São Paulo, domingo, 10 de julho de 2005

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ENTREVISTA

Para Vinod Thomas, se o governo brasileiro não agir rapidamente agora, será tarde para alcançar as outras nações

Brasil precisa fazer mudanças já, diz diretor do Bird

FERNANDO CANZIAN
DA REPORTAGEM LOCAL

O indiano Vinod Thomas diz que o Brasil precisa correr, e rápido, apesar de suas crises. "O Leste Asiático está avançando sem parar. O Leste Europeu começou a avançar sem parar. Diria que o intervalo entre 2005 e 2007 é o período para se fazer mudanças e correr atrás no Brasil. Depois, será tarde para alcançar os outros."
Aos 55 anos, Thomas deixará a direção do Banco Mundial (Bird) no país no próximo dia 25 certo de que o Brasil é um "paradoxo". "É um país de extremos." Ele atenuou o termo para "contrastes" no título do livro que será lançado em agosto sobre sua passagem de quase quatro anos pelo país.
De mudança para Washington, Thomas foi promovido para a direção geral da área responsável pela avaliação de todos os programas do Banco Mundial. Uma das prioridades do novo presidente do órgão, Paul Wolfowitz, é aumentar o controle sobre a eficiência dos empréstimos do banco.
A seguir, os principais trechos de entrevista concedida à Folha.

Folha - O sr. se sente frustrado em sua saída ao ver o país mergulhado na atual crise política e em suspeitas de corrupção que podem comprometer um cenário econômico que se mostrava favorável?
Vinod Thomas -
Quando cheguei, em 2002, a grande incerteza e o grande desafio era a estabilidade macroeconômica e estávamos preparados com análises para enfrentar uma situação de instabilidade no Brasil por até dois anos. Graças a Deus essa situação foi atacada e melhorada em seis meses. Todos os indicadores melhoraram rapidamente. O novo diretor que chega vai encontrar uma situação parecida, mas, em vez de problemas macroeconômicos, teremos uma turbulência política que pede por reformas que podem ser mais fáceis de fazer agora do que em uma situação de crise.

Folha - Vamos ter de aceitar mais uma oportunidade desperdiçada?
Thomas -
Creio que não existe outro país com tantos contrastes como o Brasil. É um país de extremos. Seja na distribuição de renda, nas oportunidades ou nos pontos que constrangem o aproveitamento dessas oportunidades. Nenhum país tem, por um lado, tantas oportunidades. Mas também existem poucos países com tamanha diferença entre o potencial que têm e onde de fato se encontram. A boa notícia é que em algumas áreas, como na macroeconomia, essa potencialidade está sendo direcionada para melhor. Em outras, como nas microrreformas, não. Penso como seria fácil para o Brasil fazer negócios e atrair investimentos. Todo mundo iria querer investir no Brasil se as coisas fossem mais fáceis. Mas é preciso mais acerto nas questões das regras e das reformas microeconômicas. Mais do que uma frustração, o que vejo é um paradoxo. O caso dos recursos naturais no Brasil é emblemático. São recursos que ninguém tem e cujos valores vão aumentar a cada ano. Na parte institucional, o Brasil tem boas instituições em várias áreas, como nas regulações, licenciamento, na área do Ministério Público e nos bancos oficiais. Esses paradoxos acabam gerando frustração. Uma hora, alegria máxima. Na outra, tristeza máxima.

Folha - Na opinião do sr., qual a razão desse comportamento?
Thomas -
Diria que é a perspectiva de longo prazo. O ponto-chave é que as perspectivas do Brasil no longo prazo estão entre as melhores do mundo. Mas há um grande problema: é preciso tomar muitas medidas urgentes. Não dá para esperar mais dez anos. Por isso, acredito que a janela de oportunidade de uma ampla reforma política seja agora. Não se pode deixar para fazer isso até 2012. É preciso ir atrás agora. O Leste Asiático está avançando sem parar. O Leste Europeu começou a avançar sem parar. Há vários países similares ao Brasil, em termos de exportações, correndo atrás e fazendo as coisas muito mais rápido. Diria que o intervalo entre 2005 e 2007 é o período para fazer mudanças e correr atrás no Brasil. Depois, será tarde para alcançar os outros.

Folha - Como o sr. avalia as críticas contundentes sobre a conduta do Banco Mundial no combate à pobreza, à estrutura gigantesca da instituição, quando o mundo está há tantos anos patinando nesse ponto. Qual é a autocrítica?
Thomas -
O banco tem melhorado o enfoque sobre o que é o conceito de pobreza nos últimos dez anos. Deu um enfoque mais concreto ao assunto. Mas os resultados na redução efetiva da pobreza deveriam ter sido melhores. O banco e os governos que tomaram empréstimos têm de assumir essa responsabilidade. Acho que o banco pode obter melhores resultados com programas mais ágeis e menos complicados. E deve operar no sentido de alinhar melhor seus programas com o que já está acontecendo e o que há de disponível nos próprios países.

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