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TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS
"DOT Force" recomenda políticas públicas digitais
GILSON SCHWARTZ
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS
Falta pouco mais de um
mês para a reunião do G-8
em Gênova, na Itália. A agenda
do encontro inclui três pontos
básicos: o perdão da dívida de
países mais pobres, o combate à
Aids e a definição de políticas de
tecnologia da informação e comunicação para países em desenvolvimento.
Nesse terceiro campo destaca-se a "Força-Tarefa da Oportunidade Digital" (na internet: www.dotforce.org/). Esse grupo foi criado no ano passado, no
encontro do G-8 realizado em
Okinawa, Japão. A força-tarefa é
secretariada pelo Programa das
Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) e pelo Bird.
Desde então tem aumentado o
número de organizações governamentais, não-governamentais, empresas e centros de pesquisa voltados para os problemas da "exclusão digital", ou seja, os riscos de que as novas tecnologias criem novos processos
de concentração de renda, novas formas de desemprego, de
desigualdade no acesso à produção e aos frutos do desenvolvimento tecnológico.
É importante notar que, passada a euforia com a internet comercial, ganhou importância a
dimensão pública da rede, seu
potencial como instrumento de
política e mudança social.
Uma dimensão dessa "exclusão" que tem recebido menos
atenção é a da "exclusão linguística", ou seja, do predomínio de
conteúdos em inglês.
As empresas, no entanto,
prestam cada vez mais atenção a
esse problema. Reportagem da
"NewsFactor Network" divulgou no final de maio que, segundo o Grupo Aberdeen, 57 das
100 maiores empresas do mundo operavam com "sites multilinguísticos" durante o ano passado, praticamente duas vezes a
quantidade registrada em 99.
Ainda segundo o Aberdeen,
nada menos que 66% do faturamento no comércio eletrônico
mundial terá origem fora dos
EUA. Para quem pretende sobreviver, é preciso desenhar estratégias de marketing "otimizadas para transações internacionais", área em que as taxas de retorno podem chegar a 46%.
O título do relatório é revelador: "Web Globalization: Write
Once, Deploy Worldwide" (Globalização pela Web: Escreva
Uma Vez, Entregue Mundialmente"). Trata-se de operar por
meio das várias línguas e culturas. Surgirão cadeias mundiais
de suprimentos que operam como redes multilinguísticas.
Há pelo menos três questões
estratégicas. Primeiro, qual a
identidade cultural e política do
conteúdo em português produzido comercialmente por essas
redes de empresas globais?
Segundo, será que os conteúdos em português na web vão
crescer por obra e graça de empresas multinacionais?
Finalmente, quais serão as estratégias de "adensamento das
cadeias linguísticas" perseguidas pelas empresas do Brasil e
de outros países em desenvolvimento em resposta a essa globalização multilinguística?
Entre as recomendações da
"Força-Tarefa" para enfrentar o
desafio está a criação de formas
de acesso públicas.
É um caso raríssimo, no horizonte das recomendações de
instituições multilaterais feitas a
países mais pobres nas últimas
décadas, em que os governos de
países mais ricos não estão recomendando a abertura, a desregulamentação e a privatização
como políticas de desenvolvimento e superação da pobreza.
Essa é uma grande novidade à
qual poucos têm dado a devida
atenção. Mais desleixo nessa
área e teremos, no campo da nova economia, uma forma digital
de apagão. A saber: empresas e
empregos de países em desenvolvimento serão apagados do
mapa econômico mundial.
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