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MERCADO DA FÉ
Personagem "Smilingüido" tem 18 companhias licenciadas; faturamento deste ano deve ser de R$ 12 milhões
Formiga cristã vira mania e atrai empresas
MARCELO PINHO
DA REDAÇÃO
Uma pequena formiga que prega as palavras de Deus e da Bíblia
e vive no formigueiro das "Formigamigas" rende a seus donos R$
10 milhões por ano. O "Smilingüido", personagem ligado a uma
pequena igreja evangélica do Paraná, atrai empresas interessadas
no crescente público evangélico.
Criada em 1980 por um grupo
de amigos evangélicos que procuravam uma forma de transmitir
mensagens bíblicas (leia texto
nesta página), a formiga tem hoje
18 empresas licenciadas, que produzem cerca de 600 produtos. São
capas para caderno, garrafas térmicas, camisas, bermudas, pijamas, canecas, brinquedos, livros,
gibis e álbuns, entre tantos.
Segundo Samuel Eberle, superintendente da Editora Luz e Vida, atual dona dos direitos do personagem e ligada à igreja evangélica do Cristianismo Decidido, o
"Smilingüido" não defende uma
religião específica, mas é muito
popular entre os evangélicos.
"Ele foi criado no seio da igreja e
permaneceu por muito tempo como um ícone evangélico. Mas as
idéias que ele defende, como o
amor a Deus sobre todas as coisas,
o amor ao próximo, extrapolam e
chegam até aos católicos carismáticos", afirma Eberle.
Salto
O salto comercial do "Smilingüido" -que tem esse nome por
cauda de seu aspecto frágil-
ocorreu em 1995, quando foi lançado o primeiro filme com a formiga, em VHS. As pessoas passaram a procurar produtos com as
formigas com o mesmo ímpeto
com o qual os personagens buscam o pote de açúcar. "As pessoas
se identificaram com o "Smilingüido" porque ele é pequeno, frágil, trabalhador", diz Eberle.
A demanda em alta e a crescente
população evangélica despertaram a atenção das empresas, que
passaram a ver na formiga uma
forma de chegar a esse público.
"Identificamos um potencial
enorme de vendas no público
evangélico, que cresce exponencialmente. O "Smilingüido" cai como uma luva para esse público,
porque é um personagem de boa
índole, trabalhador, solidário",
diz Lóester Fragoso, presidente da
Alladim, que produz potes de vidro e garrafas térmicas com a
marca da formiga.
Sem citar números, diz que as
vendas da linha "Smilingüido" estão acima do esperado. Tanto que
já planeja adquirir a licença para
produzir uma linha de produtos
escolares com a formiga.
Em algumas empresas, como a
italiana Panini, que produz álbuns de figurinhas, o volume de
vendas do "Smilingüido" é semelhante ao de marcas como a "Barbie". "Lançamos dois álbuns, vamos lançar mais um neste ano e
planejamos criar uma revista de
atividades para crianças com o
"Smilingüido'", diz Lúcio Flávio,
gerente de marketing da empresa.
Em outra licenciada, a fabricante de roupas Malwee, os produtos
com a marca "Smilingüido" concorrem de igual para igual com
outros licenciados, como a Disney. Em 2004, com uma linha de
sete produtos, a empresa vendeu
200 mil peças em três meses, o que
animou a Malwee a ampliar a previsão de vendas da coleção da primavera para 300 mil peças.
Faturamento
A editora Luz e Vida tem visto
seu faturamento com as vendas
de produtos ligados ao "Smilingüido" crescer, em média, 20% ao
ano. Para 2005, a previsão é chegar a R$ 12 milhões.
Segundo Eberle, parte da renda
obtida com a venda dos produtos
é reinvestida no projeto. Outra
parte é destinada para a Associação das Igrejas do Cristianismo
Decidido e para a Associação
Cristã de Assistência Social.
Apesar de licenciar centenas de
produtos, Eberle diz que a intenção do "Smilingüido" não é ganhar dinheiro, e sim "transmitir
boas mensagens, a palavra de
Deus e passagens da Bíblia."
Por isso, diz Eberle, a editora
privilegia produtos com potencial
para transmitir as mensagens. "Já
desprezamos fraldas descartáveis,
roupas íntimas e até jóias."
Para o presidente da Associação
das Igrejas do Cristianismo Decidido, Josué Brepohl, o lado comercial do "Smilingüido" é necessário para sua manutenção. "O
dinheiro é necessário para divulgar a palavra de Deus."
Exportações
O sucesso do "Smilingüido"
tem ultrapassado as fronteiras do
país. A partir da participação da
editora em feiras literárias internacionais, a empresa começou a
exportar seus produtos em português, espanhol e inglês para mais
de dez países. Entre eles, Argentina, Japão, México, Portugal, Nova
Zelândia, Angola e EUA.
"Nos Estados Unidos, nosso
principal público são os hispânicos e brasileiros, mas queremos
chegar aos americanos", diz Eberle. Para isso, a empresa abrirá um
escritório comercial em Miami no
ano que vem.
Nas exportações, a formiga enfrenta um adversário mais perigoso que o tamanduá, seu algoz nos
quadrinhos: o real forte. "Para a
Argentina fica praticamente inviável vender", diz Eberle.
Ainda assim, a formiguinha parece levar a melhor. De janeiro a
abril deste ano, as vendas externas
subiram 75% em relação ao mesmo período de 2004 e devem chegar a 10% do faturamento.
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