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São Paulo, quarta-feira, 10 de setembro de 2003

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LUÍS NASSIF

As hipóteses de Pérsio

Até agora, o diagnóstico mais objetivo e cartesiano sobre a disfuncionalidade da política econômica em vigor desde os anos 90 é do economista Yoshiaki Nakano. Recentemente,Pérsio Arida trouxe novos elementos à discussão, aparentemente em sintonia com Edmar Bacha -seu colega de Plano Real.
Os três concordam em que o modelo atual de taxas de juros elevadas e câmbio baixo é disfuncional. Sabem que romper esse modelo é essencial para a retomada do desenvolvimento. A discordância surge na definição das causas dessa distorção e na maneira de romper esse nó górdio. O pensamento de Nakano já foi exposto na coluna e em sucessivas entrevistas dele, inclusive o moto-contínuo da crise: crise cambial, inflação, aumento de juros, novo afluxo de capital de risco, resultando em nova crise.
O diagnóstico de Pérsio é que a economia tem uma taxa de juros de equilíbrio alta. Quando a taxa cai abaixo desse equilíbrio, deflagra um movimento de alta de preços na economia.
No governo passado, os erros de implementação de política econômica praticamente liquidaram com pequenas e médias empresas do setor formal. Restaram as pequenas e micro informais e as grandes empresas, que conseguiram, por meio do poder de cartel, garantir sua sobrevivência. São essas empresas que definem o ritmo de preços da economia, com suas expectativas monitoradas pelos movimentos das taxas de juros de longo prazo.
A taxa de juros de equilíbrio elevada, segundo ele, refletiria as perdas que essas empresas tiveram em outros momentos, com a ameaça de "default" da dívida brasileira.
A maneira de derrubar a taxa de juros de equilíbrio, segundo ele, seria a plena conversibilidade. As empresas teriam a tranquilidade de que não haveria o chamado risco soberano, ou seja, ausência de dólares para poder cumprir seus compromissos externos.
Com isso, Pérsio supõe que o capital fluiria mais rapidamente para o país, sem a necessidade de esperar grandes momentos de arbitragem, quando os ativos ficam bastante depreciados, para entrar e sair. E aceitariam uma taxa de risco menor.
Pérsio desconfia -faz questão de afirmar que não dispõe de certezas sobre o tema- de que, em um ambiente de plena conversibilidade, o dólar tenderia a buscar uma taxa de equilíbrio mais alta, com o real mais desvalorizado. Com a conversibilidade, o BC monitoraria o nível do câmbio de forma transparente, por meio da acumulação ou venda de reservas. E não de forma "suja", como faz hoje, com emissão de títulos cambiais e outros expedientes.
Há um conjunto grande de indagações a serem respondidas. A primeira é que a observação da economia demonstra que todos os movimentos de alta de preços foram deflagrados por crises cambiais, e não por redução da taxa de juros real.
O segundo ponto é que, com a sucessão de crises cambiais que vêm machucando a economia nos últimos anos, como analisar taxa de equilíbrio se nem há histórico de equilíbrio?
De qualquer modo, com suas indagações, Pérsio introduz elementos na discussão que permitem avançar além das planilhas.

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