São Paulo, Terça-feira, 10 de Agosto de 1999
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OPINIÃO ECONÔMICA

Quem acreditar verá!

BENJAMIN STEINBRUCH

Nem mesmo acaba de ocorrer uma reforma ministerial -que aliás, todos acharam extremamente positiva para o governo e para o país- e já começam os derrotistas de sempre a falar da próxima mudança de ministros, que, segundo eles, ocorrerá em breve. Mal passamos pelo grande trauma da desvalorização do real, sem que tenha sido possível ainda aferir a extensão das vantagens e desvantagens do câmbio flutuante, para ver que, em notinhas, artigos e até em entrevistas, já se fala que uma nova máxi virá em breve.
O Congresso voltou a funcionar após o recesso e as dificuldades políticas parecem intransponíveis, levando a todos o receio de que não sejam aprovadas as reformas que viabilizarão o Brasil moderno. As coisas internas nem mesmo pioraram. Pelo contrário, melhoraram bastante, se considerarmos a dinamização do mercado interno, as reduções das taxas de juro, a não-recessão e a não-volta da inflação. Apesar disso, os semeadores de catástrofes já prometem desastres no Brasil e, de quebra, fazem a apologia do fim do mundo, com data certa, amanhã, quarta-feira, dia do eclipse final.
Para onde estamos querendo ir, ou melhor, para onde querem nos levar? Já passamos por momentos muito piores e nada como o dia após dia para observarmos que estamos vivos, trabalhando, produzindo e prontos para olharmos para a frente, com otimismo, esperando um futuro muito melhor.
É claro que as dificuldades são muitas e complicadas, mas temos que separar aquilo que nos compete fazer e temos que viabilizar aquilo que devemos esperar e torcer para que aconteça no momento certo. Misturando as duas coisas, vamos acabar não fazendo o que deveria ser feito, que depende só de nós, e de outra parte não permitiremos que o resto aconteça justamente por não termos feito aquilo que dependia somente de nosso exemplo e de nosso apoio. A confusão parece total. Mas a quem ela interessa? Vamos nos deixar abater pelo pessimismo ou vamos arregaçar as mangas e trabalhar por um Brasil melhor?
Somos todos brasileiros, nascemos aqui, moramos aqui, temos nossas famílias em nossa volta e não podemos nem devemos permitir que o futuro de toda essa gente querida, os próximos e os distantes, seja ditado pelos profissionais do pessimismo, os promotores da notícia ruim, do desânimo, da desmotivação.
No Brasil antigo é que tinha sentido colocar todas as culpas e responsabilidades no governo. E só creditar sucessos ao cidadão, à empresa e à iniciativa privada. A nova sociedade não aceita isso.
Essa nova sociedade permite, e até mesmo exige, que a crítica seja construtiva, seja intensa. Mas também exige seriedade nas críticas, realismo nos posicionamentos. Ela é a maioria silenciosa que não encontrou, ainda, os canais necessários para a sua representação política, como bem disse o presidente em sua entrevista a "O Globo" neste domingo, que tanto repercutiu.
Diante da nova sociedade, cada um precisa fazer a sua parte e estimular os outros a realizar o que lhes compete. O conceito da solidariedade é essencial. Ele se lastreia nos avanços já conseguidos e estimula as caminhadas positivas que todos devem empreender.
Muita coisa tem que ser feita, é verdade, muitos problemas têm que ser encarados de frente e resolvidos, mas e daí? O que não podemos perder é o senso de responsabilidade com a gente mesmo, e com o próximo, de lutarmos juntos para fazer deste país o melhor em tudo, para viver bem e ser feliz. Isso vale para todos nós. Temos uma longa caminhada a fazer, certamente cheia de dificuldades, mas e daí? Vamos empreendê-la. Quem acreditar verá!


Benjamin Steinbruch, 45, empresário, graduado em administração de empresas e marketing financeiro pela Fundação Getúlio Vargas (SP), é presidente dos conselhos de administração da Companhia Siderúrgica Nacional e da Companhia Vale do Rio Doce.
E-mail: bvictoria@psi.com.br



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