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Leilão de crédito de carbono fracassa na Bolsa
Termina sem negócio a estreia do mercado voluntário na BM&FBovespa, também a primeira tentativa pós-Copenhague
Falta de regulação e baixo volume de transações ainda são empecilhos para crédito voluntário ser negociado
na Bolsa, afirma analista
NATÁLIA PAIVA
DA REDAÇÃO
A primeira tentativa no Brasil de leiloar créditos de carbono no mercado voluntário (fora
do Protocolo de Kyoto) fracassou anteontem, numa prova de
que esse tipo de transação ainda está longe de se consolidar.
Mas apenas o fato de o crédito
voluntário chegar à Bolsa foi
considerado, por analistas e
ambientalistas, um avanço.
Foram ofertadas em leilão na
BM&FBovespa 180 mil unidades voluntárias de carbono (cada unidade representa uma tonelada de CO2 equivalente poupada) a preços mínimos de R$
10 e R$ 12, mas nenhum lote foi
arrematado pelos quatro participantes, formados por brasileiros e estrangeiros. Em dezembro, o leilão fora adiado devido à falta de inscritos.
Os nove projetos, administrados pela Carbono Social,
eram de cerâmicas de São Paulo, Minas, Rio, Pará, Pernambuco e Sergipe, que reduziram
emissões ao substituir lenha
nativa por biomassa (como bagaço de cana e casca de arroz).
"Nossa interpretação é que
[o leilão] não foi um sucesso, já
que não conseguimos vender,
mas foi um progresso. Conseguimos que a Bolsa supervisionasse e que a CVM [Comissão
de Valores Mobiliários] desse
aval", diz Cinthia Caetano, da
Carbono Social. A ida para a
Bolsa é vista como uma forma
de dar mais transparência a um
processo ainda muito baseado
na confiança e de estabelecer
índices de precificação.
Marco Fujihara, diretor da
KeyAssociados, avalia que o
leilão não deu certo porque
"ainda não há volume de transação suficiente para o produto
estar na Bolsa" e, também, porque o mercado voluntário não
tem uma regulação, "de todo
mundo saber onde se compra e
se vende". Não há dados precisos, mas se estima que, no Brasil, esse mercado tenha movimentado US$ 5 milhões em
2009 -no regulado, foram
US$ 476 milhões.
No comércio de crédito de
carbono, há dois tipos de mercado: o regulado, no qual os
créditos são certificados pela
ONU e comprados por instituições em países com metas obrigatórias de redução, e o voluntário, no qual o crédito é auditado por uma entidade independente e comprado por investidores e por empresas que
querem reduzir emissões voluntariamente -turbinando os
relatórios de sustentabilidade.
O mercado voluntário foi o
mais afetado pela crise econômica global iniciada em 2008.
"Se o negócio está no vermelho, a primeira coisa que você
corta é o verde", resume Divaldo Rezende, diretor-executivo
da consultoria CantorCO2e
Brasil. Segundo estimativa da
Bloomberg New Energy Finance, o mercado movimentou entre US$ 171 milhões e US$ 261
milhões em 2009, encolhendo
ao menos 76% em um ano.
O impasse em relação a um
acordo global de metas de redução -fracasso da conferência do clima em Copenhague e
pessimismo em relação à próxima, no México- e, no Brasil,
a falta de detalhamento das políticas climáticas nacional e
paulista aumentam incertezas
para o investidor. "O comprador "compliance" [voluntário]
ainda tem dúvida. Outro aspecto é que aquele comprador-investidor ainda não sabe como
se movimenta e se liquida esse
produto, principalmente no
Brasil, onde tudo é extremamente novo", afirma Rezende.
Um dia antes do leilão, Fiesp
e ABNT (Associação Brasileira
de Normas Técnicas) formaram uma comissão para criar
normas locais de regulação
desse mercado. Fujihara, coordenador do grupo, diz que para
o mercado funcionar é preciso
adaptar padrões europeus, formulados para clima e ambiente
diferentes. A comissão deverá
levar cerca de um ano para
apresentar alguma proposta.
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