São Paulo, quarta-feira, 10 de julho de 2002

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FRAUDES DO CAPITAL

Presidente dos EUA, sob pressão política, pede ética nos negócios e propõe cadeia para fraudadores

Bush lança pacote de medidas antifraude

Associated Press
Movimento da Bolsa de Chicago durante o discurso de Bush, cuja imagem foi projetada no painel


SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK

O presidente dos EUA, George W. Bush, anunciou ontem em Wall Street, coração financeiro de Nova York, um pacote de propostas com o objetivo de moralizar companhias, acalmar investidores e evitar que a crise de credibilidade, que começa a tomar contornos políticos, atinja o governo.
"Neste momento, a maior necessidade econômica dos EUA são padrões éticos mais elevados", disse Bush em discurso para uma platéia de investidores, reunidas na sede nova-iorquina do Federal Reserve (o banco central norte-americano), em Manhattan. "As páginas de economia dos jornais não podem ser lidas como folhas de escândalos."
Entre as principais propostas estão o aumento das penas criminais contra fraudes contábeis e a ampliação dos recursos da SEC (Securities and Exchange Commission), órgão que fiscaliza o mercado acionário. Na prática, Bush propôs uma maior intervenção do governo na economia, o contrário do que defendeu durante a campanha presidencial.
A única medida concreta é a criação de uma força-tarefa que investigará crimes financeiros, comandada pelo procurador federal Larry Thompson. A força-tarefa contará com investigadores do Departamento de Justiça e por outras agências do governo, como o FBI (polícia federal).
O governo quer dobrar para dez anos a detenção máxima por fraudes e aprovar leis mais rigorosas contra a destruição de documentos e outras formas de obstrução de Justiça.
O anúncio das propostas foi a principal reação da Casa Branca até agora às críticas que o governo Bush vem sofrendo por sua atuação tíbia diante dos escândalos contábeis de grandes corporações como Enron, WorldCom e Merck, num fenômeno já batizado de "contabilidade criativa".
Para a oposição, Bush não tem autoridade moral para exigir ética. O presidente teria enriquecido de maneira suspeita quando era empresário do setor de energia. Já na vida pública, foi financiado por grande parte das corporações que agora protagonizam os escândalos, como a energética Enron.
Após o discurso de Bush, Tom Daschle, líder da maioria democrata no Senado dos EUA e principal opositor do governo, condicionou seu apoio à demissão do atual presidente da SEC, Harvey Pitt, apontado por Bush. Pitt é ex-advogado da Arthur Andersen, empresa de auditoria envolvida no escândalo que levou à concordata da energética Enron.
"Soubemos de executivos que estavam obstruindo a Justiça, enganando clientes, falsificando registros, rompendo a confiança e abusando do poder", afirmou Bush ontem, referindo-se às empresas envolvidas em fraudes, mas sem citar nomes.
A sequência de escândalos começou no ano passado, com a quebra da energética Enron. Desde então apareceram vários casos de empresas que usaram brechas legais ou maquiaram balanços para inflar resultados. As fraudes destruíram a credibilidade das corporações e provocaram uma fuga de investidores das Bolsas.
O discurso não impressionou o mercado de ações, que fechou em baixa, nem os principais líderes democratas, que elogiaram a retórica, mas criticaram o alcance limitado das medidas propostas.


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