamento de Agricultura dos Estados
Unidos, os estoques mundiais de
milho caíram para 67,5 milhões
de toneladas em 2003 -apenas
10,5% do consumo. Os estoques
mundiais, que já atingiram 46%
do consumo anual na década de
80, estão baixos e caíram mais
acentuadamente nos últimos
anos porque desde 2000 a produção está abaixo do consumo.
O Brasil, ao contrário, produz
mais do que consome. O país, que
já teve safra recorde em 2003, voltará a ter boa oferta em 2004. Os
primeiros números da colheita de
verão, já iniciada, mostram uma
produtividade bem acima das expectativas no Paraná, o líder nacional em produção.
No entanto não será fácil exportar o excesso de produção devido
ao grande volume de soja que será
exportada neste ano. "Há dois
anos o Brasil exportou 15 milhões
de toneladas de soja. Neste ano serão 25 milhões de toneladas, e as
vias de saída são exatamente as
mesmas", diz Fernando Muraro,
analista da Agência Rural, de Curitiba (PR). "A safra cresce, mas a
infra-estrutura não acompanha."
Cenário incerto
Esse cenário traz uma dose de
incerteza para os produtores de
milho. Além de deixar o produto
praticamente dependente da procura interna (o que pode derrubar
os preços), as cooperativas e indústrias começam a limpar os armazéns -e jogar ainda mais produto no mercado- para deixar
espaço livre para a supersafra de
59 milhões de toneladas de soja.
"As exportações de milho nesta
safra vão depender de uma demanda muito forte do mercado
externo e do comportamento do
câmbio. Uma desvalorização
maior do real torna o produto
brasileiro mais competitivo no
mercado externo", diz Muraro.
Outro fator que pode jogar a favor do Brasil são as expectativas
de plantio dos norte-americanos,
que deverão ser divulgadas nas
próximas semanas. Os preços da
soja estão tão elevados que muitos produtores dos EUA já manifestaram intenção de trocar o cultivo do milho pelo de soja. Se isso
ocorrer, a demanda mundial fica
ainda mais aquecida.
Muraro acredita, no entanto,
que a procura interna por milho
deverá ser boa porque a demanda
externa por carnes brasileiras está
aquecida. O Brasil bateu recordes
nas vendas externas de carne de
frango, e a tendência para este ano
é de crescimento ainda maior devido à gripe do frango na Ásia.
Mesmo assim, ele acredita que os
preços médios deste ano serão inferiores aos registrados em 2003.
Pelas contas de Muraro, sobraram pelo menos 5 milhões de toneladas de milho da safra de 2003.
Esse volume, acrescido dos 33 milhões que serão produzidos na safra de verão e dos 12,7 milhões da
safrinha, garantirá ao país uma
oferta de 51 milhões de toneladas.
O consumo nacional pode chegar
a 40 milhões de toneladas, e as exportações, a 4 milhões. Sobram 7
milhões de toneladas, diz ele.
Com esses números de oferta de
milho, o país deixa de ser tão dependente da safrinha, como ocorreu nos anos anteriores. Mesmo
que haja quebra de produção no
inverno, não haverá redução
substancial na oferta nacional.
A Agência Rural traça ainda
dois cenários para a safrinha. Primeiro, mesmo com a quebra de
20% na safrinha, a produção nacional seria de 43 milhões de toneladas. Segundo, se a quebra chegar a 35%, a produção total seria
de 41 milhões de toneladas, ainda
acima do consumo nacional.
Em setembro, quando o país retomar as exportações de milho, os
preços devem subir, diz Muraro.
O câmbio e a demanda mundial
ditarão o volume exportado, que,
se for grande, jogará as cotações
internas para cima.
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