|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
COMMODITIES
Acordo para a redução de cotas de produção sustenta a valorização externa
Petróleo atinge cotação mais alta em dois anos
LUCIA REGGIANI
da Reportagem Local
O petróleo disparou ontem no
mercado internacional. O barril
do tipo brent fechou a US$ 20,51
em Londres, a mais alta cotação
desde outubro de 1997, numa valorização de 2,2% sobre o preço
da última sexta-feira.
A alta contínua dos preços do
petróleo vem sendo sustentada
por alguns fatores que surpreenderam os analistas. O mais importante é a firmeza com que os
países produtores estão mantendo o acordo de redução de produção acertado em março passado.
Outra surpresa foi o comportamento das refinarias européias
diante do aumento da demanda
por combustíveis neste verão. Habitualmente muito competitivas,
essas empresas preferiram engordar suas margens de lucro a ocupar os 20% de capacidade ociosa.
"Nem a Opep (Organização dos
Países Produtores de Petróleo)
nem as refinarias européias conseguiam se disciplinar para manter acordos como estão fazendo
agora", avalia Edmilson Moutinho dos Santos, professor de economia do petróleo da USP (Universidade de São Paulo).
Também contribui para a alta
dos preços a recuperação econômica dos países asiáticos. A crise
asiática, que explodiu em 1997,
durou menos do que o previsto,
dando fôlego aos produtores.
Para o consumidor brasileiro, a
alta lá fora significa combustível
mais caro aqui dentro no curto
prazo. Até porque o governo se
comprometeu com o FMI (Fundo
Monetário Internacional) a manter a conta-petróleo equilibrada.
No médio prazo, o professor
Santos considera uma boa oportunidade para a ANP (Agência
Nacional do Petróleo) fazer uma
nova rodada de licitações de áreas
para exploração.
"O resultado da primeira licitação (realizada em junho) foi modesto. Só não foi um fracasso porque a Petrobrás ficou com várias
áreas. Como o preço do petróleo
está bom, a hora de leiloar é agora", afirma.
Na avaliação do professor da
USP, as cotações do óleo cru podem subir um pouco mais, por
conta da posição de Noruega, México e Rússia. Esses países não fazem parte da Opep, mas são os
mais firmes na redução de cotas
de produção.
O Banco Mundial, em um informe divulgado na última quinta-feira, avalia que "uma produção
maior da Opep poderia ser necessária no inverno deste ano para
evitar alta de preços".
Entre as pressões de alta previstas pela instituição está o medo da
virada do ano 2000, que pode levar consumidores, refinarias e
distribuidores de petróleo a acumular estoques preventivos.
Mesmo assim, o mercado não
acredita que o barril passe de US$
23. Nessa faixa, o petróleo encontra competidores como o álcool, a
energia eólica e o gás natural.
Se o inverno europeu deste ano
for ameno como nos três últimos,
as cotações tendem a cair. Mas
não se pode esperar queda abaixo
de US$ 15, porque afastaria investimentos e causaria conflitos políticos nos países produtores.
A possibilidade de um terceiro
choque do petróleo, como os que
ocorreram nos anos 70 e 80, é tida
como remota pelos analistas.
A maior fonte de atrito, no momento, são os pequenos produtores de petróleo norte-americanos.
Eles acusam Venezuela, Arábia
Saudita e México dumping e podem levar o governo dos EUA a
estabelecer cotas de importação.
O que ninguém se arrisca a prever é quando a Opep vai considerar os preços suficientes. A resposta fica para a reunião semestral da organização, marcada para
22 de setembro.
Texto Anterior: Opinião econômica - Benjamin Steinbruch: Quem acreditar verá! Próximo Texto: Crise: FMI quer ajuste com candidato argentino Índice
|