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Retomada será pífia, dizem economistas
Fase aguda da crise financeira dará lugar a um período de baixo crescimento nos EUA e no resto do mundo, afirmam especialistas
Famílias americanas só devem voltar a comprar quando o saldo de seus fundos de aposentadoria voltar a patamares aceitáveis
MARCIO AITH
DA REPORTAGEM LOCAL
A economia mundial dá sinais de que está saindo do abismo em que se meteu desde a
quebra do banco de investimentos americano Lehman
Brothers, em setembro do ano
passado. Mas está longe, muito
longe, de recuperar o vigor da
última década.
No cenário mais otimista, o
mundo crescerá timidamente,
em um ritmo lento que deverá
perdurar por anos. É o que disseram à Folha Barry Eichengreen, professor de economia
da Universidade da Califórnia,
e Raghuram Rajan, professor
de finanças da Universidade de
Chicago.
"Mesmo se a economia americana sair do abismo, a recuperação subsequente será pífia", disse Eichengreen. "Os
bancos não vão retomar os empréstimos do dia para a noite;
as famílias só vão voltar a comprar quando seus fundos de
aposentadoria forem recompostos; e a combinação atual de
política fiscal frouxa com uma
política monetária cada vez
mais rígida vai produzir, no futuro, um ambiente ruim para
os investimentos", afirma o
professor da Califórnia.
Bancos com estresse
Os dois especialistas veem
com muita desconfiança o "teste de estresse" feito pelo governo americano para verificar como os bancos resistiriam a uma
piora do cenário econômico.
Esse teste foi feito nos 19
maiores bancos do país.
Os resultados foram divulgados na última sexta-feira. As
instituições financeiras estudadas precisarão levantar quase
US$ 75 bilhões no mercado,
mas nenhuma delas corre risco
de insolvência. Eichengreen e
Rajan dizem que o teste não foi
suficientemente rígido. E que o
buraco financeiro dos bancos
deve ser ainda maior. "O resultado do teste forneceu respostas às perguntas formuladas.
Mas a questão central é: foram
feitas as perguntas corretas?"
Segundo Rajan, é muito arriscado definir parâmetros para "testes de estresse". Isso porque, se os critérios forem exageradamente flexíveis e se mais
ativos podres surgirem na contabilidade dos bancos, um novo
ciclo de instabilidade poderá
atingir os mercados.
Para Eichengreen, a capitalização do sistema financeiro foi
incompleta. "Houve uma melhora desde a quebra do Lehman Brothers. Não existe mais
insolvência generalizada nem
risco de nacionalização. Mas os
bancos não estão adequadamente capitalizados."
Brasil
Os dois especialistas dizem
que, desde o início da crise, o
Brasil tem feito um trabalho
exemplar para substituir as exportações em queda pelo crescimento do consumo interno.
Mas apontam um limite para
essa estratégia: nenhum crescimento de demanda tem ou terá
magnitude suficiente para
substituir a voracidade pré-crise dos consumidores americanos, europeus e japoneses.
"A não ser que encontrem
uma fonte alternativa de demanda para substituir os lares
dessas três regiões, o que parece impossível, países como o
Brasil vão crescer mais lentamente", disse Eichengreen.
"O problema é que nenhum
país encontrou um substituto à
altura para o consumidor americano. A menos que o encontre, o mundo também crescerá
de forma lenta", afirma Rajan.
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