|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
SALTO NO ESCURO
Consumidor paga pelo seguro, mas só 37 de 58 usinas elétricas poderiam ser acionadas em caso de racionamento
Seguro-apagão compra energia fantasma
HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O consumidor tem pago integralmente pelo seguro anti-racionamento, mas menos da metade da energia elétrica emergencial está disponível.
Isto é, o dinheiro que o consumidor paga a fim de criar uma reserva de energia para cobrir eventuais apagões ou racionamentos
compra uma energia de reserva
fantasma.
Desde o último dia 1º, de acordo
com os contratos, 58 usinas termelétricas deveriam estar em
condições de gerar energia. No
entanto, apenas 37 poderiam ser
acionadas hoje.
O seguro custa R$ 0,0057 para
cada kWh consumido no mês,
descontado da conta do consumidor desde março, para cobrir o
aluguel das usinas com capacidade de gerar até 2.150 MW, em caso
de risco de falta de energia.
Se o seguro precisasse ser usado,
só haveria 765,12 MW para serem
gerados. Ou seja, o consumidor
está pagando pelo seguro total,
mas só 35% dele está disponível.
Usinas incompletas
O presidente da CBEE (Comercializadora Brasileira de Energia
Emergencial), Ricardo Vidinich,
disse que há problemas com a liberação dos equipamentos importados pelas usinas na alfândega, por causa da greve dos fiscais
da Receita. Além disso, há atrasos
na obtenção de licenças ambientais para permitir que as usinas
funcionem.
Segundo o presidente da CBEE,
os contratos com as termelétricas
prevêem multa de 100% do valor a
ser recebido por mês por atraso.
Ou seja, se uma usina atrasar três
meses, tem que pagar à CBEE a
quantia que receberia durante o
período.
Vidinich disse que existe a possibilidade de a multa não ser aplicada em alguns "casos fortuitos",
mas que a estatal já está multando
empresas em atraso.
Arrecadação
O atraso das usinas foi providencial para o governo federal. A
CBEE ainda enfrenta dificuldades
para arrecadar todo os recursos
pagos pelos consumidores às distribuidoras. Até o fim de junho, a
CBEE esperava arrecadar R$ 310
milhões com o pagamento do seguro realizado pelos consumidores. As distribuidoras, no entanto,
só repassaram R$ 241 milhões até
agora.
Por causa dos problemas no repasse, se todas as usinas estivessem em condições de funcionar, a
CBEE não teria dinheiro para pagar o aluguel. O gasto atual por
mês com as 37 usinas em operação é de aproximadamente R$ 64
milhões. Cada usina elétrica cobra, em média, R$ 84 mil por MW
instalado (à disposição do governo).
Inadimplência
O presidente da CBEE disse que
existem quatro possibilidades para a CBEE estar arrecadando menos do que o previsto: inadimplência dos consumidores em relação às distribuidoras, falta de
pagamento das distribuidoras em
relação à CBEE, liminares na Justiça contra o seguro e redução do
consumo de energia elétrica além
do previsto.
De acordo com Vidinich, as liminares na Justiça contra o seguro anti-racionamento responderiam por aproximadamente 10% da frustração de receita. Segundo ele, 90% das liminares estão na região Sul do país, onde não houve
racionamento de energia.
Em junho, o valor esperado para a arrecadação do seguro anti-racionamento não levava em conta o reajuste de 16,33% feito no valor pago pelo consumidor no final daquele mês. O seguro, que custava R$ 0,0049 por kWh, passou para R$ 0,0057.
Na ocasião do reajuste, a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) informou que era preciso aumentar o seguro porque o consumo de energia após o fim do racionamento estava menor do que o esperado.
Vidinich disse que a CBEE precisará fazer novas contas em setembro para verificar se haverá necessidade de novo reajuste no seguro anti-racionamento. A
CBEE informa à Aneel o quanto precisa de recursos, e a agência faz
as contas do valor a ser pago pelo consumidor. Os reajustes do seguro são feitos a cada três meses.
Texto Anterior: Trecho Próximo Texto: Contratos serão cancelados se usinas atrasarem Índice
|