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COMÉRCIO GLOBAL
Em Londres, presidente não detalha medidas
Lula diz que país fará concessões em serviços e bens industriais
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A LONDRES
FÁBIO VICTOR
DE LONDRES
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva disse ontem que o Brasil "está disposto a fazer as concessões
necessárias" nas áreas de serviços
e bens industrias, como forma de
desbloquear a Rodada Doha de
Desenvolvimento, lançada em
2001 na capital do Qatar e virtualmente paralisada desde então.
Mas Lula negou-se a dizer o que
e quanto o Brasil está pronto a ceder. "É segredo de Estado que vamos colocar à mesa de acordo
com as ofertas que recebermos",
afirmou, em entrevista no número 10 de Downing Street, a residência e local de trabalho dos premiês britânicos, onde se reuniu e
teve almoço de trabalho com
Tony Blair, o atual premiê.
As informações do presidente
referem-se à fase em que entraram as negociações da Rodada
Doha: depois de um longo período em que toda a discussão estava
centrada na necessidade da liberalização do setor agrícola por
parte dos países ricos (os grandes
protecionistas), agora bens industriais e serviços entram no jogo.
Lula estabeleceu limites para as
concessões brasileiras: "Mesa de
negociação é uma caixa de surpresas em que você conquista pedaços e cede pedaços de acordo
com o resultado que você quer
conquistar", afirmou. Em seguida, descreveu o que o país quer
conquistar e o que pode ceder, de
forma genérica: "O Brasil, da mesma forma que exige que o mundo
desenvolvido abra mão dos subsídios, sobretudo na área agrícola,
está disposto a fazer as concessões
necessárias de acordo com nossas
possibilidades e proporcionais ao
nosso desenvolvimento e ao nosso poderio econômico".
As negociações comerciais ocuparam a maior parte do tempo da
conversa entre Lula e Tony Blair,
conforme o próprio Blair diria depois aos jornalistas.
Foi também o tema de uma declaração específica dos dois governantes, em tom de chamada de
atenção para outros líderes. "O
tempo está se esgotando", diz a
nota, para acrescentar que "é preciso mais liderança de todos os lados" para romper o impasse.
Mais liderança significa que Lula e Blair se empenharão em "convencer outros líderes mundiais"
para que participem de uma reunião de cúpula "o mais breve possível para dar impulso a essas negociações", conforme o presidente brasileiro diria em seu próprio
relato do encontro com o premiê.
Mas as perspectivas de uma cúpula a curto prazo tendem a zero.
Marco Aurélio Garcia, assessor
diplomático de Lula, calcula que,
na melhor das hipóteses, o encontro se definirá na cúpula União
Européia/América Latina e Caribe, marcada para maio.
Tanto a nota como as declarações de Blair enfatizaram uma
dramática relação custo/benefício
entre o sucesso e o fracasso de Doha. O sucesso, diz a nota, "poderia
tirar milhões de pessoas da pobreza, produzir ganhos econômicos
de até US$ 600 bilhões por ano e
mostrar que a globalização pode
beneficiar os pobres assim como
os ricos". O fracasso, acha Blair,
representaria uma demonstração
de baixo nível de compromisso
com o sistema multilateral (no caso, o de comércio).
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