São Paulo, Terça-feira, 10 de Agosto de 1999
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COMMODITIES

Acordo para a redução de cotas de produção sustenta a valorização externa

Petróleo atinge cotação mais alta em dois anos

LUCIA REGGIANI
da Reportagem Local

O petróleo disparou ontem no mercado internacional. O barril do tipo brent fechou a US$ 20,51 em Londres, a mais alta cotação desde outubro de 1997, numa valorização de 2,2% sobre o preço da última sexta-feira.
A alta contínua dos preços do petróleo vem sendo sustentada por alguns fatores que surpreenderam os analistas. O mais importante é a firmeza com que os países produtores estão mantendo o acordo de redução de produção acertado em março passado.
Outra surpresa foi o comportamento das refinarias européias diante do aumento da demanda por combustíveis neste verão. Habitualmente muito competitivas, essas empresas preferiram engordar suas margens de lucro a ocupar os 20% de capacidade ociosa.
"Nem a Opep (Organização dos Países Produtores de Petróleo) nem as refinarias européias conseguiam se disciplinar para manter acordos como estão fazendo agora", avalia Edmilson Moutinho dos Santos, professor de economia do petróleo da USP (Universidade de São Paulo).
Também contribui para a alta dos preços a recuperação econômica dos países asiáticos. A crise asiática, que explodiu em 1997, durou menos do que o previsto, dando fôlego aos produtores.
Para o consumidor brasileiro, a alta lá fora significa combustível mais caro aqui dentro no curto prazo. Até porque o governo se comprometeu com o FMI (Fundo Monetário Internacional) a manter a conta-petróleo equilibrada.
No médio prazo, o professor Santos considera uma boa oportunidade para a ANP (Agência Nacional do Petróleo) fazer uma nova rodada de licitações de áreas para exploração.
"O resultado da primeira licitação (realizada em junho) foi modesto. Só não foi um fracasso porque a Petrobrás ficou com várias áreas. Como o preço do petróleo está bom, a hora de leiloar é agora", afirma.
Na avaliação do professor da USP, as cotações do óleo cru podem subir um pouco mais, por conta da posição de Noruega, México e Rússia. Esses países não fazem parte da Opep, mas são os mais firmes na redução de cotas de produção.
O Banco Mundial, em um informe divulgado na última quinta-feira, avalia que "uma produção maior da Opep poderia ser necessária no inverno deste ano para evitar alta de preços".
Entre as pressões de alta previstas pela instituição está o medo da virada do ano 2000, que pode levar consumidores, refinarias e distribuidores de petróleo a acumular estoques preventivos.
Mesmo assim, o mercado não acredita que o barril passe de US$ 23. Nessa faixa, o petróleo encontra competidores como o álcool, a energia eólica e o gás natural.
Se o inverno europeu deste ano for ameno como nos três últimos, as cotações tendem a cair. Mas não se pode esperar queda abaixo de US$ 15, porque afastaria investimentos e causaria conflitos políticos nos países produtores.
A possibilidade de um terceiro choque do petróleo, como os que ocorreram nos anos 70 e 80, é tida como remota pelos analistas.
A maior fonte de atrito, no momento, são os pequenos produtores de petróleo norte-americanos. Eles acusam Venezuela, Arábia Saudita e México dumping e podem levar o governo dos EUA a estabelecer cotas de importação.
O que ninguém se arrisca a prever é quando a Opep vai considerar os preços suficientes. A resposta fica para a reunião semestral da organização, marcada para 22 de setembro.


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