|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LUÍS NASSIF
A Vale e a CSN
Ainda não há clareza nem
na SDE (Secretaria de Direito Econômico) sobre essa
disputa entre a CVRD (Companhia Vale do Rio Doce) e a CSN
(Companhia Siderúrgica Nacional). Como se sabe, a CSN
quer tirar da Vale o direito de
preferência nas vendas de minério da Casa de Pedra e no uso
da ferrovia MRB -que foi assegurado no processo de descruzamento de ações entre o grupo Vicunha e os acionistas
da Vale.
A alegação é que, controlando a produção e a logística, a
Vale teria poder de monopólio
para fixar preços. A Vale sustenta que os preços internos são
fixados tomando-se por base os
preços internacionais menos os
custos de exportação. E que não
há antecedentes, de sua parte,
de abuso do poder de monopólio.
O relevante na discussão é saber qual o interesse nacional,
que é representado por dois
vértices: a atração de investimentos para o país, visando
transformá-lo em um pólo siderúrgico relevante; e a garantia
de suprimento interno em condições vantajosas para os consumidores.
O minério da Vale é suficiente para uma produção de 200
mil toneladas de aço ao Brasil.
No entanto por aqui se produzem apenas 33 mil toneladas.
Sua estratégia é estimular o aumento da produção siderúrgica
interna, participando até como
sócio minoritário de qualquer
empreendimento. Considera
que o Brasil tem posição privilegiada, com minérios de alta
qualidade, integrados por uma
cadeia logística adequada. Está
perto de um grande mercado
consumidor de placas -os Estados Unidos. Como há dificuldades para a exportação de minérios para lá, o caminho é ampliar as exportações de placas.
Se, de alguma forma, o Brasil
não se firmar como pólo de produtos siderúrgicos e os chineses
tiverem acesso ao minério brasileiro, o país se tornará mero
centro de custos para a China,
opina a Vale.
Na primeira etapa do trabalho, a Vale diz que tentou convencer seus maiores clientes
-a Usiminas e a CST (Companhia Siderúrgica de Tubarão)- a ampliar a produção.
Controlada por japoneses, a
Usiminas não demonstrou interesse. A CST já está investindo em um terceiro forno. Os demais produtores brasileiros
não tiveram interesse, a não ser
em parcerias para a compra de
ativos já existentes -o que não
agregaria nada à produção interna. A saída foi buscar parceiros de fora.
Já os argumentos da CSN são
de outra ordem. Do ponto de
vista de lógica de empresa, é se
tornar uma mineradora e agregar valor ao seu negócio, por
meio do aumento de exportações. Está investindo US$ 1 bilhão no negócio de mineração.
Do ponto de vista nacional, é
mais relevante criar um pólo de
exportação de produtos de
maior valor agregado. A alegação da CSN é que a manutenção do monopólio pela Vale espantaria sócios, já que não haveria controle sobre preços, tarifas e portuárias. Mas ainda
não explicitou sua estratégia de
atrair novas siderúrgicas, o que
aumenta o risco de, agregando
valor, utilizá-lo como trampolim para impulsionar negócios
no exterior.
E-mail - Luisnassif@uol.com.br
Texto Anterior: Análise: Resultado reforça tese de queda dos juros Próximo Texto: Economia global: EUA mantêm "moderação" e elevam juro pela 10ª vez Índice
|