São Paulo, domingo, 10 de maio de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Retomada será pífia, dizem economistas

Fase aguda da crise financeira dará lugar a um período de baixo crescimento nos EUA e no resto do mundo, afirmam especialistas

Famílias americanas só devem voltar a comprar quando o saldo de seus fundos de aposentadoria voltar a patamares aceitáveis

MARCIO AITH
DA REPORTAGEM LOCAL

A economia mundial dá sinais de que está saindo do abismo em que se meteu desde a quebra do banco de investimentos americano Lehman Brothers, em setembro do ano passado. Mas está longe, muito longe, de recuperar o vigor da última década.
No cenário mais otimista, o mundo crescerá timidamente, em um ritmo lento que deverá perdurar por anos. É o que disseram à Folha Barry Eichengreen, professor de economia da Universidade da Califórnia, e Raghuram Rajan, professor de finanças da Universidade de Chicago.
"Mesmo se a economia americana sair do abismo, a recuperação subsequente será pífia", disse Eichengreen. "Os bancos não vão retomar os empréstimos do dia para a noite; as famílias só vão voltar a comprar quando seus fundos de aposentadoria forem recompostos; e a combinação atual de política fiscal frouxa com uma política monetária cada vez mais rígida vai produzir, no futuro, um ambiente ruim para os investimentos", afirma o professor da Califórnia.

Bancos com estresse
Os dois especialistas veem com muita desconfiança o "teste de estresse" feito pelo governo americano para verificar como os bancos resistiriam a uma piora do cenário econômico.
Esse teste foi feito nos 19 maiores bancos do país.
Os resultados foram divulgados na última sexta-feira. As instituições financeiras estudadas precisarão levantar quase US$ 75 bilhões no mercado, mas nenhuma delas corre risco de insolvência. Eichengreen e Rajan dizem que o teste não foi suficientemente rígido. E que o buraco financeiro dos bancos deve ser ainda maior. "O resultado do teste forneceu respostas às perguntas formuladas. Mas a questão central é: foram feitas as perguntas corretas?"
Segundo Rajan, é muito arriscado definir parâmetros para "testes de estresse". Isso porque, se os critérios forem exageradamente flexíveis e se mais ativos podres surgirem na contabilidade dos bancos, um novo ciclo de instabilidade poderá atingir os mercados.
Para Eichengreen, a capitalização do sistema financeiro foi incompleta. "Houve uma melhora desde a quebra do Lehman Brothers. Não existe mais insolvência generalizada nem risco de nacionalização. Mas os bancos não estão adequadamente capitalizados."

Brasil
Os dois especialistas dizem que, desde o início da crise, o Brasil tem feito um trabalho exemplar para substituir as exportações em queda pelo crescimento do consumo interno.
Mas apontam um limite para essa estratégia: nenhum crescimento de demanda tem ou terá magnitude suficiente para substituir a voracidade pré-crise dos consumidores americanos, europeus e japoneses.
"A não ser que encontrem uma fonte alternativa de demanda para substituir os lares dessas três regiões, o que parece impossível, países como o Brasil vão crescer mais lentamente", disse Eichengreen.
"O problema é que nenhum país encontrou um substituto à altura para o consumidor americano. A menos que o encontre, o mundo também crescerá de forma lenta", afirma Rajan.


Texto Anterior: Vinicius Torres Freire: Mudou o Natal ou mudou a crise?
Próximo Texto: Raghuram Rajan: "Ninguém encontrou um substituto à altura para o consumidor americano"
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.