São Paulo, domingo, 10 de maio de 2009

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RAGHURAM RAJAN

"Ninguém encontrou um substituto à altura para o consumidor americano"

DA REPORTAGEM LOCAL

Professor da Universidade de Chicago, o indiano Raghuram Rajan foi economista-chefe do FMI (Fundo Monetário Internacional) entre 2003 e 2006. Em outubro passado, ele assinou, com um grupo de economistas, um documento dirigido ao G7 pedindo, entre outras coisas, a intervenção dos governos nos bancos. Rajan faz parte de um seleto grupo de economistas que anteviu a crise econômica mundial. O alerta foi feito em 2005, em estudo do FMI em que descreveu os excessos na concessão de crédito e apontou riscos de colapso no sistema financeiro. (MA)

 

FOLHA - O mundo escapou do colapso econômico?
RAGHURAM RAJAN -
Parece que estamos saindo de um período de declínio acentuado, e a economia americana ingressa agora em uma fase de estabilidade.

FOLHA - Estabilidade com crescimento?
RAJAN -
Certamente não haverá crescimento vigoroso. A crise não terá o formato da letra V. A retomada será lenta nos EUA, mesmo que o país dê saltos de crescimento em um trimestre ou em outro. A expansão mundial será lenta, não há outra saída. Esta crise é certamente mais suave do que a de 1929, mas pior do que a de 1987.

FOLHA - O Brasil pode voltar à normalidade econômica antes de os Estados Unidos e a Europa solucionarem seus problemas?
RAJAN -
Sim. Os bancos e as famílias brasileiras não estão tão endividados quanto os americanos. Mas o Brasil ainda depende do resto do mundo. Nenhum país encontrou substituto à altura para o consumidor americano. A menos que o encontre, o mundo também crescerá de forma lenta.

FOLHA - O que o sr. achou do resultado do "teste de estresse" no sistema financeiro americano?
RAJAN -
Se os pressupostos que o governo definiu para elaborar o teste estiverem corretos, então os bancos americanos estão realmente saindo da crise aguda em que se meteram. Mas, se os problemas estiveram subdimensionados, poderá haver um novo ciclo de instabilidade.

FOLHA - O sr. confia nos pressupostos do teste?
RAJAN -
O teste respondeu às perguntas formuladas. Mas será que aquelas eram as perguntas corretas? Eu tenho dúvidas.

FOLHA - O sr. disse que os EUA só recuperariam o crescimento se os bancos "limpassem" os balanços. Como está o processo?
RAJAN -
Eu me contentaria em saber que essas instituições estão suficientemente sólidas e podem carregar ativos podres até que a situação melhore. Na verdade, ninguém sabe ao certo o que está acontecendo. Só o futuro dirá se a solução que está sendo dada ao problema está correta. Os fatos dizem o seguinte: havia algo de errado que precisava ser consertado. Uma solução foi encontrada, nos Estados Unidos e no mundo. Espero que ela dê resultados.

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