São Paulo, domingo, 10 de julho de 2005

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MERCADO DA FÉ

Personagem "Smilingüido" tem 18 companhias licenciadas; faturamento deste ano deve ser de R$ 12 milhões

Formiga cristã vira mania e atrai empresas

MARCELO PINHO
DA REDAÇÃO

Uma pequena formiga que prega as palavras de Deus e da Bíblia e vive no formigueiro das "Formigamigas" rende a seus donos R$ 10 milhões por ano. O "Smilingüido", personagem ligado a uma pequena igreja evangélica do Paraná, atrai empresas interessadas no crescente público evangélico.
Criada em 1980 por um grupo de amigos evangélicos que procuravam uma forma de transmitir mensagens bíblicas (leia texto nesta página), a formiga tem hoje 18 empresas licenciadas, que produzem cerca de 600 produtos. São capas para caderno, garrafas térmicas, camisas, bermudas, pijamas, canecas, brinquedos, livros, gibis e álbuns, entre tantos.
Segundo Samuel Eberle, superintendente da Editora Luz e Vida, atual dona dos direitos do personagem e ligada à igreja evangélica do Cristianismo Decidido, o "Smilingüido" não defende uma religião específica, mas é muito popular entre os evangélicos.
"Ele foi criado no seio da igreja e permaneceu por muito tempo como um ícone evangélico. Mas as idéias que ele defende, como o amor a Deus sobre todas as coisas, o amor ao próximo, extrapolam e chegam até aos católicos carismáticos", afirma Eberle.

Salto
O salto comercial do "Smilingüido" -que tem esse nome por cauda de seu aspecto frágil- ocorreu em 1995, quando foi lançado o primeiro filme com a formiga, em VHS. As pessoas passaram a procurar produtos com as formigas com o mesmo ímpeto com o qual os personagens buscam o pote de açúcar. "As pessoas se identificaram com o "Smilingüido" porque ele é pequeno, frágil, trabalhador", diz Eberle.
A demanda em alta e a crescente população evangélica despertaram a atenção das empresas, que passaram a ver na formiga uma forma de chegar a esse público.
"Identificamos um potencial enorme de vendas no público evangélico, que cresce exponencialmente. O "Smilingüido" cai como uma luva para esse público, porque é um personagem de boa índole, trabalhador, solidário", diz Lóester Fragoso, presidente da Alladim, que produz potes de vidro e garrafas térmicas com a marca da formiga.
Sem citar números, diz que as vendas da linha "Smilingüido" estão acima do esperado. Tanto que já planeja adquirir a licença para produzir uma linha de produtos escolares com a formiga.
Em algumas empresas, como a italiana Panini, que produz álbuns de figurinhas, o volume de vendas do "Smilingüido" é semelhante ao de marcas como a "Barbie". "Lançamos dois álbuns, vamos lançar mais um neste ano e planejamos criar uma revista de atividades para crianças com o "Smilingüido'", diz Lúcio Flávio, gerente de marketing da empresa.
Em outra licenciada, a fabricante de roupas Malwee, os produtos com a marca "Smilingüido" concorrem de igual para igual com outros licenciados, como a Disney. Em 2004, com uma linha de sete produtos, a empresa vendeu 200 mil peças em três meses, o que animou a Malwee a ampliar a previsão de vendas da coleção da primavera para 300 mil peças.

Faturamento
A editora Luz e Vida tem visto seu faturamento com as vendas de produtos ligados ao "Smilingüido" crescer, em média, 20% ao ano. Para 2005, a previsão é chegar a R$ 12 milhões.
Segundo Eberle, parte da renda obtida com a venda dos produtos é reinvestida no projeto. Outra parte é destinada para a Associação das Igrejas do Cristianismo Decidido e para a Associação Cristã de Assistência Social.
Apesar de licenciar centenas de produtos, Eberle diz que a intenção do "Smilingüido" não é ganhar dinheiro, e sim "transmitir boas mensagens, a palavra de Deus e passagens da Bíblia."
Por isso, diz Eberle, a editora privilegia produtos com potencial para transmitir as mensagens. "Já desprezamos fraldas descartáveis, roupas íntimas e até jóias."
Para o presidente da Associação das Igrejas do Cristianismo Decidido, Josué Brepohl, o lado comercial do "Smilingüido" é necessário para sua manutenção. "O dinheiro é necessário para divulgar a palavra de Deus."

Exportações
O sucesso do "Smilingüido" tem ultrapassado as fronteiras do país. A partir da participação da editora em feiras literárias internacionais, a empresa começou a exportar seus produtos em português, espanhol e inglês para mais de dez países. Entre eles, Argentina, Japão, México, Portugal, Nova Zelândia, Angola e EUA.
"Nos Estados Unidos, nosso principal público são os hispânicos e brasileiros, mas queremos chegar aos americanos", diz Eberle. Para isso, a empresa abrirá um escritório comercial em Miami no ano que vem.
Nas exportações, a formiga enfrenta um adversário mais perigoso que o tamanduá, seu algoz nos quadrinhos: o real forte. "Para a Argentina fica praticamente inviável vender", diz Eberle.
Ainda assim, a formiguinha parece levar a melhor. De janeiro a abril deste ano, as vendas externas subiram 75% em relação ao mesmo período de 2004 e devem chegar a 10% do faturamento.

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