São Paulo, sexta-feira, 10 de maio de 2002

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MERCADO TENSO

Mais do que eleições, indicadores negativos trazem pessimismo

Deterioração da economia afeta ânimo do investidor

DA REPORTAGEM LOCAL

O dólar e o risco-país voltaram a subir, supostamente, por causa do cenário eleitoral. Mas alguns analistas ressaltam que não são apenas os resultados das pesquisas de intenção de voto que tornaram o país mais vulnerável. Pelo contrário, o mau desempenho da economia brasileira seria a razão para o mau humor do mercado.
De fato, os resultados do primeiro trimestre não são animadores. Na quarta-feira o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) revelou que a produção da indústria, após um ensaio de recuperação que durou quatro meses, caiu 0,8% em março.
Em fevereiro, o rendimento dos trabalhadores caiu 1% em relação a janeiro. A pesquisa do nível de atividade da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) revela queda nas contratações.
"Os sinais de recuperação estão atrasados. A indústria não contratou em março, o que mostra que a recuperação ainda não está tão próxima", afirma Clarice Messer, diretora da Fiesp.
Analistas de bancos e consultorias começaram a rever suas previsões. Já começam a afirmar que o Brasil não deve crescer mais do que 2% neste ano. Antes, o crescimento previsto era de 2,5%.
O baixo crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) pode fazer com que piorem indicadores como a relação entre as dívidas externa e interna e o PIB.
A balança comercial brasileira acumula superávit de US$ 1,5 bilhão neste ano, mas à custa de queda das importações. As exportações de abril, por exemplo, caíram quase 2% em relação ao mesmo mês do ano passado.
Outro revés enfrentado pelo Brasil é a queda da confiança dos investidores internacionais. Não apenas em relação ao país, mas a todos os mercados emergentes.
No primeiro trimestre, o volume de negócios com títulos de países emergentes caiu 4% em relação ao trimestre anterior e 14% em relação ao mesmo período do ano passado. Ou seja, há uma menor procura pelos títulos desses países. Apenas o Brasil escapou da queda, e o volume de negócios com os títulos brasileiros subiu 4%. Mas a retração geral mostra que o apetite por títulos está diminuindo, o que ajuda a explicar parte do aumento do risco-país.
Outro indicador que preocupa investidores é o nível da dívida pública, que está em 55% do PIB.
O governo reduziu gastos e deve "economizar" o equivalente a 3,5% do PIB. Mas há quem avalie que o esforço é pequeno. O economista Luiz Carlos Bresser Pereira, por exemplo, diz acreditar que o esforço fiscal necessário para compatibilizar maior crescimento e queda da taxa de juros deve ser de cerca de 8% do PIB.
"A relação entre a dívida e o PIB é muita alta. É possível reduzi-la e ao mesmo tempo baixar os juros. Como? Fazendo ajuste fiscal", diz Bresser Pereira.



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