São Paulo, sábado, 10 de abril de 2010

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ANÁLISE

Aprendendo com a Grécia

PAUL KRUGMAN
DO "NEW YORK TIMES"

A crise da dívida na Grécia está se aproximando do ponto de ebulição. Com perspectivas cada vez menos favoráveis de sucesso quanto a um plano de resgate, em larga medida devido à teimosia da Alemanha, os investidores estão empurrando as taxas de juros dos títulos do governo grego às alturas, e isso eleva seriamente os custos de captação do país. A situação agrava o endividamento grego.
É uma história terrível, e claramente serve de lição. Sim, a Grécia está pagando o preço da irresponsabilidade fiscal. Mas a tragédia grega também ilustra o perigo de uma política monetária deflacionária.
A dívida pública grega, de 113% do PIB, é certamente elevada, mas outros países enfrentaram carga semelhante. Em 1946, os Estados Unidos, recém-egressos da Segunda Guerra Mundial, tinham uma dívida federal equivalente a 122% de seu PIB. Mas os investidores não estavam preocupados: em dez anos, a relação dívida e PIB caiu quase à metade.
Assim, de que maneira o governo conseguiu pagar sua dívida de guerra? Na verdade, não pagou. A relação entre PIB e dívida caiu não porque a dívida tenha reduzido, mas porque o PIB cresceu. Infelizmente, a Grécia não pode esperar desempenho semelhante por causa do euro.
Até recentemente, ser membro da zona do euro oferecia empréstimos de baixo custo e amplos influxos de capital. Mas esses influxos resultaram em inflação e, quando chegou a crise, a Grécia tinha preços e custos desalinhados com os da Europa. Os preços gregos terão de cair. Significa que a Grécia verá a carga de dívidas agravada pela inflação, que inevitavelmente acarreta custos em termos de crescimento e emprego. Assim, a Grécia não vai eliminar a dívida via crescimento.
Com isso, a única maneira de controlar a dívida seria um corte nos gastos acompanhado por aumento de impostos, medidas que resultariam em agravamento do desemprego. O que pode ser feito? A esperança era a de que os países da Europa fechassem um acordo, garantindo as dívidas gregas.
Mas, sem o apoio da Alemanha, esse acordo não vai acontecer. A Grécia poderia escapar de alguns de seus problemas abandonando o euro e desvalorizando a moeda. Mas é difícil ver como o país poderia fazê-lo sem causar corrida catastrófica ao seu sistema bancário.

Lições para os EUA
A Grécia ensina aos EUA que devemos ter responsabilidade fiscal. Mas o verdadeiro significado é encarar questões de longo prazo, acima de tudo os custos da saúde, e não fazer pose e propor medidas ridículas contra estímulo de curto prazo. Outro fator igualmente importante, porém, é a necessidade de evitar deflação, ou mesmo inflação baixa demais. Ao contrário da Grécia, não precisamos viver com a moeda alheia. Mas, como o Japão já demonstrou, até mesmo países com moeda própria podem cair na armadilha deflacionária.
O que me preocupa mais sobre a situação dos EUA é o clamor da linha dura anti-inflacionária, que deseja que o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) eleve as taxas de juros. Caso eles consigam o que desejam, perpetuarão o desemprego. Mas isso não é tudo. A dívida pública norte-americana será administrável no futuro caso retomemos o crescimento vigoroso e a inflação moderada.

Tradução de PAULO MIGLIACCI



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