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TENSÃO PÓS-COPOM
Em ano eleitoral, ministro perde força no debate sobre alta de gastos
Gradualismo do BC enfraquece Palocci
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O gradualismo do BC (Banco
Central) no processo de redução
de juros enfraquece mais o ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) nas discussões sobre a ampliação de gastos públicos neste
ano eleitoral. O presidente Luiz
Inácio Lula da Silva pretende ser
candidato à reeleição.
Palocci já sofreu uma série de
derrotas desde o início do ano para um grupo de ministros liderados por Dilma Rousseff (Casa Civil). Exemplos: aumento maior
para o salário mínimo e medidas
como o incentivo à formalização
do emprego doméstico (isenção
limitada da contribuição previdenciária do empregador).
De acordo com auxiliares diretos de Lula, o presidente, que estava na Inglaterra, reagiu mal à queda de 0,75 ponto percentual na taxa Selic, decisão tomada anteontem pelo Copom (Comitê de Política Monetária), órgão do BC que
se reúne a cada 45 dias para definir os juros básicos da economia.
Lula e o próprio Palocci esperavam uma redução de um ponto
percentual, objetivo que o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, prometeu tentar alcançar em reunião com o presidente e o ministro da Fazenda na
quinta-feira da semana passada.
Dividido, o Copom decidiu por
6 a 3 reduzir a Selic de 17,25% ao
ano para 16,5%. O presidente teme repetir o crescimento medíocre do PIB de 2005 (apenas 2,3%).
Lembrou que Palocci e Meirelles
prometeram taxa maior no ano
passado e não entregaram.
Mais: Lula decidiu conceder
isenção de Imposto de Renda aos
investidores estrangeiros que
compram títulos da dívida pública porque Palocci disse que ajudaria a reduzir mais os juros.
O presidente está insatisfeito e
deverá adotar novas medidas do
"pacote de bondades" do ano eleitoral. Foi assim em janeiro, quando o Copom o contrariou e cortou
a Selic em 0,75 ponto.
Na semana seguinte à decisão
de janeiro, Lula acertou com auxiliares maior liberdade de gastos
públicos. Disse que seria contrapartida à decisão do Banco Central, que julgou "retranqueira".
Há queda-de-braço dentro da
própria equipe econômica. Meirelles já disse a Lula e a Palocci que
não tem controle sobre dois diretores que julga mais conservadores e que formariam opinião no
Copom: Afonso Bevilaqua (Política Econômica) e Rodrigo Azevedo (Política Monetária).
No início de 2005, Lula determinou a Palocci a troca de diretores
do BC. Mas a crise política, que
começou com a derrota na eleição
para presidente da Câmara e se
agravou com o escândalo do
"mensalão", deu trégua ao BC.
No fim de 2005, Bevilaqua e
Azevedo articularam ameaça de
renúncia coletiva da diretoria do
BC diante das pressões de Lula
para acelerar os juros quando ficou claro que o crescimento do
PIB do ano seria pífio.
Na época, Palocci ponderou que
seria pior retaliar o BC, pois o presidente estava mal nas pesquisas
de opinião. Prometeu tentar acelerar a queda dos juros e entregar
um crescimento econômico significativo na campanha eleitoral.
Dificilmente haverá no curto
prazo mudanças na diretoria do
BC. Mas o presidente tem dito
que, num eventual segundo mandato, não enviará ao Congresso
projeto de autonomia da instituição. Lula também pensa em mudar parte da diretoria num eventual segundo mandato.
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