São Paulo, sexta-feira, 10 de março de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

LUÍS NASSIF

A revisão do programa nuclear

Tem história no anúncio do ministro de Ciência e Tecnologia, Sérgio Rezende, em Londres, de retomada do programa nuclear brasileiro. A história começou na viagem de Lula a China, que coincidiu com a divulgação do feito brasileiro de ter conseguido dominar o ciclo de enriquecimento de urânio.
Na época, houve uma consulta dos chineses sobre a possibilidade de o Brasil vender combustível. Chegou até a ser anunciado pelo então ministro, Eduardo Campos, o interesse da China em comprar urânio enriquecido do Brasil.
Na volta da viagem, Lula encomendou um estudo sobre o programa nuclear brasileiro à CNEN (Comissão Nacional de Energia Nuclear), ao INB (Indústria Nuclear Brasileira), à Nuclep e à Marinha. O estudo foi entregue a Lula, com o nome de "Revisão do Programa Nuclear Brasileiro".
Seguiu-se uma metodologia especial para traçar os cenários possíveis. Primeiro, definiram-se cenários para quatro temas: geração de energia, ciclo do combustível, outras aplicações (saúde, agricultura) e grau de dependência de importação de tecnologia.
Para cada uma dessas quatro dimensões, foram estabelecidos três cenários, um com as condições mínimas de operação, outro com condições médias e um terceiro com condições ideais.
A partir daí, surgiu um conjunto de 81 configurações possíveis, a partir de diversos enfoques, como viabilidade, conflito entre as análises das diversas dimensões. Dessa filtragem, restaram sete alternativas encaminhadas aos ministros de Ciência e Tecnologia, Minas e Energia e Casa Civil.
Lá, decidira por três alternativas. Aquela anunciada por Sérgio Rezende seria a alternativa ideal para preservar o conhecimento técnico brasileiro, produzir enriquecimento de urânio e desenvolver outras aplicações. Prevê sete novas usinas até 2022. Dessas, as primeiras seriam três usinas pequenas, desenvolvidas com a tecnologia da Marinha, com a função de recuperação a capacitações de pesquisa & desenvolvimento das instituições nucleares brasileiras. As usinas maiores seriam a médio prazo, dependendo da evolução da matriz energética.
Seria criado também um grupo permanente de acompanhamento, para garantir as condições gerais do programa e propor eventuais correções de rumo.
No final de 2004, esse estudo chegou à Presidência da República. Mas é apenas uma proposta que não se transformou, até agora, em programa de governo.
Durante o seminário "Novas Tecnologias do Setor Energético", foi salientado por representantes do CNEN e da Marinha que o Brasil, hoje em da, tem a oitava reserva de urânio do mundo, com a prospecção de apenas 30% do seu território. Com a incorporação de novas descobertas, saltará para segundo lugar.
Essa revisão do programa permitiria completar a construção de submarinos nucleares, inclusive para fins civis; porta-aviões; navios quebra-gelo, graneleiros e petroleiros, além de permitir programas de dessanilização da água do mar.
Aliás, o conjunto de programas de tecnologia paralisados por falta de verbas públicas é um dos maiores desperdícios cometidos pelo governo nessa ânsia de buscar o superávit primário sem nenhuma espécie de planejamento.


E-mail - Luisnassif@uol.com.br

Texto Anterior: Resultados 4: Ganho da Telemar cresce 48%
Próximo Texto: Soluço: Produção industrial recua 1,3% com ajuste de estoques
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.