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ENTREVISTA
Para Vinod Thomas, se o governo brasileiro não agir rapidamente agora, será tarde para alcançar as outras nações
Brasil precisa fazer mudanças já, diz diretor do Bird
FERNANDO CANZIAN
DA REPORTAGEM LOCAL
O indiano Vinod Thomas diz
que o Brasil precisa correr, e rápido, apesar de suas crises. "O Leste
Asiático está avançando sem parar. O Leste Europeu começou a
avançar sem parar. Diria que o intervalo entre 2005 e 2007 é o período para se fazer mudanças e
correr atrás no Brasil. Depois, será
tarde para alcançar os outros."
Aos 55 anos, Thomas deixará a
direção do Banco Mundial (Bird)
no país no próximo dia 25 certo
de que o Brasil é um "paradoxo".
"É um país de extremos." Ele atenuou o termo para "contrastes"
no título do livro que será lançado
em agosto sobre sua passagem de
quase quatro anos pelo país.
De mudança para Washington,
Thomas foi promovido para a direção geral da área responsável
pela avaliação de todos os programas do Banco Mundial. Uma das
prioridades do novo presidente
do órgão, Paul Wolfowitz, é aumentar o controle sobre a eficiência dos empréstimos do banco.
A seguir, os principais trechos
de entrevista concedida à Folha.
Folha - O sr. se sente frustrado em
sua saída ao ver o país mergulhado
na atual crise política e em suspeitas de corrupção que podem comprometer um cenário econômico
que se mostrava favorável?
Vinod Thomas - Quando cheguei, em 2002, a grande incerteza
e o grande desafio era a estabilidade macroeconômica e estávamos
preparados com análises para enfrentar uma situação de instabilidade no Brasil por até dois anos.
Graças a Deus essa situação foi
atacada e melhorada em seis meses. Todos os indicadores melhoraram rapidamente. O novo diretor que chega vai encontrar uma
situação parecida, mas, em vez de
problemas macroeconômicos, teremos uma turbulência política
que pede por reformas que podem ser mais fáceis de fazer agora
do que em uma situação de crise.
Folha - Vamos ter de aceitar mais
uma oportunidade desperdiçada?
Thomas - Creio que não existe
outro país com tantos contrastes
como o Brasil. É um país de extremos. Seja na distribuição de renda, nas oportunidades ou nos
pontos que constrangem o aproveitamento dessas oportunidades. Nenhum país tem, por um lado, tantas oportunidades. Mas
também existem poucos países
com tamanha diferença entre o
potencial que têm e onde de fato
se encontram. A boa notícia é que
em algumas áreas, como na macroeconomia, essa potencialidade
está sendo direcionada para melhor. Em outras, como nas microrreformas, não. Penso como
seria fácil para o Brasil fazer negócios e atrair investimentos. Todo
mundo iria querer investir no
Brasil se as coisas fossem mais fáceis. Mas é preciso mais acerto nas
questões das regras e das reformas microeconômicas. Mais do
que uma frustração, o que vejo é
um paradoxo. O caso dos recursos naturais no Brasil é emblemático. São recursos que ninguém
tem e cujos valores vão aumentar
a cada ano. Na parte institucional,
o Brasil tem boas instituições em
várias áreas, como nas regulações,
licenciamento, na área do Ministério Público e nos bancos oficiais.
Esses paradoxos acabam gerando
frustração. Uma hora, alegria máxima. Na outra, tristeza máxima.
Folha - Na opinião do sr., qual a
razão desse comportamento?
Thomas - Diria que é a perspectiva de longo prazo. O ponto-chave
é que as perspectivas do Brasil no
longo prazo estão entre as melhores do mundo. Mas há um grande
problema: é preciso tomar muitas
medidas urgentes. Não dá para
esperar mais dez anos. Por isso,
acredito que a janela de oportunidade de uma ampla reforma política seja agora. Não se pode deixar
para fazer isso até 2012. É preciso
ir atrás agora. O Leste Asiático está avançando sem parar. O Leste
Europeu começou a avançar sem
parar. Há vários países similares
ao Brasil, em termos de exportações, correndo atrás e fazendo as
coisas muito mais rápido. Diria
que o intervalo entre 2005 e 2007 é
o período para fazer mudanças e
correr atrás no Brasil. Depois, será
tarde para alcançar os outros.
Folha - Como o sr. avalia as críticas contundentes sobre a conduta
do Banco Mundial no combate à
pobreza, à estrutura gigantesca da
instituição, quando o mundo está
há tantos anos patinando nesse
ponto. Qual é a autocrítica?
Thomas - O banco tem melhorado o enfoque sobre o que é o conceito de pobreza nos últimos dez
anos. Deu um enfoque mais concreto ao assunto. Mas os resultados na redução efetiva da pobreza
deveriam ter sido melhores. O
banco e os governos que tomaram empréstimos têm de assumir
essa responsabilidade. Acho que
o banco pode obter melhores resultados com programas mais
ágeis e menos complicados. E deve operar no sentido de alinhar
melhor seus programas com o
que já está acontecendo e o que há
de disponível nos próprios países.
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