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LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA
Crescimento e desindustrialização
O desenvolvimento
será "sustentado" enquanto
nossas reservas não
começarem a novamente cair
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OS JORNAIS estão cheios de notícias agradáveis sobre a economia brasileira. O crescimento do PIB em 2007 foi superior a 5%, a dívida externa financeira zerou, a indústria está crescendo. A ortodoxia convencional conclui desses fatos, primeiro, que a política macroeconômica é correta; segundo,
que não existe doença holandesa;
terceiro, que afinal voltamos a nos
desenvolver de forma sustentada.
Esses são três equívocos: a indústria
cresce, mas a economia se desindustrializa devido à doença holandesa
não neutralizada, e o equilíbrio das
contas externas está novamente
sendo perdido.
O crescimento não é conseqüência da política macroeconômica
adotada, mas do enorme aumento
das exportações e da política de salário mínimo e do Bolsa Família. Esses dois fatos elevaram respectivamente o mercado externo e interno,
contrabalançando o tripé convencional "câmbio apreciado, juro alto e
ajuste fiscal frouxo". As exportações
foram puxadas pelo aumento dos
preços das commodities, enquanto
o mercado interno crescia graças a
uma política de distribuição.
Nesse quadro, o crescimento industrial ocorre enquanto a doença
holandesa se agrava. Não há contradição nessa frase. Afirmar que no
Brasil não há doença holandesa
quando vemos forte e sustentada
apreciação do real sem grande prejuízo para as exportações é o mesmo
que dizer que não há aumento das
chuvas embora os rios estejam
transbordando. O Brasil, graças a
seus recursos abundantes e baratos,
sempre teve doença holandesa, mas
a neutralizava por meio de sistema
de tarifas de importação e subsídios
à exportação; desde 1990/92, deixou
quase inteiramente de neutralizá-la,
ocorrendo, em conseqüência, apreciação efetiva do real. A partir de
2002, a doença se agravou devido à
melhoria das relações de troca que
viabilizou uma taxa de câmbio ainda
mais apreciada sem prejuízo para a
exportação das commodities.
A desindustrialização está em
marcha, mas é gradual, porque a gravidade da doença holandesa brasileira, medida pela diferença entre a
taxa de câmbio que equilibra a conta
corrente e a taxa de câmbio necessária para o desenvolvimento industrial, não é tão grande quanto a existente nos países grandes exportadores de petróleo. É gradual também
porque tarifas de importação ainda
protegem algumas indústrias, não
lhes permitindo exportar, mas reservando-lhes o mercado interno. O
gráfico confirma o que a teoria prevê. Desde 1990/92, quando deixamos de neutralizar a doença holandesa, a participação no total das exportações dos bens manufaturados
e semimanufaturados não pára de
cair. A indústria de transformação
naturalmente cresceu nesse período, mas muito menos que a produção de bens básicos, e em grande
parte graças ao mercado interno.
E quanto ao "desenvolvimento
sustentado"? Estará sustentado enquanto os preços das commodities
estiverem altos; enquanto o aumento do déficit em conta corrente não
for explosivo, como já é o aumento
das importações; e enquanto nossas
reservas não começarem a novamente cair.
LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA , 73, professor emérito
da FGV, ex-ministro da Fazenda, da Reforma do Estado e
da Ciência e Tecnologia, é autor de "Macroeconomia da Estagnação: Crítica da Ortodoxia Convencional no Brasil pós-1994".
www.bresserpereira.org.br
lcbresser@uol.com.br
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