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DIAS DE TENSÃO
Em 5 dias, alta do dólar gerou um aumento da dívida equivalente a quase todo o esforço fiscal feito no 1º bimestre
Turbulências custam R$ 10 bi ao governo
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
As turbulências enfrentadas pelo mercado financeiro na semana
passada custaram R$ 10 bilhões
ao governo. Esse é o impacto da
recente alta do dólar sobre a dívida pública, de acordo com estimativa feita a partir de dados fornecidos pelo Banco Central.
O efeito da desvalorização do
real nas contas públicas reflete a
dolarização de parte do endividamento do setor público -aproximadamente um terço da dívida
de R$ 925 bilhões é corrigido pela
moeda dos Estados Unidos.
Logo, qualquer oscilação da cotação do dólar tem impacto sobre
as finanças do governo. Na semana passada, a alta foi de 3,6%
-passou de pouco menos de R$
2,96 para R$ 3,05, considerando a
taxa de câmbio média aferida pelo
Banco Central e usada de parâmetro para o cálculo da dívida.
Em cinco dias úteis, a alta do dólar corroeu praticamente todo o
esforço fiscal feito por União, Estados, municípios e estatais em janeiro e fevereiro -quando o superávit primário (economia do
governo para pagamento de dívida) totalizou R$ 10,245 bilhões.
O prejuízo da semana passada
não é permanente e pode ser revertido, caso a cotação do dólar
volte a recuar para menos de R$ 3,
mesmo patamar observado no final de abril. Ainda assim, o movimento mostra a fragilidade do
equilíbrio fiscal do governo.
Desde 1998, o setor público tem
buscado maior ajuste nas suas
contas. O principal indicador desse esforço é o superávit primário,
dinheiro usado para pagar compromissos do governo. O objetivo
é conter o aumento da dívida.
Um dos parâmetros usados no
cálculo do superávit a ser obtido
pelo governo é, justamente, o tamanho da dívida. Em tese, quanto
maior a dívida, mais dinheiro precisaria ser economizado para que
os pagamentos continuassem
sendo feitos em dia.
No caso brasileiro, o controle do
endividamento esbarra na sua indexação ao dólar. Além da dívida
externa -cerca de R$ 177 bilhões-, existem ainda cerca de
R$ 130 bilhões em títulos negociados no Brasil que são corrigidos
pela moeda norte-americana.
Títulos atrelados ao câmbio são
vendidos no país para segurar a
alta do dólar. Em momentos de
crise, como as enfrentadas nos últimos anos, a procura por dólares
costuma ser muito forte, o que leva à desvalorização do real.
Como o governo não possui dólares suficientes para atender essa
demanda, tenta-se satisfazer o
mercado com a emissão de títulos
cambiais, que pagam aos investidores toda a variação cambial que
ocorrer em determinado período.
Mas, por causa da dolarização
da dívida, qualquer oscilação dos
mercados eleva o endividamento
do governo e reduz os ganhos que
poderiam ser proporcionados pelo elevado superávit primário do
setor público.
O governo tenta mudar essa situação de duas maneiras. Por um
lado, está resgatando boa parte
dos títulos cambiais em circulação no mercado. Em dezembro de
2002, esses papéis representavam
33,5% dos títulos públicos negociados no país. Atualmente, a proporção está em 16%.
Outra medida é reforçar as reservas em moeda estrangeira do
BC, para que o governo tenha
mais poder para evitar altas repentinas do dólar. Para que essas
ações possam ser conduzidas sem
solavancos, seria desejável que o
fluxo de dólares para o país permanecesse constante por mais
um tempo, até que a situação esteja mais equilibrada. Fatores como
a alta dos juros nos EUA -agora
esperada para o próximo mês-
podem atrapalhar o processo.
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