|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LUÍS NASSIF
O papel da grande empresa
Vocação de estadista,
apaixonado pela América Latina, herdeiro do mais
importante sobrenome da
história do moderno capitalismo norte-americano, Nelson Rockefeller via apenas
uma saída para o continente:
criar uma classe média esclarecida. Sempre alimentou dúvidas fundadas sobre a capacidade da elite do continente
de comandar processos de
modernização.
A industrialização brasileira da era Vargas foi fincada
na criação de grandes grupos
nacionais orbitando em torno
do Estado. Nos anos 80, esses
grupos foram beneficiários e
estimuladores do fechamento
da economia, que drenou a
competitividade brasileira.
Com as possibilidades abertas pela privatização, Fernando Henrique Cardoso reciclou
e entregou a liderança do processo a uma nova classe, dos
rentistas, formada nos anos
80 em cima dos lucros proporcionados pelo mercado financeiro. Era um pessoal internacionalizado, sem os ranços
que caracterizavam a velha
Fiesp dos anos 80. Apoderando-se do poder, foram beneficiários e estimuladores da
abertura financeira que esmagou a competitividade interna.
O novo pacto do desenvolvimento brasileiro não pode se
escudar apenas na grande
empresa.
Há empresas que surgiram
ou cresceram no período, ganhando a vocação da internacionalização. Mas a AmBev foi absorvida pela Interbrew; a CSN, quase absorvida
pela Corus. Dentro de algum
tempo, provavelmente a base
de operação da Gerdau, da
Vale e de outras mais será algum país central. Poderão
continuar sob controle de
brasileiros, mas a lógica será
cada vez mais internacional.
Uma das maneiras de manter seu caráter nacional será
torná-las aliadas e atores da
diplomacia empresarial -a
conjugação dos seus interesses com os interesses diplomáticos e econômicos do país.
Mesmo assim, elas não poderão se constituir na âncora
do desenvolvimento, como foi
no período anterior, mesmo
porque o modelo varguista
criou grandes grupos nacionais, mas não logrou criar
uma economia intrinsecamente competitiva. Em parte
porque o processo foi interrompido, em parte porque o
modelo não previa a irradiação da modernização para fora das empresas.
No novo quadro que se desenha, o papel da grande empresa terá que ser mais amplo. O país será competitivo,
dependendo de sua competitividade sistêmica. E ela depende da expansão da educação,
da gestão e da inovação para
o conjunto da sociedade.
Quando se analisam os modelos italiano, chinês e sul-coreano, se percebe que o processo de desenvolvimento exige que a inovação transborde
das universidades e das grandes empresas para micro e pequenas empresas, para arranjos produtivos, para pequenas
empresas de base tecnológica.
Caberá tanto às grandes
empresas nacionais como às
filiais de multinacionais serem agentes de disseminação
de conhecimento para seu
universo de fornecedores, no
seu entorno, entre sua clientela. E também se constituir em
pontas-de-lança da colocação
da produção da pequena e
média empresa no exterior.
Mesmo porque o grande ativo de que o país dispõe para
enfrentar a mundialização
chama-se povo brasileiro.
Mas isso é assunto para uma
próxima coluna.
E-mail - Luisnassif@uol.com.br
Texto Anterior: Rendimentos: CEF e BB começam a pagar no dia 11 de agosto o PIS/Pasep de 2004/2005 Próximo Texto: Vendas: Indústria vende estoques e opera sem "amortecedor" Índice
|