São Paulo, domingo, 10 de setembro de 2006

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Exportação de serviços tecnológicos impulsiona economia da Índia

Setor responde por parcela maior do PIB do que indústria e agricultura; empresas estrangeiras buscam mão-de-obra barata do país, como a dos call centers

Namas Bhojani/Bloomberg News
Funcionários na Infosys, na Índia; empresa, que emprega 52 mil, tem 90% do faturamento proveniente da exportação de serviços


CLÁUDIA TREVISAN
ENVIADA ESPECIAL A HYDERABAD (ÍNDIA)

Com 52 mil funcionários e faturamento de US$ 2,15 bilhões, a Infosys é uma das empresas que transformaram a expressão "outsourcing" em sinônimo de Índia quando o assunto é a prestação de serviços tecnológicos.
Fundada em 1981, a companhia aumentou seu faturamento em 8.000% nos últimos dez anos e prevê novo salto de 40% no ano fiscal 2006/2007, que termina em março, período no qual suas vendas devem atingir US$ 3 bilhões (R$ 6,9 bilhões).
A Infosys é uma das empresas protagonistas da revolução que transformou o setor de serviços no motor da economia da Índia e permitiu que o país crescesse a uma média de 6% ao ano desde o começo dos anos 1990 -em 2004 e 2005, a expansão foi de 8%.
O boom das empresas tecnológicas foi iniciado com os STPI (Parques de Tecnologia de Software na Índia, na sigla em inglês), criados pelo governo em 1991, com as reformas que abriram e liberalizaram a economia.
Essa política dá infra-estrutura e isenção de impostos para empresas que sejam exportadoras líquidas, o que as levou a focar em clientes no exterior.
No caso da Infosys, 90% da receita vem da exportação de serviços. Outros fatores que explicam a expansão das companhias tecnológicas são a mão-de-obra barata e o uso da língua inglesa por grande parte dos indianos.
O fortalecimento do setor tecnológico deu à economia da Índia uma estrutura atípica para um país em desenvolvimento, que ainda luta para tirar 300 milhões de pessoas da pobreza extrema.
O setor de serviços indiano responde por 54% do PIB (Produto Interno Bruto), seguido pela indústria (26%) e pela agricultura (20%).

Tecnologia e caos
As áreas em que as empresas de tecnologia estão instaladas são como enclaves futuristas em meio ao caos que caracteriza a maioria das cidades da Índia. O principal pólo fica na cidade de Bangalore, sede da Infosys e da Tata, a líder do setor.
Mas a rival Hyderabad tem fortalecido seus músculos, com o desenvolvimento da região batizada de Cyberabad, onde a Microsoft tem seu segundo maior centro de desenvolvimento do mundo.
A poucos metros da empresa norte-americana fica a filial da Infosys, a terceira maior operação da empresa na Índia. São 14 edifícios, um dos quais totalmente dedicado à recreação dos 7.000 funcionários, com mesas de sinuca, sala de ginástica, aparelhos de musculação e quartos para sestas.
Ao ar livre, uma enorme piscina, quadras de tênis e um teatro em forma de arena, cercados por jardins impecáveis. Nos escritórios, os milhares de funcionários desempenham algumas das inúmeras formas em que o "outsourcing" ocorre.
Em linhas gerais, esses trabalhadores realizam serviços que empresas localizadas em outros países decidem transferir para a Índia, onde a mão-de-obra é mais barata. É como se trabalhassem em um dos departamentos de seus clientes.
A manifestação mais banal desse processo são os call centers, nos quais indianos atendem chamadas e resolvem problemas de pessoas que estão na Europa ou nos EUA. Mas há "outsourcing" de folha de pagamento, contabilidade, vendas, arquivo de dados etc.

Serviço tecnológico
As empresas indianas também desenvolvem soluções tecnológicas para problemas específicos de seus clientes nos países desenvolvidos. Narsimha Rao Mannepalli, que dirige a Infosys na localidade indiana de Hyderabad, lembra que a Toshiba tinha dificuldades para controlar estoques em diferentes países em tempo real.
A empresa indiana então desenvolveu e implementou um software pelo qual os gerentes da Toshiba ao redor do mundo podem ter acesso a informações sobre o estoque e detectar a cidade mais próxima para fornecer os produtos de que eles precisam.
Listada na Bolsa eletrônica Nasdaq desde 1999, a Infosys tem um valor de mercado que variou no ano passado de US$ 16 bilhões a US$ 20 bilhões, dependendo do comportamento do mercado acionário ao longo do ano.
Do total de seu faturamento, 65% vêm dos Estados Unidos, 25% da Europa e 10% da Índia e de outros países.
O crescimento da companhia é acompanhado de saltos no seu número de trabalhadores. Entre os anos fiscais de 2005 e 2006, o total de funcionários da Infosys aumentou em 16 mil, para 52 mil.
Para o ano fiscal atual, que termina em março de 2007, a previsão é de aumento de 25 mil pessoas, o que elevará o número de empregados a 77 mil.

A jornalista CLÁUDIA TREVISAN viajou a convite do governo da Índia


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