São Paulo, sexta-feira, 10 de março de 2006

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COMÉRCIO GLOBAL

Em Londres, presidente não detalha medidas

Lula diz que país fará concessões em serviços e bens industriais

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A LONDRES

FÁBIO VICTOR
DE LONDRES

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que o Brasil "está disposto a fazer as concessões necessárias" nas áreas de serviços e bens industrias, como forma de desbloquear a Rodada Doha de Desenvolvimento, lançada em 2001 na capital do Qatar e virtualmente paralisada desde então.
Mas Lula negou-se a dizer o que e quanto o Brasil está pronto a ceder. "É segredo de Estado que vamos colocar à mesa de acordo com as ofertas que recebermos", afirmou, em entrevista no número 10 de Downing Street, a residência e local de trabalho dos premiês britânicos, onde se reuniu e teve almoço de trabalho com Tony Blair, o atual premiê.
As informações do presidente referem-se à fase em que entraram as negociações da Rodada Doha: depois de um longo período em que toda a discussão estava centrada na necessidade da liberalização do setor agrícola por parte dos países ricos (os grandes protecionistas), agora bens industriais e serviços entram no jogo.
Lula estabeleceu limites para as concessões brasileiras: "Mesa de negociação é uma caixa de surpresas em que você conquista pedaços e cede pedaços de acordo com o resultado que você quer conquistar", afirmou. Em seguida, descreveu o que o país quer conquistar e o que pode ceder, de forma genérica: "O Brasil, da mesma forma que exige que o mundo desenvolvido abra mão dos subsídios, sobretudo na área agrícola, está disposto a fazer as concessões necessárias de acordo com nossas possibilidades e proporcionais ao nosso desenvolvimento e ao nosso poderio econômico".
As negociações comerciais ocuparam a maior parte do tempo da conversa entre Lula e Tony Blair, conforme o próprio Blair diria depois aos jornalistas.
Foi também o tema de uma declaração específica dos dois governantes, em tom de chamada de atenção para outros líderes. "O tempo está se esgotando", diz a nota, para acrescentar que "é preciso mais liderança de todos os lados" para romper o impasse.
Mais liderança significa que Lula e Blair se empenharão em "convencer outros líderes mundiais" para que participem de uma reunião de cúpula "o mais breve possível para dar impulso a essas negociações", conforme o presidente brasileiro diria em seu próprio relato do encontro com o premiê.
Mas as perspectivas de uma cúpula a curto prazo tendem a zero. Marco Aurélio Garcia, assessor diplomático de Lula, calcula que, na melhor das hipóteses, o encontro se definirá na cúpula União Européia/América Latina e Caribe, marcada para maio.
Tanto a nota como as declarações de Blair enfatizaram uma dramática relação custo/benefício entre o sucesso e o fracasso de Doha. O sucesso, diz a nota, "poderia tirar milhões de pessoas da pobreza, produzir ganhos econômicos de até US$ 600 bilhões por ano e mostrar que a globalização pode beneficiar os pobres assim como os ricos". O fracasso, acha Blair, representaria uma demonstração de baixo nível de compromisso com o sistema multilateral (no caso, o de comércio).


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