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LUÍS NASSIF
As hipóteses de Pérsio
Até agora, o diagnóstico
mais objetivo e cartesiano
sobre a disfuncionalidade da
política econômica em vigor
desde os anos 90 é do economista Yoshiaki Nakano. Recentemente,Pérsio Arida trouxe novos elementos à discussão, aparentemente em sintonia com
Edmar Bacha -seu colega de
Plano Real.
Os três concordam em que o
modelo atual de taxas de juros
elevadas e câmbio baixo é disfuncional. Sabem que romper
esse modelo é essencial para a
retomada do desenvolvimento.
A discordância surge na definição das causas dessa distorção e
na maneira de romper esse nó
górdio. O pensamento de Nakano já foi exposto na coluna e em
sucessivas entrevistas dele, inclusive o moto-contínuo da crise: crise cambial, inflação, aumento de juros, novo afluxo de
capital de risco, resultando em
nova crise.
O diagnóstico de Pérsio é que
a economia tem uma taxa de juros de equilíbrio alta. Quando a
taxa cai abaixo desse equilíbrio,
deflagra um movimento de alta
de preços na economia.
No governo passado, os erros
de implementação de política
econômica praticamente liquidaram com pequenas e médias
empresas do setor formal. Restaram as pequenas e micro informais e as grandes empresas, que
conseguiram, por meio do poder
de cartel, garantir sua sobrevivência. São essas empresas que
definem o ritmo de preços da
economia, com suas expectativas monitoradas pelos movimentos das taxas de juros de
longo prazo.
A taxa de juros de equilíbrio
elevada, segundo ele, refletiria
as perdas que essas empresas tiveram em outros momentos,
com a ameaça de "default" da
dívida brasileira.
A maneira de derrubar a taxa
de juros de equilíbrio, segundo
ele, seria a plena conversibilidade. As empresas teriam a tranquilidade de que não haveria o
chamado risco soberano, ou seja, ausência de dólares para poder cumprir seus compromissos
externos.
Com isso, Pérsio supõe que o
capital fluiria mais rapidamente para o país, sem a necessidade
de esperar grandes momentos
de arbitragem, quando os ativos
ficam bastante depreciados, para entrar e sair. E aceitariam
uma taxa de risco menor.
Pérsio desconfia -faz questão de afirmar que não dispõe
de certezas sobre o tema- de
que, em um ambiente de plena
conversibilidade, o dólar tenderia a buscar uma taxa de equilíbrio mais alta, com o real mais
desvalorizado. Com a conversibilidade, o BC monitoraria o nível do câmbio de forma transparente, por meio da acumulação
ou venda de reservas. E não de
forma "suja", como faz hoje,
com emissão de títulos cambiais
e outros expedientes.
Há um conjunto grande de indagações a serem respondidas.
A primeira é que a observação
da economia demonstra que todos os movimentos de alta de
preços foram deflagrados por
crises cambiais, e não por redução da taxa de juros real.
O segundo ponto é que, com a
sucessão de crises cambiais que
vêm machucando a economia
nos últimos anos, como analisar
taxa de equilíbrio se nem há histórico de equilíbrio?
De qualquer modo, com suas
indagações, Pérsio introduz elementos na discussão que permitem avançar além das planilhas.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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