São Paulo, quarta-feira, 10 de maio de 2000


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POLÍTICA MONETÁRIA
Bancos pediram 21,7% por títulos prefixados de um ano
Governo resiste e suspende leilão

LEONARDO SOUZA
DA REPORTAGEM LOCAL

O governo decidiu "dobrar" o mercado financeiro na disputa travada para a formação dos juros. O Tesouro Nacional não aceitou pagar taxa de 21,7% sobre as LTNs (papéis prefixados) de um ano, como o mercado exigiu para adquirir os títulos, e suspendeu o leilão que faria ontem. O Tesouro iria vender R$ 1 bilhão em LTNs.
Profissionais do mercado ouvidos pela Folha avaliaram que o cancelamento foi uma decisão acertada e que as instituições financeiras pedirão taxas menores no próximo leilão. "O Tesouro deveria ter feito isso antes. O mercado exagerou hoje (ontem), mas certamente na semana que vem pedirá juros menores", disse Sérgio Machado, diretor de tesouraria do banco Fator.
As LTNs (Letras do Tesouro Nacional) são títulos emitidos pelo governo para financiar a dívida pública do país. Quando os investidores compram esses papéis, emprestam dinheiro ao governo, mas cobram juros por isso. Se o mercado está apreensivo, pede taxas mais altas para emprestar dinheiro. Os juros básicos da economia (taxa Selic), que servem de parâmetro para o mercado, estão em 18,5% ao ano.
Desde que as Bolsas de valores norte-americanas tornaram-se bastantes instáveis, dois meses atrás, o mercado tem exigido juros cada vez mais altos para emprestar dinheiro ao governo. Na semana passada, as LTNs de um ano pagaram taxa de 20,3%.
"Se o governo não suspendesse esse leilão, provavelmente o mercado pediria juros ainda maiores na semana que vem. Agora, tenho certeza de que a taxa exigida pelo mercado na próxima será menor", disse Flávio Bojikian, da BankBoston Asset.
Segundo Machado, muitos investidores de grande porte estão fora do mercado de títulos prefixados porque já detêm grande volume dos papéis, diminuindo a procura pelas LTNs, o que também tem contribuído para o aumento das taxas pedidas.
Como o Tesouro suspendeu o leilão, diminuiu a oferta de papéis, o que influencia na queda da taxas. "Veremos juros mais baixos no próximo leilão", disse Joaquim Paulo Kokudai, do banco Lloyds.
Apesar do fracasso do leilão de ontem, o secretário do Tesouro, Fábio Barbosa, disse que o Tesouro continuará oferecendo LTNs conforme o cronograma de leilões fixado para este mês. "Se vamos vender ou não, é outra história."
Segundo o secretário, a visão dos investidores sobre o cenário econômico está muito "descolada" da visão do governo. "O Tesouro não aceita pagar qualquer preço. Nós entendemos que as ofertas de ontem não refletiram os resultados que temos apresentado em termos de política fiscal", explicou.
Barbosa admitiu que há uma "certa tensão" no mercado por causa do cenário externo instável e a possibilidade de um aumento maior do que o previsto das taxas de juros nos Estados Unidos.
Ontem, o Tesouro só conseguiu vender papéis pós-fixados, cuja remuneração varia de acordo com a taxa selic. Quando há muita volatilidade, os investidores correm para os papéis pós-fixados.
Para Bojikian, a medida de suspender o leilão só tem efeito porque os indicadores nacionais estão positivos, como a inflação.


Colaborou a Sucursal de Brasília


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