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CONJUNTURA
Ministro afirma, em cúpula do Mercosul no Rio, que o Brasil está em situação humilhante perante outros países
Mazela social "humilha" o país, diz Malan
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL AO RIO
O ministro da Fazenda, Pedro
Malan, disse ontem que "as mazelas sociais nos humilham perante
o resto do mundo e deveriam humilhar as elites".
A frase, em entrevista coletiva à
margem da 6ª Cúpula Econômica
do Mercosul, foi uma resposta às
críticas da secretária norte-americana de Estado, Madeleine Albright, para quem uma década de
reformas econômicas na América
Latina não foi suficiente nem para
reduzir a pobreza nem para diminuir a brecha social, a maior do
mundo.
Para Malan, a opinião de "analistas externos" é dispensável e
nem deveria ser manchete. "Não é
novidade para ninguém", disse o
ministro, referindo-se ao que chamou de mazelas sociais.
Mas o ministro fez questão de
dizer que, "ao contrário do que
querem alguns", a situação no
Brasil "não vem se deteriorando".
Parece alusão ao relatório do BID
(Banco Interamericano de Desenvolvimento), também divulgado
na semana passada, em que se diz
que a América Latina regrediu,
em termos de desigualdade social,
na comparação com Ásia, Leste
Europeu e Oriente Médio.
Antes, em palestra na cúpula, o
ministro havia defendido a tese de
que "certos princípios básicos de
gestão da coisa pública", como estabilidade econômica e respeito
às restrições orçamentárias, deveriam ser tomados como regra de
ouro, insuscetíveis de discussões
ideológicas ou políticas.
Tais princípios, sempre segundo Malan, "não são neo-alguma
coisa, mas responsabilidade de
qualquer governo minimamente
sério".
Na entrevista, a Folha quis saber se Malan não estaria reescrevendo a teoria, vigente durante o
regime militar, de que era preciso
antes fazer o bolo crescer para depois distribuí-lo. Agora, seria preciso respeitar os "princípios básicos de gestão da coisa pública".
Malan respondeu: "Não vejo essas coisas como uma sequência.
Antes isto, e depois aquilo. Nunca
fiz separação do mundo do econômico do mundo social, político
e humano".
Mais: "O objetivo último da política econômica é melhorar as
condições de vida da população".
Na sua palestra, Malan descartou a dolarização da economia do
país. "Não acho que seja alternativa a ser considerada." Mas pediu
o acompanhamento atento da
evolução do Equador, que adotou
recentemente a dolarização, porque "terá implicações para toda a
América Latina, seja bem ou malsucedida".
Quem pôs sal no debate foi
Eduardo Conesa, professor de
Macroeconomia da Universidade
de Buenos Aires, ao sugerir que a
Argentina abandone o esquema
cambial em que o peso local está
atrelado rigidamente ao dólar.
Para Conesa, esse esquema é
responsável pelos 28% de desemprego aberto ou disfarçado que as
estatísticas argentinas registram.
"É uma intervenção arbitrária do
Estado, que tem importantes consequências negativas para nosso
país", disse o especialista.
Malan evitou comentar a observação de Conesa. Disse apenas
que qualquer arranjo cambial pode produzir desenvolvimento e
melhoria das condições de vida,
desde que seja compatível com o
restante das políticas adotadas
pelo país. Mas não disse se as demais políticas seguidas na Argentina são ou não compatíveis com
a rigidez do câmbio fixo.
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