São Paulo, quarta-feira, 10 de março de 2004

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NA ÚLTIMA HORA

FMI decide esperar pagamento efetivo dos US$ 3,15 bilhões para se pronunciar hoje sobre a dívida da Argentina

Fundo evita comentar revisão de acordo

FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

Por precaução, o FMI (Fundo Monetário Internacional) tomou a decisão de não se pronunciar oficialmente ontem sobre a Argentina e a segunda revisão do atual acordo com o país.
Na tarde de ontem, o Fundo decidiu esperar o pagamento efetivo da parcela de US$ 3,15 bilhões devida pela Argentina à instituição para só então vir a público.
O fato revelou a incerteza das autoridades do Fundo em relação ao pagamento, mesmo após os sinais emitidos por Buenos Aires de que o país honraria a dívida.
Com o pagamento concretizado, o porta-voz do FMI, Thomas Dawson, fará somente hoje pela manhã uma avaliação do caso.
Uma entrevista marcada para quinta foi antecipada para hoje, quando Dawson deverá revelar mais detalhes do conteúdo e exigências incluídas nas negociações entre o FMI e a Argentina para a segunda revisão do atual acordo.
No final da tarde de ontem ainda estavam "em andamento" os detalhes da revisão, mas o FMI já tinha dados sinais positivos ao presidente Néstor Kirchner de que a revisão será recomendada ao comitê executivo do Fundo.
Ontem pela manhã, a diretora-gerente interina do FMI, Anne Krueger, telefonou a Kirchner sinalizando essa disposição.
O Departamento do Tesouro dos EUA teve novamente um papel importante no caso e foi o único entre os membros do G7 acionistas do FMI a recomendar a aprovação da revisão.
O objetivo norte-americano é evitar qualquer turbulência econômica na América Latina no momento em que o presidente George W. Bush afirma em sua campanha eleitoral estar obtendo uma "consolidação" da recuperação econômica dos EUA.
Para o Fundo, o não-pagamento também teria conseqüências imprevisíveis. Como terceiro devedor individual do Fundo, a Argentina tem pagamentos previstos de US$ 16,3 bilhões à instituição programados até 2008.
Só em 2004, o país precisa pagar US$ 6,8 bilhões. Outros US$ 4,3 bilhões vencem em 2005, e há mais US$ 3,2 bilhões e US$ 2 bilhões previstos para 2006 e 2007, respectivamente.
Um calote argentino também obrigaria o Fundo e sua instituição irmã, o Banco Mundial, a reconsiderarem as taxas de risco embutidas também em pacotes de ajuda e financiamento para todos os outros países da região, inclusive o Brasil. Assinado em 20 de setembro de 2003, o atual acordo entre o Fundo e a Argentina vale até setembro de 2006.
Embora Kirchner tenha de fato conquistado desta vez uma vitória política interna no embate com o Fundo Monetário Internacional, a expectativa é que o Fundo recoloque sobre a mesa exigências mais duras em setembro. A principal deverá ser o aumento da meta de superávit primário (economia para pagar dívidas), fixada em 3% para o país.


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