São Paulo, sábado, 10 de julho de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

VENDAS

Empresas "queimaram" produtos parados nos pátios nos últimos meses

Indústria vende estoques e opera sem "amortecedor"


ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

A indústria iniciou o segundo semestre com um dos mais baixos níveis de estoques dos últimos meses e, sob o risco de aumento na demanda interna, opera sem "amortecedor".
Montadoras de automóveis têm volume estocado para atender pouco mais de 30 dias de demanda. Em agosto de 2003, eram 43 dias. A indústria do vestuário decidiu não manter mercadorias paradas nos galpões neste inverno e produziu o mesmo volume (120 milhões de peças) do ano passado. Fabricantes de eletrônicos, como a Semp Toshiba, operam no toma-lá-dá-cá: só vendem o que é encomendado.
Há um ano, 18% das empresas afirmavam estar com volume estocado excessivo em seus pátios. Pesquisa da FGV (Fundação Getúlio Vargas) com 1.005 empresas mostra que a taxa caiu para 6% neste mês, índice ligeiramente acima, mas próximo ao verificado em abril (4%), quando o país registrou o menor nível de mercadorias paradas nas fábricas desde o início de 2003.
Esses dados foram apresentados nesta semana por economistas e líderes industriais e mostram que não há pressão no custo fixo das empresas produtivas. Isso porque elas estão sem mercadorias encostadas nos galpões pois queimaram neste ano o excedente de produção registrado nos terceiro e quarto trimestres de 2003.
Naquele período, as empresas calcularam errado os níveis de demanda -ao acreditar numa possível redução na taxa de juros e no aumento do consumo. Acabaram produzindo além da conta.

Agora, um novo cenário
"As expectativas foram frustradas, e aquele estoque foi todo queimado no início de 2004", diz Julio de Almeida, diretor do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial).
O cenário mudou totalmente. O que ocorre agora é exatamente o oposto: sem carregar estoques, o setor produtivo não tem nenhum "colchão de segurança" caso a demanda cresça de forma acelerada.
"É natural pensar que, se a demanda subir muito rápido, poderemos ter aumento no número de empresas com estoque insuficiente para atender o consumo", diz Aloisio Campelo, economista da FGV. "O que ocorre é que qualquer pressão vai ter impacto direto no nível de produção das empresas porque não temos muito produto final estocado", afirma.
Nesse cenário, quem tiver matéria-prima disponível também estará mais bem preparado para a eventual retomada da demanda.
No setor automobilístico, a Anfavea, que representa as montadoras, informa que o setor operava em junho com estoque para 32 dias de vendas -há um ano, eram mais de 40 dias.
"Tivemos fábricas com estoque nos pátios para 60 dias de vendas em 2003. O volume caiu bastante, e a questão agora é como ter insumos à disposição para reforçar a produção caso a demanda suba e seja necessário elevar os níveis atuais de estoques", afirma David Wong, gerente da consultoria Booz Allen & Hamilton.
A possibilidade de uma expansão imediata e explosiva do consumo é remota, admitem economistas. A renda ainda está travada, e o desemprego não cede. O aumento do consumo poderia ocorrer por meio de mais crédito, como ocorre no setor eletrônico.
"As vendas em junho foram muito boas e registraram o mesmo desempenho de maio", afirma Valdemir Colleone, superintendente da Lojas Cem.



Texto Anterior: Luís Nassif: O papel da grande empresa
Próximo Texto: Fiesp discorda do IBGE sobre alta do consumo
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.