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POLÍTICA MONETÁRIA
Bancos pediram 21,7% por títulos prefixados de um ano
Governo resiste e suspende leilão
LEONARDO SOUZA
DA REPORTAGEM LOCAL
O governo decidiu "dobrar" o
mercado financeiro na disputa
travada para a formação dos juros. O Tesouro Nacional não aceitou pagar taxa de 21,7% sobre as
LTNs (papéis prefixados) de um
ano, como o mercado exigiu para
adquirir os títulos, e suspendeu o
leilão que faria ontem. O Tesouro
iria vender R$ 1 bilhão em LTNs.
Profissionais do mercado ouvidos pela Folha avaliaram que o
cancelamento foi uma decisão
acertada e que as instituições financeiras pedirão taxas menores
no próximo leilão. "O Tesouro
deveria ter feito isso antes. O mercado exagerou hoje (ontem), mas
certamente na semana que vem
pedirá juros menores", disse Sérgio Machado, diretor de tesouraria do banco Fator.
As LTNs (Letras do Tesouro
Nacional) são títulos emitidos pelo governo para financiar a dívida
pública do país. Quando os investidores compram esses papéis,
emprestam dinheiro ao governo,
mas cobram juros por isso. Se o
mercado está apreensivo, pede taxas mais altas para emprestar dinheiro. Os juros básicos da economia (taxa Selic), que servem de
parâmetro para o mercado, estão
em 18,5% ao ano.
Desde que as Bolsas de valores
norte-americanas tornaram-se
bastantes instáveis, dois meses
atrás, o mercado tem exigido juros cada vez mais altos para emprestar dinheiro ao governo. Na
semana passada, as LTNs de um
ano pagaram taxa de 20,3%.
"Se o governo não suspendesse
esse leilão, provavelmente o mercado pediria juros ainda maiores
na semana que vem. Agora, tenho
certeza de que a taxa exigida pelo
mercado na próxima será menor", disse Flávio Bojikian, da
BankBoston Asset.
Segundo Machado, muitos investidores de grande porte estão
fora do mercado de títulos prefixados porque já detêm grande volume dos papéis, diminuindo a
procura pelas LTNs, o que também tem contribuído para o aumento das taxas pedidas.
Como o Tesouro suspendeu o
leilão, diminuiu a oferta de papéis, o que influencia na queda da
taxas. "Veremos juros mais baixos no próximo leilão", disse Joaquim Paulo Kokudai, do banco
Lloyds.
Apesar do fracasso do leilão de
ontem, o secretário do Tesouro,
Fábio Barbosa, disse que o Tesouro continuará oferecendo LTNs
conforme o cronograma de leilões fixado para este mês. "Se vamos vender ou não, é outra história."
Segundo o secretário, a visão
dos investidores sobre o cenário
econômico está muito "descolada" da visão do governo. "O Tesouro não aceita pagar qualquer
preço. Nós entendemos que as
ofertas de ontem não refletiram
os resultados que temos apresentado em termos de política fiscal",
explicou.
Barbosa admitiu que há uma
"certa tensão" no mercado por
causa do cenário externo instável
e a possibilidade de um aumento
maior do que o previsto das taxas
de juros nos Estados Unidos.
Ontem, o Tesouro só conseguiu
vender papéis pós-fixados, cuja
remuneração varia de acordo
com a taxa selic. Quando há muita
volatilidade, os investidores correm para os papéis pós-fixados.
Para Bojikian, a medida de suspender o leilão só tem efeito porque os indicadores nacionais estão positivos, como a inflação.
Colaborou a Sucursal de Brasília
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