São Paulo, sexta-feira, 10 de maio de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

PROTECIONISMO

Novos subsídios para agricultores dos EUA e barreiras impedem avanços, afirma ministro Sérgio Amaral

Governo já admite ficar de fora da Alca

RICARDO REGO MONTEIRO
DA SUCURSAL DO RIO

O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Sérgio Amaral, admitiu pela primeira vez que a Alca (Área de Livre Comércio das Américas) poderá ser constituída sem o Brasil. O ministro condicionou a inclusão do país no bloco regional ao fim das restrições à entrada de produtos brasileiros no mercado norte-americano.
"Nós precisamos nos preparar também para a hipótese de não haver essas negociações [da Alca". Porque, a julgar pelas últimas medidas dos Estados Unidos, como o TPA [Trade Promotion Authority", o aço e o "farm bill", talvez os Estados Unidos tenham mais dificuldades do que nós para colocar as verdadeiras questões sobre a mesa.E se não forem postas, não há razão para que nós concluamos esse acordo", afirmou o ministro.
Previstas para 2005, as negociações para a constituição da Alca têm por objetivo criar uma área pan-americana de livre comércio. Elas esbarram, no entanto, em recentes medidas protecionistas do governo e do Congresso americanos.
Como se não bastassem as restrições às importações de siderúrgicos impostas em março pelo governo Bush, na quarta-feira o Senado americano aprovou a "farm bill", uma nova lei que ampliou os subsídios para os produtores agrícolas dos Estados Unidos.
Amaral participou ontem, no Rio, do encerramento do 14º Fórum Nacional promovido pelo ex-ministro João Paulo dos Reis Velloso.
Na ocasião, o ministro anunciou que, para compensar o impasse com relação à Alca, o governo brasileiro vai acelerar as negociações bilaterais com o México e os países do Pacto Andino, área de livre comércio que reúne Bolívia, Peru, Colômbia e Equador.
Com a aproximação dos vizinhos, o governo brasileiro espera formalizar acordos semelhantes ao fechado em abril com o Chile, que permitiu a entrada de produtos daquele país no mercado brasileiro com tarifas mais baixas do que as permitidas para outros parceiros comerciais.

Discurso amenizado
Questionado sobre as declarações, Amaral tentou minimizar o teor do discurso, lembrando que o governo brasileiro continua interessado na Alca.
"Uma coisa é trabalhar com essa hipótese [de adiamento da Alca". Outra é achar que estamos [o governo brasileiro" trabalhando por isso", disse.
O ministro atribuiu ao governo e ao Congresso americanos a responsabilidade pelo fracasso das negociações.
"O Brasil sempre foi percebido, mesmo aqui dentro, como um país que não está preparado para negociar a Alca. Mas esse tipo de dificuldade tem sido demonstrada pelos Estados Unidos", afirmou Amaral.
Ele também disse que o Brasil está preparado para tornar-se uma plataforma de exportações, herança que deverá ser convertida em saldos crescentes da balança comercial, por qualquer que seja o governo eleito este ano. Para isso, o governo tem implementado uma série de medidas, como a possibilidade de securitização de créditos de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) de exportadoras.
Com a securitização, as exportadoras poderão ser beneficiadas pela conversão de créditos a receber em títulos, que deverão ser negociados em uma espécie de mercado secundário. A medida deverá ser ratificada nos próximas dias pelo governo.



Texto Anterior: Bancos: Lucro do Unibanco cresce 5,7%
Próximo Texto: FHC diz que lei dos EUA premia a incompetência
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.