São Paulo, sábado, 10 de julho de 2004

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LUÍS NASSIF

O papel da grande empresa

Vocação de estadista, apaixonado pela América Latina, herdeiro do mais importante sobrenome da história do moderno capitalismo norte-americano, Nelson Rockefeller via apenas uma saída para o continente: criar uma classe média esclarecida. Sempre alimentou dúvidas fundadas sobre a capacidade da elite do continente de comandar processos de modernização.
A industrialização brasileira da era Vargas foi fincada na criação de grandes grupos nacionais orbitando em torno do Estado. Nos anos 80, esses grupos foram beneficiários e estimuladores do fechamento da economia, que drenou a competitividade brasileira.
Com as possibilidades abertas pela privatização, Fernando Henrique Cardoso reciclou e entregou a liderança do processo a uma nova classe, dos rentistas, formada nos anos 80 em cima dos lucros proporcionados pelo mercado financeiro. Era um pessoal internacionalizado, sem os ranços que caracterizavam a velha Fiesp dos anos 80. Apoderando-se do poder, foram beneficiários e estimuladores da abertura financeira que esmagou a competitividade interna.
O novo pacto do desenvolvimento brasileiro não pode se escudar apenas na grande empresa.
Há empresas que surgiram ou cresceram no período, ganhando a vocação da internacionalização. Mas a AmBev foi absorvida pela Interbrew; a CSN, quase absorvida pela Corus. Dentro de algum tempo, provavelmente a base de operação da Gerdau, da Vale e de outras mais será algum país central. Poderão continuar sob controle de brasileiros, mas a lógica será cada vez mais internacional.
Uma das maneiras de manter seu caráter nacional será torná-las aliadas e atores da diplomacia empresarial -a conjugação dos seus interesses com os interesses diplomáticos e econômicos do país.
Mesmo assim, elas não poderão se constituir na âncora do desenvolvimento, como foi no período anterior, mesmo porque o modelo varguista criou grandes grupos nacionais, mas não logrou criar uma economia intrinsecamente competitiva. Em parte porque o processo foi interrompido, em parte porque o modelo não previa a irradiação da modernização para fora das empresas.
No novo quadro que se desenha, o papel da grande empresa terá que ser mais amplo. O país será competitivo, dependendo de sua competitividade sistêmica. E ela depende da expansão da educação, da gestão e da inovação para o conjunto da sociedade. Quando se analisam os modelos italiano, chinês e sul-coreano, se percebe que o processo de desenvolvimento exige que a inovação transborde das universidades e das grandes empresas para micro e pequenas empresas, para arranjos produtivos, para pequenas empresas de base tecnológica.
Caberá tanto às grandes empresas nacionais como às filiais de multinacionais serem agentes de disseminação de conhecimento para seu universo de fornecedores, no seu entorno, entre sua clientela. E também se constituir em pontas-de-lança da colocação da produção da pequena e média empresa no exterior.
Mesmo porque o grande ativo de que o país dispõe para enfrentar a mundialização chama-se povo brasileiro. Mas isso é assunto para uma próxima coluna.

E-mail - Luisnassif@uol.com.br


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