São Paulo, sexta-feira, 10 de março de 2006

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SOLUÇO

Especialistas avaliam que resultado de janeiro representa "acomodação"

Produção industrial recua 1,3% com ajuste de estoques

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Na contramão de todas as projeções, a produção industrial caiu 1,3% em janeiro na comparação livre de efeitos sazonais com dezembro, divulgou ontem o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). É o pior resultado do setor desde setembro de 2005 (-2,2%) e acontece após três meses consecutivos de expansão. Em dezembro, a alta foi de 2,4%.
Sob influência do bom desempenho da indústria no fim de 2005 e de alguns resultados setoriais animadores (como consumo de energia e fabricação de veículos), bancos e consultorias mais otimistas chegaram a prever altas de até 1% em janeiro, embora a maior parte estimava incremento em torno de 0,5%. O piso das projeções apontava para queda em torno de -0,5% do índice.
Mas, apesar da frustração das expectativas e da retração de janeiro, o próprio IBGE e especialistas ouvidos pela Folha avaliam que o resultado representa mais uma "acomodação" da indústria, que acumulou estoques com a forte expansão de dezembro, do que uma reversão do processo de recuperação do setor, iniciado em outubro. O que houve, dizem, foi a desaceleração do crescimento.
"Até pelo perfil da taxa, com queda de categorias que haviam crescido muito em dezembro, identificamos que houve uma acomodação, uma desaceleração, que não comprometeu o sinal positivo que a produção da indústria mostra nos últimos meses", afirmou Silvio Sales, chefe da Coordenação de Indústria do IBGE.
A evolução média da indústria nos últimos meses comprova que a trajetória de expansão se manteve, acrescentou. Na média de novembro, dezembro e janeiro, a produção subiu 0,6% ante os três meses imediatamente anteriores -ritmo mais lento que o 1,2% de expansão registrado na média trimestral de outubro a dezembro.
Estêvão Kopschitz, economista do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), concorda: "O crescimento continua, mas houve uma redução de ritmo". Outro indicador aponta a continuidade do crescimento: a produção subiu 3,2% em relação a janeiro de 2005, na maior expansão desde agosto de 2005 (3,7%).
Por trás da perda de fôlego da indústria está, segundo os economistas, um ajuste de estoques, feito depois do forte crescimento da produção em dezembro (mês no qual não é esperado aquecimento tão significativo). Tal conclusão ganha força, avaliam, já que todos os indicadores se mantêm favoráveis ao incremento de produção -massa salarial e crédito em alta e juros em queda.
"As vendas industriais estão em alta [6,4% de dezembro a janeiro no Estado do Rio]. Isso é um indicativo de desova de estoques, o que abre espaço para que a indústria volte a crescer já em fevereiro", disse Luciana Sá, economista da Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro).
Para Marcela Prada, da Tendências, a retração de janeiro "devolveu" o crescimento acima do habitual de dezembro e está ligada ao ajuste de estoques. Na avaliação dela, "a queda não deve se repetir" em fevereiro.


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