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VENDAS
Empresas "queimaram" produtos parados nos pátios nos últimos meses
Indústria vende estoques
e opera sem "amortecedor"
ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
A indústria iniciou o segundo
semestre com um dos mais baixos
níveis de estoques dos últimos
meses e, sob o risco de aumento
na demanda interna, opera sem
"amortecedor".
Montadoras de automóveis têm
volume estocado para atender
pouco mais de 30 dias de demanda. Em agosto de 2003, eram 43
dias. A indústria do vestuário decidiu não manter mercadorias paradas nos galpões neste inverno e
produziu o mesmo volume (120
milhões de peças) do ano passado. Fabricantes de eletrônicos, como a Semp Toshiba, operam no
toma-lá-dá-cá: só vendem o que é
encomendado.
Há um ano, 18% das empresas
afirmavam estar com volume estocado excessivo em seus pátios.
Pesquisa da FGV (Fundação Getúlio Vargas) com 1.005 empresas
mostra que a taxa caiu para 6%
neste mês, índice ligeiramente
acima, mas próximo ao verificado
em abril (4%), quando o país registrou o menor nível de mercadorias paradas nas fábricas desde
o início de 2003.
Esses dados foram apresentados nesta semana por economistas e líderes industriais e mostram
que não há pressão no custo fixo
das empresas produtivas. Isso
porque elas estão sem mercadorias encostadas nos galpões pois
queimaram neste ano o excedente
de produção registrado nos terceiro e quarto trimestres de 2003.
Naquele período, as empresas
calcularam errado os níveis de demanda -ao acreditar numa possível redução na taxa de juros e no
aumento do consumo. Acabaram
produzindo além da conta.
Agora, um novo cenário
"As expectativas foram frustradas, e aquele estoque foi todo
queimado no início de 2004", diz
Julio de Almeida, diretor do Iedi
(Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial).
O cenário mudou totalmente. O
que ocorre agora é exatamente o
oposto: sem carregar estoques, o
setor produtivo não tem nenhum
"colchão de segurança" caso a demanda cresça de forma acelerada.
"É natural pensar que, se a demanda subir muito rápido, poderemos ter aumento no número de
empresas com estoque insuficiente para atender o consumo", diz
Aloisio Campelo, economista da
FGV. "O que ocorre é que qualquer pressão vai ter impacto direto no nível de produção das empresas porque não temos muito
produto final estocado", afirma.
Nesse cenário, quem tiver matéria-prima disponível também estará mais bem preparado para a
eventual retomada da demanda.
No setor automobilístico, a Anfavea, que representa as montadoras, informa que o setor operava em junho com estoque para 32
dias de vendas -há um ano,
eram mais de 40 dias.
"Tivemos fábricas com estoque
nos pátios para 60 dias de vendas
em 2003. O volume caiu bastante,
e a questão agora é como ter insumos à disposição para reforçar a
produção caso a demanda suba e
seja necessário elevar os níveis
atuais de estoques", afirma David
Wong, gerente da consultoria
Booz Allen & Hamilton.
A possibilidade de uma expansão imediata e explosiva do consumo é remota, admitem economistas. A renda ainda está travada, e o desemprego não cede. O
aumento do consumo poderia
ocorrer por meio de mais crédito,
como ocorre no setor eletrônico.
"As vendas em junho foram
muito boas e registraram o mesmo desempenho de maio", afirma Valdemir Colleone, superintendente da Lojas Cem.
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