São Paulo, quarta-feira, 10 de maio de 2000


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CONJUNTURA
Ministro afirma, em cúpula do Mercosul no Rio, que o Brasil está em situação humilhante perante outros países
Mazela social "humilha" o país, diz Malan

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

O ministro da Fazenda, Pedro Malan, disse ontem que "as mazelas sociais nos humilham perante o resto do mundo e deveriam humilhar as elites".
A frase, em entrevista coletiva à margem da 6ª Cúpula Econômica do Mercosul, foi uma resposta às críticas da secretária norte-americana de Estado, Madeleine Albright, para quem uma década de reformas econômicas na América Latina não foi suficiente nem para reduzir a pobreza nem para diminuir a brecha social, a maior do mundo.
Para Malan, a opinião de "analistas externos" é dispensável e nem deveria ser manchete. "Não é novidade para ninguém", disse o ministro, referindo-se ao que chamou de mazelas sociais.
Mas o ministro fez questão de dizer que, "ao contrário do que querem alguns", a situação no Brasil "não vem se deteriorando". Parece alusão ao relatório do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), também divulgado na semana passada, em que se diz que a América Latina regrediu, em termos de desigualdade social, na comparação com Ásia, Leste Europeu e Oriente Médio.
Antes, em palestra na cúpula, o ministro havia defendido a tese de que "certos princípios básicos de gestão da coisa pública", como estabilidade econômica e respeito às restrições orçamentárias, deveriam ser tomados como regra de ouro, insuscetíveis de discussões ideológicas ou políticas.
Tais princípios, sempre segundo Malan, "não são neo-alguma coisa, mas responsabilidade de qualquer governo minimamente sério".
Na entrevista, a Folha quis saber se Malan não estaria reescrevendo a teoria, vigente durante o regime militar, de que era preciso antes fazer o bolo crescer para depois distribuí-lo. Agora, seria preciso respeitar os "princípios básicos de gestão da coisa pública".
Malan respondeu: "Não vejo essas coisas como uma sequência. Antes isto, e depois aquilo. Nunca fiz separação do mundo do econômico do mundo social, político e humano".
Mais: "O objetivo último da política econômica é melhorar as condições de vida da população".
Na sua palestra, Malan descartou a dolarização da economia do país. "Não acho que seja alternativa a ser considerada." Mas pediu o acompanhamento atento da evolução do Equador, que adotou recentemente a dolarização, porque "terá implicações para toda a América Latina, seja bem ou malsucedida".
Quem pôs sal no debate foi Eduardo Conesa, professor de Macroeconomia da Universidade de Buenos Aires, ao sugerir que a Argentina abandone o esquema cambial em que o peso local está atrelado rigidamente ao dólar.
Para Conesa, esse esquema é responsável pelos 28% de desemprego aberto ou disfarçado que as estatísticas argentinas registram. "É uma intervenção arbitrária do Estado, que tem importantes consequências negativas para nosso país", disse o especialista.
Malan evitou comentar a observação de Conesa. Disse apenas que qualquer arranjo cambial pode produzir desenvolvimento e melhoria das condições de vida, desde que seja compatível com o restante das políticas adotadas pelo país. Mas não disse se as demais políticas seguidas na Argentina são ou não compatíveis com a rigidez do câmbio fixo.


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