São Paulo, sexta-feira, 10 de março de 2006

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TENSÃO PÓS-COPOM

Em ano eleitoral, ministro perde força no debate sobre alta de gastos

Gradualismo do BC enfraquece Palocci

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O gradualismo do BC (Banco Central) no processo de redução de juros enfraquece mais o ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) nas discussões sobre a ampliação de gastos públicos neste ano eleitoral. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pretende ser candidato à reeleição.
Palocci já sofreu uma série de derrotas desde o início do ano para um grupo de ministros liderados por Dilma Rousseff (Casa Civil). Exemplos: aumento maior para o salário mínimo e medidas como o incentivo à formalização do emprego doméstico (isenção limitada da contribuição previdenciária do empregador).
De acordo com auxiliares diretos de Lula, o presidente, que estava na Inglaterra, reagiu mal à queda de 0,75 ponto percentual na taxa Selic, decisão tomada anteontem pelo Copom (Comitê de Política Monetária), órgão do BC que se reúne a cada 45 dias para definir os juros básicos da economia.
Lula e o próprio Palocci esperavam uma redução de um ponto percentual, objetivo que o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, prometeu tentar alcançar em reunião com o presidente e o ministro da Fazenda na quinta-feira da semana passada.
Dividido, o Copom decidiu por 6 a 3 reduzir a Selic de 17,25% ao ano para 16,5%. O presidente teme repetir o crescimento medíocre do PIB de 2005 (apenas 2,3%). Lembrou que Palocci e Meirelles prometeram taxa maior no ano passado e não entregaram.
Mais: Lula decidiu conceder isenção de Imposto de Renda aos investidores estrangeiros que compram títulos da dívida pública porque Palocci disse que ajudaria a reduzir mais os juros.
O presidente está insatisfeito e deverá adotar novas medidas do "pacote de bondades" do ano eleitoral. Foi assim em janeiro, quando o Copom o contrariou e cortou a Selic em 0,75 ponto.
Na semana seguinte à decisão de janeiro, Lula acertou com auxiliares maior liberdade de gastos públicos. Disse que seria contrapartida à decisão do Banco Central, que julgou "retranqueira".
Há queda-de-braço dentro da própria equipe econômica. Meirelles já disse a Lula e a Palocci que não tem controle sobre dois diretores que julga mais conservadores e que formariam opinião no Copom: Afonso Bevilaqua (Política Econômica) e Rodrigo Azevedo (Política Monetária).
No início de 2005, Lula determinou a Palocci a troca de diretores do BC. Mas a crise política, que começou com a derrota na eleição para presidente da Câmara e se agravou com o escândalo do "mensalão", deu trégua ao BC.
No fim de 2005, Bevilaqua e Azevedo articularam ameaça de renúncia coletiva da diretoria do BC diante das pressões de Lula para acelerar os juros quando ficou claro que o crescimento do PIB do ano seria pífio.
Na época, Palocci ponderou que seria pior retaliar o BC, pois o presidente estava mal nas pesquisas de opinião. Prometeu tentar acelerar a queda dos juros e entregar um crescimento econômico significativo na campanha eleitoral.
Dificilmente haverá no curto prazo mudanças na diretoria do BC. Mas o presidente tem dito que, num eventual segundo mandato, não enviará ao Congresso projeto de autonomia da instituição. Lula também pensa em mudar parte da diretoria num eventual segundo mandato.


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